quinta-feira, agosto 25, 2005

PARA VÓS


Com este ramo de rosas, belas,
Venho dizer o meu obrigado
Aos que me criticam e apoiam
Aos que se emocionam e choram,
A quem amo, sem conhecer…
E com estas rosas singelas,
Vindas do meu amado,
Presenteio todos, com amizade
E a todos quero dizer
Louvando pela escrita, a verdade
Que jamais os irei esquecer.

O mau juízo está perdoado
E a bandeira da ambiguidade
Vou tentar ignorar
E vou continuar a escrever
Pelo Amor e Liberdade.

24.08.05

segunda-feira, agosto 15, 2005

ROSA DE HIROSHIMA




Recordei Ney Matogrosso cantando a Rosa de Hiroshima. É realmente um tema que ele canta com o sentimento que todos lhe conhecemos e que nos transporta a recordações da História, que nunca deveriam ter existido.

Mas a Humanidade anda cheia de rosas negras e inúteis, que vão destruindo por onde vão sendo plantadas. Funcionam como ervas daninhas e não como a mais bela flor do universo floral da flora do planeta Terra.

A minha rosa negra, porque também tenho uma “bela” rosa negra, ao ser plantada, pareceu ser a mais bela flor que iria ter no meu jardim, contudo, ao desabrochar, cresceu descomunalmente e foi fazendo sombra aos narcisos, túlipas, jacintos e nem a bela orquídea escapou à sombra que ia crescendo progressivamente, não respeitando o espaço das outras, não menos belas flores…

Mas o mais grave é que ao colhendo todos os nutrientes da terra e ao sol magnífico, também foi desenvolvendo os espinhos que rodeiam o seu caule e assim, nem a posso colher, para libertar as outras flores de toda aquela possessividade. Fiquei prisioneira de uma rosa, sem que sequer lhe possa tocar ou sentir o aroma.

15.08.05

sábado, agosto 13, 2005

UMA SESSÃO COM MAGDA



Magda entrou e sentou-se. O olhar era estranho, ausente e triste mas simultaneamente confuso. Parecia assustada. Nunca vira Magda entrar assim no meu consultório.

Pedi à Mafaldinha que deixasse um jarro de água e um copo na mesa de centro e saí da minha secretária e fui sentar-me perto de Magda, no sofá em L que tenho num dos cantos do consultório.

Magda abandonou as mãos no regaço e balbuciou palavras ininteligíveis… qualquer coisa como quero esquecer, não posso mais viver assim…

Ofereci-lhe água, deixei-a acender o cigarro habitual das sessões mais agitadas e proporcionei-lhe o silêncio que necessitava para arrumar as ideias ou talvez não; talvez apenas para escolher as palavras com que queria abordar o assunto que a deixava tão insegura.

Magda começou a falar, um pouco mais rapidamente do que o habitual, mas sem me olhar. Pareceu-me que estava indecisa se havia ou não de me contar… mas se o não fizesse, como poderia eu ajudá-la a superar o mau momento que se estava cruzando com ela?

Passara a primeira meia hora da sessão quando Magda pediu para acender um segundo cigarro e deixando-se de rodeios começou a relatar os factos que a estavam deixando tão instável.

Assim, Magda contou-me que passara mais um aniversário de seu casamento, dentro de um absoluto silêncio e de recusa de ver quem quer que fosse. Chorara todo o dia, de raiva, de revolta, de insegurança e de desespero, porque ao final de tanto tempo, nunca conseguira ultrapassar todas as dúvidas e ressentimentos que acumulara. Chegou a dizer-me que se detestava, porque não conseguia ter coragem de enfrentar todas as realidades que a estavam a agredir… o seu relacionamento sexual com o marido, ponto fulcral, era uma farsa. Uma nojenta farsa repetiu, com as lágrimas bailando à volta dos olhos. Levara décadas a sentir isso, e quando disse ao marido o que se passava, para tentar salvar o seu lar, ele apenas lhe disse que isso era assim mesmo…apenas podia dizer-lhe que procurasse um outro homem, que fizessem sexo para saber como era com outro. A única condição imposta seria contar-lhe tudo depois…

