quinta-feira, junho 30, 2005

DIVAGAÇÕES

O fumo sai muito hirto do cigarro que mantenho aceso no cinzeiro. Espreguiça-se e entra em espiral, perdendo-se no ar… Tem uma cor cinzento azulada e até parece inofensivo… e eu continuo a olhá-lo, fascinada, como se estivesse a ver o teu olhar a espraiar-se pelo monte acima, pintalgado de verdes, em terras desconhecidas… cheias de plantas silvestres… mas não vou fumar… apenas olho o fumo que deste cigarro se vai diluindo pela atmosfera…

O meu pensamento assim se vai esvaindo, como o do cigarro, numa imensa espiral de recordações bem presentes, que não sei bem se quero esquecer ou manter bem fixas.

Agora a cinza, cinzento-escuro, é um cilindro longo, estendida pelo cinzeiro, onde poisa o cigarro que acendi, para me recordar de ti… e não me esquecer do que um dia prometi…

E voltando ao meu pensamento, retomo a sequência da ambígua trivialidade que nos levou a um silêncio, que nenhum quer quebrar… cada um pensa ter as suas razões, o que não estará errado, se, cada um não quiser ver o lado do outro… muito embora reconheça que, quem cede é o mais inteligente…

Crê, até darei a primazia, para não te sentires culpado de uma nova confusão que estabeleceste, por não quereres ver as coisas à luz da razão… é inadmissível ir festejar com alguém que acaba de ofender a quem chamamos de amigo!

Até quem deveria estar ofendida e magoada era eu… mas não faz mal… só agimos dentro do prisma que pressupostamente nos afecta… compreendo… se me posicionasse nessa vertente, possivelmente agiria da mesma maneira…ou pior… porque gosto demasiado de mim para me mandarem indirectas de mexeriqueirices… mas que já esqueci… “vozes de burro não chegam ao Céu”, lá diz o ditado…

30.06.05

domingo, junho 26, 2005

DESAFIOS

Enquanto a água do duche escorria pelo meu corpo, deixando-me numa semi letargia, fechei os olhos e passou todo o quadro daquela noite no Mr. Pckuick.

… Entrámos. Uma obscuridade avermelhada envolvia o ambiente, rodeando-nos como se estivéssemos envolvidos numa nuvem cor-de-rosa escuro. Sentámo-nos a um canto da sala, enquanto o aprazível som das teclas de um piano, colocado no centro da sala, deixava que um pianista da noite fizesse ressoar o tema de Casa Blanca.

Quando segredaste qualquer coisa ao pianista, confesso que não gostei, mas quando os primeiros acordes da Fascinação ecoaram pela sala, que tinha as mesas quase todas ocupadas, senti-me levitar… e quando começaste a cantar-me ao ouvido o poema Fascination, elevei todo o meu espírito ao Universo, num pleno reconhecimento por tão belo e indescritível momento… Como foi belo!!!

Os teus lábios macios roçavam suavemente pelo lóbulo da minha orelha direita com tal doçura, que mais pareciam as penas das asas de um anjo… as tuas mãos apertavam as minhas, abandonadas no meu regaço, com uma suavidade tal, que pareciam tufos de veludos a acariciarem-me…que magnifica noite passámos…

Não sei quanto tempo estive debaixo do duche. Apenas sei que o sol ia alto quando saí do banheiro…

Quando se recordam fragmentos de pedaços da vida, que poderiam ter sido verdadeiros momentos inolvidáveis, sentimos renascer o desejo de revivê-los…mesmo a sonhar…

25.06.05

sábado, junho 25, 2005

DESISTI!

Os passos tornaram-se lentos. A incerteza dominou o pensamento e a tristeza passou a reinar como única realidade… A solidão é o reino onde habito… Desisti!

