segunda-feira, outubro 31, 2005

FRAGILIDADES


Só, inconsolável, insegura, fragilizada, rejeitada, despeitada, que mulher és tu, que afugentas todas as dores num cigarro?...

Muito ocupada, muito estudiosa, observadora dos problemas que atormentam a sociedade, pronta a dar a mão aos inseguros (escondendo as suas inseguranças), que mulher és tu?

Apenas mulher! Apenas aquela que espera (sem esperança) amar e ser amada, ser forte, ser ídolo… ser apenas mulher…

Aquela que dá força (sem a ter), aquela que ri (chorando torrentes de lágrimas), aquela que tudo desculpa (sem se preocupar em sarar as feridas que lhe doem).

E isto é ser mulher. É ser a fumadora que se critica e castiga, porque não se olha para tudo o que o cigarro na sua boca está escondendo…

sábado, outubro 29, 2005

ESTA TARDE



Atrevidos, sorridentes, brilhantes, surgiram os primeiros raios de sol a meio desta tarde outonal, depois de umas chuvadas bem fortes…

E com a alma em alvoroço, deixo que os olhos passeiem pela paisagem, verdejante, do Monte Gordo, mesmo em frente da minha janela de trabalho.

É hoje! Coragem!

Sim, não vou perder outra oportunidade. Hoje tenho de dizer o que me vai na alma. Vou ganhar coragem e vou dizer o que sinto, o que penso e se tiver coragem de dizer tudo isto, direi o que espero…

Depois de muitas leituras, livros e livros aos montes ao redor da minha mesa de trabalho, apontamentos manuscritos entrelaçados com folhas e folhas, onde vou escrevendo textos e poesias, estão todos os resumos de Antropologia, Sociologia, Psicologia, Psicogerontologia…enfim! É hoje que vou decidir se farei ou não o trabalho sobre o tema que me apaixonou há uns anos e que, por inúmeras razões, tem estado em “standby”.

Mas na vida temos sempre de usar um “mas”. Um “mas” que condiciona tudo e todos os actos aos quais nos queiramos entregar. Uma limitação que ora é física ora psicológica e eu, nada de excepções à regra, balanceio-me ora entre uma outra, ora entre outra das limitações que me inibe qualquer vontade de progredir no meu trabalho, deixando de investigar, parando de escrever e apenas escrevinhar poemas ao acaso, ou escritos mórbidos, que deixam ver o meu estado interior… toda a minha insegurança, toda a minha fragilidade, toda a incerteza que me rege…

Trocando impressões com uma colega, chegámos à conclusão que amores inconsequentes deixaram mácula e nunca tiveram tratamento…e dizia ela com muita graça, que não há nada como um novo amor, para apagar a frustração de um amor não resolvido… mas isso será assim?... E quem me afirmará que não vivo mesmo esse tipo de situação? Se descobrisse…então o meu trabalho continuaria. Teria a quem o dedicar e quem sabe, a quem segredar doces palavras, dessas que andam por aí avulso, no que vou escrevendo, para colmatar lacunas…



28.10.05

domingo, outubro 23, 2005

INCONFIDÊNCIAS…



Muito lentamente, percorri os caminhos estreitos do lugar de repouso de corpos e almas.

Muito lentamente procurei o rectângulo de mármore, gasto pela erosão de muitas chuvadas, sol ardente e ventanias, neste vale de repouso.

Muito lentamente encaminhei-me para a placa com aquele nome, descolorido, mas bem definido, esculpido na pedra fria, agora aquecida pelo sol do princípio da tarde.

Muito lentamente sentei-me na borda de mármore quente, olhando nos olhos da foto já esbatida, num esmalte que fora já castanho…

Muito lentamente juntei meu corpo à laje quente, chamei pelo nome e deixei que esse sopro morno me acariciasse as orelhas, num profundo palavreado, de dizeres indizíveis, que são sempre as mais belas palavras de amor…

Muito lentamente senti que ternas mãos deslizavam pelo meu pescoço, numa terna carícia, deixando-me relaxada e deleitada; deixando que toda a tensão da revolta que me invadia, se fosse esvaindo, como que um desmaio suave me fosse invadindo…

Muito lentamente, acariciei a pedra sepulcral, como se fora o corpo desejado sob o meu, tendo o sol como testemunha de um inolvidável momento de amor…

Muito lentamente, os mais doces lábios roçaram os meus, sugando-os com doces beijos, num encantamento indescritível… beijando-me as mãos, os pés, as coxas… um todo de afagos carinhosos intraduzíveis…

Muito lentamente, toda a convulsão de um prazer indescritível me ia abalando, me ia transportando a um êxtase jamais sentido.