Magda soluçou…como poderia ela, sensível como era, fazer sexo com alguém, só por fazer… já o fazia em casa, quando era obrigada…

Magda levantou-se. Ainda mais agitada, encheu de novo o copo de água e acendeu o terceiro cigarro…havia passado uma hora de sessão…

Pedi-lhe que se acalmasse e desviei o tema da conversa para umas banalidades e falei-lhe de que o caso dela não era o único, uma vez que, infelizmente, muitos homens com idades compreendidas entre os cinquenta e os sessenta anos, devido a erros de educação e ignorância, não interpretavam os sentires das mulheres como coisa séria…

Magda voltou a sentar-se e depois de alisar as calças, recomeçou. Muito mais calma, mas mesmo assim a medo, revelou-me o que eu já havia equacionado através de dados anteriores… Magda conhecera alguém… mas o que não sabia, era o que Magda ia contar… e à medida que as palavras lhe iam saindo, como que ressaltando degraus, eu ia ficando mais preocupada…pensei que teria de ter uma conversa com o ídolo de Magda.

Magda revelou-me sentir-se profundamente atraída por um amigo da filha, jovem, mas mais velho do que esta e colega, que viera para estagiar numa matéria que estudaram no estrangeiro, onde se haviam conhecido. Contudo, os contornos do relacionamento eram deveras confusos, por todos os motivos que Magda me revelou. Não podia acrescentar muito mais, mas sugeri que Magda fosse viajar para reflectir se o que estava a tentar, estava de acordo com a sua maneira de pensar…voltaram as frustrações, as inseguranças e o choro descontrolado.

Duas horas! Felizmente que não tinha mais pacientes na sala de espera. Então ocorreu-me convidar Magda para sairmos do consultório e irmos até uma sala de chá, para que o ambiente se tornasse mais acolhedor e menos formal, de forma a fazê-la observar outro meio e sentir-se mais liberta do estado de tenção em que se encontrava.

Magda fez questão de ir ao “Bico Dourado”, explicando que era um lugar calmo, com música ambiente e que ao final da tarde poucas pessoas costumavam estar por lá e por isso poderia sentir-se mais à vontade. Acedi e depois de darmos umas voltas ao quarteirão, conseguimos estacionar.

Eram dezoito e trinta. A penumbra da sala, com um pianista a um dos cantos, sobre um estrado e tocando num piano de cauda, fez-me sentir como se estivesse a ver um filme. Magda dirigiu-se para o canto oposto, para a mesa que me pareceu ser a costumada. Mas como estivesse ocupada por dois homens, ficámos numa outra perto, tendo os dois indivíduos de costas para nós. Magda ficou agitada, mas sentou-se.

Passados alguns minutos, depois de termos feito o nosso pedido de um chá verde, começámos a falar da decoração da sala, por sinal muito original, quando Magda me chamou a atenção para os carinhos entre os dois senhores que estavam na tal mesa, aliás, mesa que costumava ser ocupada por Magda e pelo tal colega da filha, quando ao fim da tarde se juntavam para conversar, segundo me revelou. Quando um dos jovens se levantou e ficou de perfil, Magda empalideceu, e começaram a correr-lhe duas grossas lágrimas pela face. Peguei-lhe na mão e acalmei-a, tentando saber o que se estava a passar.

Quando ele cruzou a nossa mesa, dirigindo-se aos lavabos, baixou-se e beijou-a com um simpático olá, mas sem dar oportunidade para apresentações, e seguiu. Então estava tudo explicado!

Chorou-me a alma, porque vi Magda numa situação muito semelhante àquela que havia tido aquando ainda estudante, mas que felizmente nunca deixáramos de ser amigos…em tudo!

A minha dificuldade era fazer Magda compreender e aceitar o jovem, tal como ele era e que deveria apoiá-lo e não tecer críticas ou depreciá-lo. Se o amava como acabara de revelar, isso em nada prejudicaria um sentimento tão nobre. Não podia ver as coisas como em décadas anteriores, em que os tabus e o desconhecimento levavam a que as pessoas banissem do seu relacionamento os que eram menos iguais.