Os vagos sons que ainda oiço na distância, entre a existência e a inexistência, vão sumindo e como uma árvore seca num deserto imenso, apenas sou o poiso de pássaros perdidos, dos bandos emigrantes, que em pios de morte, se despedem dos que já não verão mais…

Lutei pelo desconhecido. Idealizei sonhos de perdição. Conjecturei, prometi, enfim… deixei-me iludir pela própria ilusão… e um dia desisti. Apenas desisti!

Desisti de esperar que batesses à minha porta. Desisti de esperar que o telefone tocasse…desisti de esperar pelos teus escritos…que haviam sido tão maravilhosos… desisti, quando percebi que um bando de gente te interessava mais, que te bajulava mais, que te davam mais amor do que o que eu te poderia dar… desisti porque eu era zero…e então desisti…Desisti!

Desisti, porque foram falsos os momentos que juntos programávamos um dia… desisti, porque partiste sem um olhar, um adeus. Desisti!

Desisti de olhar para a tua fotografia. Desisti de recordar os teus olhos, em olhares melosos, como que pondo o mundo a meus pés… desisti! Curiosa paixão… Um sopro de vento numa manhã de estio… Desisti porque não valia nada para ti…desisti!

Desisti de contar as pulsações, pensando que era o momento chegado. Desisti de sentir as pulsões que só o amor deixa nos interiores do nosso ser…porque desisti.

Desisti porque, cobardemente, abandonaste o mais belo sentimento que o ser humano pode ter, para seguires pelos trilhos de que te querias libertar e nem me disseste adeus…nem o até sempre de sempre…desisti.

Desisti porque a quem se ama não se demonstra indiferença. Não se corta a palavra. Não se despreza. Não se ignora as suas dores, não se inventam baluartes intransponíveis, para dissimular a realidade. Por tudo isto desisti… Curiosa paixão… Afrodite, estátua de pedra, muito bela…mas não dá afeição… Vénus! Todas as deusas do Olimpo te saudaram ao chegares?!!! E eu desisti…

Desisti. Apenas desisti. Desisti de ser eu. Desisti do eu que te amava. Desisti do eu que jamais deixou de pensar em ti um único minuto. Desisti porque os meandros de uma demência me apavoraram…temi o momento final, que está dolorosamente passando… e nem uma única vez olhaste para trás para acenar…como havias feito antes… por tudo isto desisti…

Desisti de pensar que o amor existe. Desisti de pensar que me poderia abençoar, com todas as maravilhas que o amor pode dar…desisti!

Desisti de querer. Desisti de acreditar. Desisti de ti. Desisti de mim… Desisti: Desisti de viver…



25.06.05

quinta-feira, junho 23, 2005

MOMENTOS DO FIM

Vou a caminhar. Caminho sem parar. Caminho com os olhos postos numa distância incomensurável. Caminho em direcção ao além, sem nunca chegar. Procuro sem encontrar o que jamais idealizei… por cada rosto com que me cruzo vejo o teu e procuro aproximar-me e triste, reconheço que apenas tive uma miragem…

No lago do jardim pareceu-me ver o teu rosto. Que loucura! Apenas foi um ramo reflectido na água. Continuo a caminhar e sem parar pressinto que a sombra que me segue és tu, mas apenas umas folhas ressequidas deslizaram, empurradas pela brisa da tarde…

E pelos meus interiores jorram rios de lágrimas que não verto. Por todo o meu eu vai correndo uma dor sem limites e inexplicável. Continuo a caminhar e parece-me ver ao fundo da avenida o lugar aprazível onde te encontras. É o lugar nenhum, mas para onde corro quase desesperada… É isso! Corro para o lugar inexistente, para te procurar. Quero que guardes o que de mim resta, pois tu e só tu, poderás guardar o que restar de mim…a recordação de mim…nada mais do que a recordação…