Muito lentamente, muito docemente, muito suavemente, penetrando em meu ser, todo entregue, todo deliciado por minhas ternuras. Todo o mundo parou para ouvir nosso arfar…

Muito lentamente, a libelinha poisou sobre as flores do jarrão de mármore. As flores também descoloridas, apenas eram lugar de poiso para os insectos ou passaritos que por ali andavam e que paravam para espreitar o nosso momento…

Muito lentamente, os sussurros cruzaram-se, como gemidos de aves nocturnas e momento a momento, com mais intensidade, com uma força vulcânica, soltei um grito. Um misto de prazer e angústia. Um grito de dupla satisfação que se cruzou com o que em desabafo do interior repetia “amo-te! … amo-te!”

Muito lentamente, fui perdendo as forças que me uniam àquela laje gasta pelas intempéries, mas que me dera o que ficará para a eternidade, depois dos momentos mais intensos que até então vivera…

Muito lentamente recompus a roupa. Muito lentamente voltei a sentar-me na ponta da pedra tumular. Muito lentamente acariciei todo aquele mármore liso e descorado pela erosão e levantei-me.

Muito lentamente, olhei o azul pálido, pela luz do sol, daquele céu que nos servia de coberta… e agradeci uma vez mais, a meia voz, como havia gostado daquele momento.

Muito lentamente, deixei que entre um suspiro de espanto e um de plenitude, me saísse da boca a verdade que me havia sido vedada toda a vida: realmente fizera amor!

domingo, outubro 16, 2005

EU SABIA!


Eu sabia! Eu sabia desde sempre. Eu sabia que era um mito. Eu sabia que nunca seria mais do que uma aragem na terra do nada, para além das dunas. Eu sabia que mais dia menos dia, nada significava e que seria apenas um sopro de raiva a juntar a outras raivas.

Olhei as linhas do comboio. Chamaram-me mas não atendi. Ignorei o chamamento mais uma vez… Jamais quereria ser o fulcro das atenções como se fosse a protagonista de um filme de terror… Há formas subtis de auto eliminação… Aí não haverá mais pesadelos, nem recordações……

Eu sabia que não era, nem sou, nem serei o que queria ser. Cheguei sempre tarde, se alguma vez cheguei a alguma parte… Até para amar há uma hora certa!

Isto são notas. Não mais o poema da saudade… Esse parte comigo… parte dentro de mim… sendo eu própria…

Eu sabia desde sempre, que apenas iria escrever frases soltas… palavras ao vento, como as folhas secas que rolam estrada fora, Outono dentro… Eu sabia que o medo é controlador da acção…

Eu sabia que os anos nos tiram a possibilidade de dizer “eu quero”, que nos impedem de sentir, de mostrar o que se sente, de escolher um momento feliz… de viver…

Eu sabia que sempre fora proibido dizer sim, simultaneamente ao coração e à obrigação…

Eu sabia que todos os nomes sussurrados, em nada tinham a ver comigo. Eu sabia que eram nomes, apenas nomes… Os nomes deles…as músicas para eles…a ternura para eles… Sempre os outros! Nunca eu!

Eu sabia, eu sabia… mas queria… queria saber como se pode ser alegre, estar sem stress, estar bem com tudo e com todos…mas também sabia e desde sempre soubera… que nada é compatível com nada… e as emoções, as pulsões, as impulsividades tiveram de ser contidas e amolgadas, para serem jogadas ao vento… fingindo que nada disso existe… apenas existe o último dia, como solução para todas as situações…

Eu sabia que nunca cheguei a estar naquele lugar àquela hora. Eu sabia que era a minha fantasia que me fazia acreditar no que não era; afinal eu sabia que não era mesmo…

Eu sabia que aqueles olhos que me olharam com ternura, não eram os olhos que me estavam a olhar, eram os olhos que eu queria que me olhassem…e eu sabia… e eu sabia que aqueles lábios que me tocavam, não era a mim que tocavam… eu sabia que não era nada… mas sabia apenas que queria sentir algo a que pensava ter direito… sem qualquer tipo de direitos… eu sabia que não era nada!