Sem ter pensado qual seria o rumo da conversa, comecei a “dar uma aula”, explicando o que a natureza pode fazer, sem que nós possamos interferir. Tentei fazê-la entender que o facto de se ser assim ou de outra maneira, não somos nós que o queremos, mas sim fruto de consequências genéticas, do desenvolvimento e do ambiente em que se desenrola todo o crescimento do ser humano.

Magda olhava-me incrédula, mas ia abanando a cabeça e acabou por revelar que já se havia envolvido com o jovem arquitecto em intimidades e era isso que a estava a importunar. Não aceitava que ele fizesse aquela duplicidade de actuações.

Uma vez mais tentei explicar a Magda que o seu caso não era o único e nem por isso as pessoas deixavam de ser felizes. Ou aceitava ou rejeitava, mas deveria pensar bem, porque ela própria poderia estar a exercer um papel de equilíbrio e não era justo pensar de outra forma, apenas com um alerta: a saúde de ambos.

Magda olhou o relógio e disse que tinha de regressar a casa. Levei-a à porta, onde já havia ido por diversas vezes em outras consultas, logo pelos primeiros meses em que iniciáramos as sessões.

Pedi a Magda que voltasse ao consultório dois dias depois. Tinha de estudar alguns detalhes, porque Magda estava muito agitada e podia reiniciar a depressão que estava tratando há meses.
2005, August

quinta-feira, agosto 11, 2005

11 DE AGOSTO!



Vou perpetuar esta data!

Nunca esquecerei o sol quente que brilhava como o mais puro diamante, naquela manhã de onze de Agosto.

Nunca esquecerei como era azul o céu nem como era azul o fato que vestias. Azul, de um azul que ficou gravado nos meus olhos.

Nunca esquecerei os teus olhos tão castanhos, tão intensos, nem tão pouco esquecerei o sorriso bondoso e atraente.

Nunca esquecerei a gentileza da palavra. Nunca esquecerei o gesto delicado. Nunca esquecerei o nunca ter esquecido um tão belo momento…

Nunca esquecerei que iniciei a mais bela etapa de sonho, de romance, de ilusão, … de agonia e tristeza que foi envolvendo toda esta existência, porque um dia passaste a ponte e deixaste de existir…

Nunca esquecerei as lições de História Universal pelo telefone… nem a explicação das equações…

Nunca esquecerei “La vie en Rose”…como a cantavas!… nem “Quand tu me parles au telefone”… ou a “Petite fleur”…

Nunca esquecerei a “Valsa da Meia Noite”… ou o “Bolero de Ravel”. Nunca esquecerei as dissertações sobre a mentira ou como é o amor… como me alertavas para a farsa dos homens em relação às mulheres… (contaste detalhes sobre Henrique VIII, que só mais tarde, quando estudei a História de Inglaterra em Inglês é que vim a constatar que não eram historias tuas) e foste a primeira pessoa que me chamou a atenção dos falsos homens. Eras fenomenal! Sem mentira, sempre pronto e apto a dar-me respostas às múltiplas perguntas.

Nunca esquecerei que foste a pessoa que me achou a pessoa mais importante do planeta, que adoçou os meus dias e que um dia me disse que sempre que visse uma chama ardendo, eras tu, para me guardares… e sempre que o vento ululasse pelos montes, seriam as tuas canções para me tirar os medos… como posso esquecer tudo isso?

E hoje, quarenta e sete anos depois, vejo-te àquela esquina, esperando-me à saída do liceu… e vejo que mais ninguém esperou por mim, que me viram as costas quando estou só, que me insultam por esperar por nada… que fingem que me estimam e depois amassam-me como se fora um papel velho e sujo… como se até não existisse… ou melhor, que seria melhor não existir…

Nunca esquecerei das quimeras que fui criando em torno de “os quem” idealizei poderem ser semelhantes. Nunca esquecerei. Nunca esquecerei, nem por um minuto, que por milénios que viva, não há ninguém como tu… Nunca esquecerei que prometi contar-te sempre tudo, para me apoiares… mas como?