Outro golpe de tristeza abateu sobre o tanto desespero que já sentia. Desmoronou-se o que restava, dos escombros restantes, desta estátua que fui… já apenas existem pequenos pedaços, um amontoado de destroços… O corpo que foi corpo, de cepo chamado, não respondeu… nada responde e tu, no infinito de uma avenida do lugar nenhum não és ninguém…

O grito que quis gritar afogou-se no turbulência da onda que se espraiou na praia do nunca e sem chegar a um destino…estou a chegar ao lugar nenhum, sem ninguém e o adeus perder-se-à num silêncio sepulcral… Sem ser nada, nada serei, porque nada fui…

22.06.05

terça-feira, junho 21, 2005

UM IDOLO - JEAN-PAUL SARTRE

A 21 de Junho começa o Verão! As temperaturas que têm vindo a subir, manter-se-ão por mais ou menos três meses, possibilitando o que muitos chamarão os devaneios de verão… passear…comer…ir à praia ou ao campo… e sobretudo não pensar… como aliás, nas restantes estações do ano.

Afortunadamente, por esse mundo fora, tem havido excepções, ou melhor, tem sempre havido excepções e há quem pense todos os dias da sua existência. Foi o que fez Jean-Paul Sartre.

Jean-Paul Sartre é sem dúvida um exemplo de intelectualidade a seguir. Faz hoje, precisamente, cem anos que nasceu este Homem genial, de capacidades extra comuns e que marcou o início de uma época. Explicou dentro de parâmetros muito seus, pontos de vista que, minuciosamente observava e estudava de seus contemporâneos. Com a sua morte, em 1980, perdeu-se mais um pensador da Filosofia actual, além de excelente no campo literário, em temas profundos, como o é a existência humana. Sartre tinha uma imaginação criativa, expondo-a muito particularmente, tal como no excerto seguinte observaremos:”

…“A Filosofia aparece a alguns como um meio homogéneo: os pensamentos nascem nele, morrem nele, os sistemas nele se edificam para nele se desmoronar. Outros consideram-na como certa atitude cuja adopção estaria sempre ao alcance de nossa liberdade. Outros ainda, como um sector determinado da cultura. A nosso ver, a Filosofia não existe; sob qualquer forma que a consideremos, essa sombra da ciência, essa eminência parda da humanidade não passa de uma abstracção de hipocrisias.”

O texto acima constitui as linhas iniciais do livro Questão de Método, escrito, paradoxalmente, por um homem que jamais deixou de fazer de todos os momentos de sua vida, uma permanente reflexão sobre os problemas fundamentais da existência humana.

Há a salientar que Sartre e a obra sofreram influência da Segunda Guerra Mundial.

Do ponto de vista estritamente filosófico, o itinerário do pensamento de Sartre inicia-se com A Transcendência do Ego, A Imaginação, Esboço de uma Teoria das Emoções e O Imaginário.

Bem-haja! Ainda bem que se deixou nascer……

21.06.05

domingo, junho 19, 2005

CONFIDENCIALIDADES E CUMPLICIDADES!

Nem a suave brisa que sobra por esta noite dentro proporciona o tão desejado bem-estar, pelo qual tanto anseio. Estou impaciente e sinto um torvelinho de ideias a emaranharem-se em absurdos pensamentos, acompanhados de acelerações constantes na pulsação.

Jamais deveria ter confidenciado o que em rios de irónicos desesperos me foi atrofiando o pensamento e conduzindo-me a momentos de revolta, transportando-me a mares de solidão, cheios de sons de sereias, rindo do meu soluçar desesperado…

A imaturidade desconcertante com que abri a intimidade dos meus sentimentos, deixa-me à deriva numa orbita incomensurável de destino incerto… Fiquei de repente presa à atracção de astros que poderão ser-me fatais… Indefesa, assustada, indubitavelmente perdida… entre sentimentos que poderão jogar-me em cartadas arriscadas…à mercê da incógnita de uma inequação irresolúvel…

Simultaneamente e sem precedentes, deixei que um elo, me ligasse a ilusões que poderão nem sequer ter significado… apenas ao fenómeno biológico que se operou em mim… a descoberta da realidade que não fora mais do que imaginação até então… Desconcertante!