Eu sabia que naquela curva da estrada, havia de estar a sombra gigantesca daquela árvore, não menos gigantesca, que abraçava o meu sonho de amor…aquele Cipreste abraçou o meu amor, absorveu-lhe os beijos, percorreu-lhe o sangue e eu sabia que dentro daquela sombra, eu não cabia…

E eu sabia…sabia tudo! Sabia o que nunca quis saber, mas sabia e por muito que se tentasse procurar que eu não soubesse… apenas a morte podia esconder…e como um sopro de vento bailando entre a folhagem a amarelecer... vai encontrar-me e vai-me ter…

segunda-feira, outubro 10, 2005

O ESCRITOR FAMOSO E OS ELOS DO PASSADO

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Levantei-me e dei passos à toa pelas veredas do jardim da minha infância. Voltei a olhar o baloiço e lentamente atravessei o jardim de todas as minhas recordações. Os meus passos ressoavam no saibro solto e por entre a folhagem da velha árvore, parecia-me ver os olhos de Helena a admirarem-me.


Em passos lentos dirigi-me à minha casa. Cruzei os arcos de pedra cansada pelos anos que seguravam as ogivas.

Entrei na sala e olhei os cadeirões forrados de tecido florido, onde minha mãe se sentava comigo, para conversas e às vezes reprimendas… Sentado naquele cadeirão à esquerda, perguntou-me minha mãe, com ar severo, o que havia estado a fazer com Helena, naquele dia em que nem percebi o quanto Helena significava…

Abri a janela. Olhei para fora e vi-me criança, de calções ainda, correndo para apanhar borboletas…

Atravessei o corredor e no meu quarto, apenas abri a janela, de onde vi a paisagem, que em nada mudou… Dei meia volta e fui sentar-me perto da varanda, com as vidraças abertas, respirando o ar fresco do arvoredo. Mas a imagem de uma Helena tão criança ainda, não deixava de saltitar na minha imaginação. Agora compreendo como sempre a amei… Helena! Helena!...

Os olhos meigos e serenos de Helena, foram ao longo da minha vida, a doce companhia da minha filantropia.


Abri a última gaveta da estante de meu pai, onde minha mãe foi guardando os meus papéis, como costumava dizer, os velhos cadernos escolares e entre muitos desses papéis lá estavam uns quadradinhos de papel com desenhos de flores e o nome de Helena no meio…

Depois da morte de meus pais, era a primeira vez que aqui estava, serenamente, para actualizar burocracias e para recordar a meninice que tantas saudades me deixava…

Olhei de novo ao meu redor e tentei reviver todos os momentos, para me localizar nesse passado distante e idealizar como estaria Helena, que deixara de dar notícias desde tempos indeterminados…

Passei horas e horas neste vai e vem, de divisão em divisão, e já à noitinha, o senhor Chico veio trazer-me uma sopa ainda a fumegar e um naco do bom chouriço de seu fabrico e umas fatias de pão, para aconchegar o estômago.

Tagarela o bom velho Chico, que me conhecera miúdo, com poucos anos de diferença dele, pois que quando nasci a mãe dele trabalhava cá em casa e ele era muito criança…chegámos a chutar a bola nas traseiras, quando regressava da escola. Mas a tagarelice do bom Chico deu para me preencher as lacunas de memória e para me dar algumas novidades que desconhecia.

Também tinha na mão um pacote de correspondência que havia junto, para me entregar, quando me voltasse a ver.

Cartas! Uma infinidade delas, para meus pais. Publicidades e postais de amigos que haviam partido para o estrangeiro durante a minha ausência e de quem não ouvira mais nada… Mas! Surpresa, aquela carta pareceu-me estranha…de uma Helena Portier…para mim…

Abri sofregamente, sem dar ouvidos ao Chico, que a sopa arrefecia, e comecei a ler. Helena! Minha doce Helena! A carta havia sido escrita há mais de três meses e participava o falecimento do marido, bem como a sua vinda à nossa terra, pois que voltava para expor as suas pinturas na capital.