Nunca esquecerei que me secaste as lágrimas quando tudo e todos discordavam de mim…

Nunca esquecerei o teu nome: o nome mais lendário da Historia! Da minha história, que perpetuei como prometi…

11.08.05

quarta-feira, agosto 10, 2005

ROSA AMARELA



Rosa em botão
Flor do amor
Tão perfumada,
És tão bela!
És um sorriso
Na minha mão.
És o fervor,
Rosa afamada,
Rosa amarela…
És do Paraíso
Tens doçura,
Dás ternura.
Rosa em botão
A brotar no meu coração…




09.08.05

segunda-feira, agosto 08, 2005

FOI-SE O MEU GATO…




Ao fim da tarde, ao pôr-do-sol, enquanto fazia a minha caminhada, atravessei o parque da cidade e surpreendida vi o Ferrus com outro gato.

O Ferrus fingiu não me ver ou não reconheceu o meu cheiro… perdi o meu gato!

Na segunda volta ao parque, sempre na minha marcha, vi o Ferrus que baloiçava alegremente e nem um olhar… perdi o meu gato!

Há muito que via o Ferrus deleitado com aquele pardo que o acompanhava, mas nunca pensei que trocasse o meu doce carinho por um outro qualquer felino… sem graça, com uns bigodes mal semeados e possivelmente a cheirar a caça barata… e a outros gatos…

Mas o Ferrus era especial. Para mim, foi o gato dos meus sonhos. Mas eu não fui, de certeza, a dona que ele idealizou… Mas o meu gato foi-se… sem um adeus, sem uma última miadela...O Ferrus trocou-me pela rua, pelo gato pardo, pela liberdade que não lhe dei…

07.08.05

sábado, agosto 06, 2005

AMOR


Pintei um quadro a rigor
Para dar ao meu amado.
No meio escrevi Amor
Para o guardar emoldurado.

Amor, amor tão sentido
Amor cheirando a rosas
E por me ser tão querido
Quero-as belas e viçosas…

05.08.05

SENTIMENTAL JOURNEY


The big trees along the road were plenty of dark green leaves. The shadows were enormous ghosts running in front of the car… the last news told about a dangerous accident in this same road, near the village I have just crossed. Everything was running equally…

My thoughts were travelling in a high speed as well as my car… and I could not forget the reason why I was going to that place…

Some years ago I did the same trip for the first time… He was in that small town and I could not be without him any longer… but… I have not met him again… Only his spirit was there…

From that August on I travel to that place every year, to cry, to take him back to my life…

Only the trees and their shadows are the same …

05.08.05

sexta-feira, agosto 05, 2005

FERRUS



Da cor da ferrugem, o meu gato chamava-se Ferrus. Miava docemente e os olhos cor de avelã eram o meu deleite… mas Ferrus partiu. Deixou saudades e sobretudo um vazio sem dimensão…

Ferrus era especial. Lia os meus escritos no seu esconderijo nocturno e fazia comentários fabulosos… O meu Ferrus era o meu príncipe encantado…

Fui gravando em folhas de papel azul as palavras doces e profundas que me escrevia na calada da noite… e ia lendo ao nascer do sol, fazendo crescer um amor terno e cheio de mitos na minha imaginação…

Ferrus tinha hábitos estranhos, mas como os gatos dormem em média dezoito horas por dia, porque precisam desse repouso, nunca reclamei, mas sentia a falta do seu pelo macio e brilhante, quando não estava perto de mim. Ferrus, ao contrário dos outros felinos, não mordia, lambia-me as faces, os lábios e recolhia as garras para passar a pata pela minha cara.

A gataria dos arredores, por vezes, deixava-o excitado. Por essas alturas, o Ferrus fugia de mim como que para esconder a vergonha de ter estado sujando o pelo com os outros bichanos…

Mas Ferrus partiu. Não escreveu mais comentários às minhas histórias. Não deixou rasto. Apenas deixou saudade…

Vou recordar o Ferrus por toda a minha vida. O meu príncipe encantado, com o pelo cor de ferrugem e com o miar mais doce que já ouvi.

04.08.05