Mas as confidencialidades trazem cumplicidades… e nem sei se desejaria que houvesse quem partilhasse de meus pensamentos e muito menos das reacções tão desmedidamente belas, que me transportaram ao reino das sensações que as pulsões proporcionam…

O deuses do Limbo gargalharam e Zeus não deixou de fazer soar o ribombar dos seus tambores a anunciarem os festejos de tão gloriosa sensação… Abriu-se o imenso manto de nuvens que cobriam todo o Universo e as estrelas em cadenciadas coreografias dançaram, deixando que sombras fantasmagóricas fizessem desenhos de luz e sombra, quando cruzavam o clarão da lua cheia…

E eis que de olhos presos num imenso fogo de artifício me rendo, num misto de loucura e êxtase… confidenciando que sou mais um demente, entre os demais…

18.06.05

sábado, junho 18, 2005

DEPOIS DO NADA…

A ideia do dia de ontem é ser… assim como o devaneio imaginário sobre um ser inexistente… O inexistente é ser e nada simultaneamente… é assim que te tenho na minha ideia… e a ideia é o lugar especulativo no qual se recolhe toda a realidade…que não sendo, és a minha realidade…e como sendo, és, portanto pensado, então és um conceito, e, como tal tens de ser realizado! Mas não sei realizar-te!!! Não consigo encontrar a formula para que a minha ideia seja a realidade real, efectiva! Passar-te do pensamento para a realidade, eis a questão… e nesta amálgama confusa de considerandos filosóficos, diante de uma barra de chocolate, para colmatar a lacuna de não sentir sentindo a realidade verdadeira e eis que deixo fluir a corrente do pensamento como se este estivesse em uníssono com o teu e que ambos estivéssemos no exótico planeta da probabilidade… que não existindo deveria existir, para que pudesse procurar-te… se deixasses que te encontrasse…


18.06.05

quinta-feira, junho 16, 2005

NUNCA ENVIEI!

Manuela,

Queria tanto que te acalmasses… Não sejas tão intransigente, nem contigo nem com eles… finalmente os teus problemas vivem contigo há já bastante tempo.

Não podes julgar tudo da mesma maneira, há casos que se tratam, outros que ficam em stand by . Calma!

Ao fim ao cabo morrer ou não morrer, não é a questão. Foi considerado que todas as coisas que se entrelaçam com a morte, poderão ou não ter a mesma resolução…

Para quê dares importância? Será que o Abílio é a única preocupação? Vive! Vive e explora todos os segundos da tua vida! Não repitas essas frases que me deixam arrepiada… Há tantos Abílios, Ruis! Marcos, Pedros!, Lúcios… e sabes que será sempre difícil vermos na nossa presença, as suas carícias, enquanto que nos debatemos com carências tão palpáveis……

Amigona! Recordas-te de quando nos divertíamos no muro do Metro a discutir os atributos sexuais do Marquês de Pombal?... Recordas-te quando te contei os detalhes da pessoa que sabes, nas brigas com os “amiguinhos”…?

Lembra-te de como é ridículo o “D. Carlos”, com os seus últimos modelos de carros caros… o seu avião a jacto… o helicóptero… as jogatinas de Golf por esse mundo fora… enfim… um inútil com fama de machão e com a mania de conquistar este e o outro mundo…Apenas não passa de quarenta anos de futilidade! De obsessão cíclica pelo que diz ser a única razão da sua existência… Mesmo sendo tão giro e elegante!!!

Minha amiga! Não penses mais em problemas complicados. Se necessidade houver de te operarem, deixa, deita fora o que não se aproveita…lembras-te como choraste quando lemos o resultado da minha biopsia ao cólon? Lembras-te o que tens repetido desde então?
Amiga, apenas ainda não encontrei o que queria… o, mesmo O, mesmo O que ajudasse a esquecer da poltrona de estimação que vim sendo desde que descobri que temos de usar o que pensamos em prol do nosso benefício pessoal…

Caríssima! Vamos um dia destes beber uns copos, mesmo não gostando, para afogarmos as nossas mágoas… muda de Abílio enquanto é tempo… experimenta… luta… só tu tens a ver com essa situação (faz como a pessoa que sabes…são sempre três, no mínimo, para uns reporem as amarguras dos outros…). Não há donos de gentes…só de animaizinhos e estes também são independentes… para além de que não se pode levar a sério o que essa espécie da Natureza costuma dizer… não passam de tendenciosas falácias ilusórias emolduradas por algo que jamais sabem sentir…

Que idiota ir em moralidades, quando apenas se vai mutilando a vida que a Natureza nos dá… Manuela! Serei sempre a tua amiga. Não me desiludas, nem também tu mutiles a minha vontade de continuar a procura… porque sabes que ainda não desisti…

Gostava de poder dizer sem máscaras, como já conversamos sobre isso, que adoro a pessoa X, que é o segredo da minha vida…que não aceito as restrições das suas tendências, mas que quero verdades…não deixes de lutar, amiga!

Amanhã envio-te este escrito. Liga-me de seguida, para saber os resultados finais. LUTA!

Lembras-te daquela minha ex-colega da FAO? Vem cá em Agosto! Vais conhecer o novo marido! Tem trinta e cinco anos e é sueco… menos vinte e oito anos… estão felizes!

Nada mais de fofocas… Beijocas!!! SAÚDE!!!



(nunca enviei esta carta à minha amiga!!!)


11.04.05

sexta-feira, junho 10, 2005

PORQUÊ ESCREVO

Escrevo! Escrevo desde que aprendi as primeiras letras. Escrevo, porque sempre, desde os primórdios da minha aprendizagem, foi a única forma de ultrapassar a timidez que me caracteriza. Escrevo, porque é a maneira de expressar, através da palavra escrita, o que me vai pela “alma”.

Escrevo, porque escrevendo deixo que os sonhos se volatilizem, deixo que os pensamentos se expandam, deixo que todo o imaginário em que vivo seja um sem número de palavras, frases, de períodos de orações relativas, condicionais, concessivas, coordenativas…em suma, procuro dentro de uma expressividade peculiar, o deixar fluir, o que em mente se condensou, para posterior exteriorização…

Escrevo, porque toda a experiência que ao longo da vida tenho experimentado, presenteia-me com um manancial de sentimentos, que apenas pela escrita se podem expor…Escrevo, porque ainda garota comecei a escrever. A escrever versos, a escrever o Diário, a escrever cartas… até uma pequena peça de teatro para comemorar o V Cententenário de Infante D. Henrique…

Escrevo, porque ao escrever vêm à memória todas as páginas já escritas, onde em folhas monumentalmente grandes, repetia que eras o amor da minha vida…

Escrevo, porque te escrevi um sem conta de poemas e com que saudade sinto a nostalgia de os não ter, para os voltar a ler…

Escrevo, porque sempre que olho os olhos teus, sinto uma necessidade imensa de escrever, para repetir, sem saber como, que ocupas todos os recantos de todo o meu ser…

Escrevo, porque a escrever e de lágrimas nos olhos e estes presos na curva da Montanha Zembe, recordava o que deixara, tirando-me pedaços de vida, como se afatiasse um melão suculento…

Escrevo, escrevo todos os dias: prosa, verso, simples frases, ou apenas o teu nome, repetidas vezes, para que ao partir, o leve bem gravado em todos os neurónios que o memorizaram tão docemente…

Escrevo, porque escrever é uma terapia, porque é uma forma pessoal de psicanálise, que me proporciona rever todo o filme do que foi e é a vida que ainda tenho…

Escrevo, porque escrevendo e a minha escrita não sendo lida, estou segura que não entram no segredo que me dá alento para continuar, para além de cada pôr de Sol…

Escrevo, porque a escrever deixo que todas as raivas e iras esmoreçam pela escrita corrida, sem que as deposite em quem me rodeia…

Escrevo, porque escrevendo vou iludindo a mentira por verdades que me correm faces abaixo, dissimulando a desilusão que me causa toda a falsidade com que vais mascarando o cada um dos nossos dias…

Escrevo enfim, porque a escrever vou tentar esquecer mais uma página deste longo diário que venho escrevendo há tanto tempo…e esquecer todas as mentiras que dizes, possivelmente piedosas…

10.06.05

quinta-feira, junho 09, 2005

GOSTEI!

Gostei. Gostei como não posso descrever, pois palavras não há, para descrever a doçura com que chegaste, me disseste todas essas palavras… mentirosas, e, me deste todos os carinhos de que tanto tinha saudade…

Gostei de sentir o roçar dessas pestanas longas e negras, acariciando-me o pescoço, as costas…enfim…gostei…

Gostei de sentir o teu respirar nas coxas, dos teus lábios pelos braços…gostei…

Gostei! Gostei tanto de te sentir suspirar sobre o meu peito arfante de satisfação…

Gostei sobretudo do carinho que me dispensaste, embora fictício, porque tinha saudades de te sentir perto de mim…gostei que assim ficássemos, numa quietude plena de prazeres… sem que fossemos ao todo dos prazeres…

Gostei, porque a saudade era muita. Gostei porque vieste, gostei porque ficaste, gostei porque apenas nos entregámos ao prazer de estarmos, sem obrigação de nada…

Gostei! Gostei porque todo o prazer jorrou por todo o interior do meu ser, sem que tivesse havido nada mais do que o toque entre a tua pele e a minha pele…

Gostei porque deste-te, sem que te pedisse… Gostei, porque sempre que chegas, sinto-me eu, mesmo sabendo que tu não és tu, apenas és o que quero que sejas, quando estás comigo…

Gostei! Gostei porque revitalizei todo o meu sonhar e todo o prazer de estar, mesmo sabendo que estando não estás e que sendo não és… mas mentes tão bem…

Gostei, porque gostamos sempre do que é, sem ser… a verdade é que tudo o que gosto, não é!...

07.06.05

quarta-feira, junho 08, 2005

DEIXEI!!!

Deixei de escutar a tua música!
Deixei de ouvir os teus sussurros.
Deixei de ler os teus escritos.
Deixei de comentar o que vens escrevendo.
Deixei que o pensamento corra como um cavalo à desfilada pela lezíria pardacenta depois de tanto calor…
Deixei de sentir todas as pulsões que sentia, quando pressentia que te aproximavas.
Deixei de atender os teus chamamentos…
Deixei que dominasses os meus sentidos e perdi-me… deixei que tempo demais passasse…
Deixei arrastar-me pelo labirinto do teu pensamento sem que te apercebesses… e correste atabalhoadamente no primeiro jardim que encontraste… sem me encontrares…
Deixei que uma torrente de lágrimas se confundisse entre o desgosto da perda de uma querida amiga e o desgosto de não te ter como a maior preciosidade que se pode ter…
Deixei que tudo parecesse belo, quando um escuro de breu não deixa ver nada…
Deixei que me iludisses, para me agradar e elevar a auto-estima… porquê nos olhos deixaste sempre transparecer isso? Por isso a ilusão não passou de ilusão…
Deixei que minhas mãos te tocassem, mas toquei sempre na estatueta de estimação… como todas as estatuetas, fria, brilhante e distante…
Deixei que sentisses o prazer do perfume que me envolve… só não percebeste que sempre foi cheiro a velas ardendo…
Deixei de ser, deixei de estar, deixei que o tempo passasse…
Deixei-me iludir e nem sei se saberei resistir…
Deixei que todas as palavras fossem a teia que me envolveu… e que irá envolvendo outros e outros… que descartarás, quando outros surgirem, para alimentar o teu ego, sôfrego de dominação…
Deixei que me lesses e perscrutasses todo o meu ser… e com palavras e sem palavras, nada disseste…
Deixei que toda a minha ternura se perdesse no distante eco dos silêncios… sem ter tido oportunidade de dizer quanto te queria… por isso, deixei de ter necessidade de o dizer…
Deixei, enfim, o meu espaço para que o preenchas com novas leituras, novos elogios, novas formas de iludir os quantos leitores sedentos de vida e procurando algo que os preencha…
Deixei sim, de viver, quando nem havia nascido…


07.06.05

sábado, junho 04, 2005

ACABARAM… …(folha caída do Diário…)

Acabaram-se as leituras. Acabaram os falsos conceitos. Acabaram todas as ilusões. Acabou o momento. Acabou o tempo! Sem tempo para jogar, sem tempo para iludir. Estou sem tempo…O meu tempo expiro!

Interpretar jogos de palavras como quem joga o “scrabble”, não me proporciona qualquer tipo de preenchimento espiritual. Contrariamente, sinto que todo o balancear de palavreados lançados como quem deita o papagaio de papel ao vento, teve a sua época áurea, mas já não diz nada. Tudo é um ror de maquiavelismos torturantes, para triturar a sensibilidade de quem, sofredor de amores defuntos, idealizava uma mente forte para apoio de caminhadas cambaleantes, por veredas sinuosas em arribas abruptas de escarpas suicidas.

Acabaram-se as loucas ilusões. Acabaram as esperas desesperantes, sempre em vão…

Acabou o inolvidável momento que durou o espaço de um suspiro. Acabou a música duma orquestra sem músicos… Acabou a silenciosa canção, sem ritmo, sem voz, sem som…

Acabei! Fim do último acto de uma peça de teatro que nem começou, porque não teve actores. Não teve contra-mestre… nem as pancadas de Molière se ouviram, porque não podia subir o pano… porque não havia texto, porque não havia guarda-roupa…porque nada existia…

Acabei. Acabei sem ter começado. Acabei sem saber o que começar e porquê iria começar fosse o que fosse… simplesmente acabei. Acabei comigo própria… auto destruí-me… porque nem sabia como me iniciar…

Acabei! E ao acabar deixei que tudo acabasse à minha volta. Destruí tudo! Destruí o que escrevera, porque não era para ser lido. Não podia ser lido porque não tinha significado… Não era para ninguém ler, porque não podia ter ninguém a quem dedicar o que escrevia… Foi tudo, sempre tudo, um amontoado de nadas… E eu não fui nada…não signifiquei nada…e destruí o nada… e não sendo nada, e não sendo para ninguém, só o acabar se justificava…

Acabei sem adeus. Acabei sem um olhar. Acabei sem um último suspiro… apenas acabei…
03.06.05

sexta-feira, junho 03, 2005

FOLHA PERDIDA DO DIÁRIO

O mundo dos silêncios arrebatou-me para os interiores do desconhecido. E perdida numa escuridão de cegueira, apenas sinto o palpitar do sangue nas veias e as lágrimas que quentes, parecem querer adoçar o desespero…

Lendo o que li, aquando julgava passear-me pelo claro mundo dos amores, fiquei desiludida. Como senti revolta de tudo! Como me senti enganada por todos. Como me senti preterida pelo mais belo sonho que jamais havia sonhado… sem direitos! Nem ao de um simples sonho…

E sem querer, eis que volto ao mundo dos antigamente, onde me foi vedado o tudo que mais desejava…

“Não deves dizer que adoras! Só adoramos a Deus… uma boneca não é Deus. Não deves adorar esse vestido… é pecado, Só adoramos Deus! E os primeiros sapatos com tacão alto? Que loucura, adorares sapatos amarelos… Só se adora Deus!...”

Adorar um homem? “Não! Só adoramos a Deus! Não se deve adorar bens terrenos… “

E que Deus foi esse que nuca me deixou adorar nada, nem ninguém? Que Deus foi esse que não permitiu que todas as sensações não passassem de imaginação?... Que Deus é este que nem me deixa ouvir dizer que sou adorada?...mesmo sendo mentira… neste mundo dos silêncios…

Foi-se o Estio, a Primavera e tantos Outonos, foram tantos tempos, sem que desse que esse tempo ia passando… e porquê tudo é igual?... E a voz do além repetir-se-ia… não fora só haver silêncios…

Neste mundo silencioso onde me perco, só os gritos interiores, abafados numa escuridão profunda, são o que calei indefinidamente… ADORO-TE! Adoro-te!...adoro-te…

Adoro os escritos do mistério, lidos e relidos, no escuro dos escombros das décadas que nos separam. Adoro idealizar que uns olhos cor de avelã me olham para além da cegueira desta escuridão imensa… e entre a imaginação e o ruído do sangue que vai correndo nas veias cansadas, oiço o que não oiço, porque ninguém o diz: Adoro-te!

Adoro toda a ansiedade que me causa a incerteza do escuro que me abraça e idealizo que esse abraço é o misterioso abraço, que só a escuridão pode dar… porque abraços, beijos, ternuras, são apenas para quem se adora…

É proibido! É pecado! Não gosto delas! Não podes adorar! NÃO! NÃO!...tudo não! E neste escuro de breu, sem bastão ou facho para iluminar, tropeçando constantemente aqui e além, num desmedido descontentamento que a rebeldia instalou à nascença, sou intolerante, exagerada, desiludida e já sem nada nem ninguém a dar o amor: ODEIO! Odeio, odeio tudo e todos: o que escrevo, o que leio e todos os que se amam, porque amam a mentira, porque se destroem com falsidades, com inexistências… irrealidades…
03.06.05

MAIS UMA FOLHA DO DIÁRIO…

Apetecia-me ter vinte anos! Vinte anos, com mais quarenta de experiência, com mais trinta de loucuras e uma eternidade, para dizer como te amo!

Apetecia-me ter a ternura de um pássaro acabando de sair do ovo. Ter a leveza de uma bola de sabão, o sorriso de uma gueixa e o corpo de uma sedutora sereia de voz envolvente e escamas brilhantes e hipnotizantes…

Apetecia-me ser a dona de todos os teus pensamentos. Apetecia-me ser a senhora de todos os teus desejos… enfim… apetecia-me deixar-me envolver em teus braços, num gesto de plena ternura, de abandono, sem quaisquer senão a não ser o de gravar para todo o sempre o teu murmurar delicado, entre suspiros de deleite e sussurros de prazer…

Apetecia-me que de entre a penumbra da hora crepuscular, sobressaísse o teu olhar carinhoso, como se esse olhar fossem torrentes de beijos ternos e apaixonados…

Apetecia-me estar envolvida entre farrapos de nuvens brancas, com o teu olhar preso no meu, sem que as palavras fossem o impedimento de transmissão do amor que te dedico…

Apetecia-me prolongar o momento dos momentos, num gemido eloquente de paixão e que na fuga do tempo jamais disséssemos adeus… mesmo sabendo que nem sentes o mesmo que eu…

Apetecia-me gritar, no último grito que me resta, que foste o meu momento, o mais belo momento antes do momento acabar…

E com esta Morte tão bela, quem poderia dizer-lhe que não?... por isso, num afago de ternura, eis que me deixo envolver como me apetecia… e parto para o desconhecido, apaixonada pela única razão que soube perceber o quanto sei amar…


02.06.05