Beijei as faces do Chico, tisnadas pelo sol, e saltei, mesmo esquecendo que já me queixo muitas vezes de dores reumáticas… Helena ia voltar! E pelas datas, faltavam apenas dois dias para ter possibilidade de a rever… nem havia tempo de fazer projectos… mas ia voltar a ver Helena!

domingo, outubro 09, 2005

LAIVOS DE PENSAMENTO


Acinzentada a manhã deste sábado, deixa-me numa angústia sem explicação e a instabilidade emocional instalou-se como se fizesse parte de mim. Pergunto-me porquê toda esta inconsistência emocional, quando nada me devia induzir a um tal estado, depois de me ter decidido a que qualquer sentimento que me entristecesse, seria banido impiedosamente.

Esta introdução tanto poderia ser mais uma folha do meu Diário, como uma das minhas cartas à minha amiga que amanhã completará mais um mês de ausência do meu convívio…

Quando aquele raio se sol entrou pela sala, reflectindo-se em mim e depois se refractou ao meu redor, idealizei o mais belo sonho de amor, que não ousara sonhar antes…

Conforme escrevi em outras épocas, escreverei hoje, que a desilusão é o meu dilema…Sempre sonhei. Creio que sempre sonharei… um rosto liso, uma boca doce…uns sentimentos nobres e muito sinceros…e sobretudo muito amor…

Mas o sol voltou a esconder-se e tudo escureceu…tudo não passou de ilusão. Tudo não foi mais do que fruto da minha imaginação…

E que imaginação!…

As cores definidas pela luz do sol esbateram-se e do cinzento que me rodeia, apenas umas sombras mal definidas se acentuam ao longe…aquela saudade…a saudade de quem nunca me iludiria, se a grande sombra do fim não a tivesse levado para o infinito espaço do pensamento…

As pessoas importantes partem…ou mudam de residência… partem sempre para não voltar… e a saudade fica para nos mortificar…

Que maravilhoso seria fechar os olhos e voltar a escutar uma frase que me emocionava sempre…”como gosto de ti…” como não houvera de ter saudade de tanta sinceridade…de tão puro e simples mostrar que tinha um significado, que existia para o pensamento de alguém…Como seria maravilhoso dobrar a esquina daquela rua e sentir que me pegavam na mão e um beijo doce era a despedida, para quando não sabia quando, nos veríamos de novo…que belos anos quinze de uma bela adolescência, cheia de poesia e ideais…que nunca viriam a existir…

Amigos do além! Quereis ao menos uma vez transmitir aos amigos do aquém quão carente me sinto de belos momentos, momentos só meus, só para mim, sem interferência dos vossos outros amigos…como faziam…Quão importante seria que os amigos do aquém aprendessem a dizer quanto me amam, como me amavam vós… quanto mostravam que precisavam de mim…mas transmitam também, que não devem partir, para que não fique ainda mais só…

Agora, envolta neste cinzento, apenas revivo uma saudade que cresce a cada tentativa de encontrar o lado de lá do monte, num dia solarento…

São palavras…apenas palavras de mais um dos meus escritos em louvor de uma saudade imensa, sem que nada nem ninguém tenha conseguido ainda esbatê-la do meu ser…São laivos do meu pensamento são tiras de uma demência que vai globalizando todo o meu ser…São mutilações ao Id, que o superego provoca sem solucionar as consequências…

08.10.05

quinta-feira, outubro 06, 2005

AQUELA ROSA


Guardei naquela caixinha, uma rosa ressequida,
Para me recordar dela, quando sinto saudade.
Guardo-a ainda que seca e envelhecida…
Porque ma deram quando sonhava com verdade…

Foi uma farsa, uma fantasia de amor, esquecida,
Que me marcou sem piedade, para a eternidade,
Pois que ele o “ele” eleito, deixou-me tão ferida…
Fez-me sentir para sempre, mera casualidade…

Flores de outros canteiros, seus amores preferidos,
Nada eram como o eu, eles eram os seus queridos…
E se não tivesse morrido esta alma solitária,

Teria amado para sempre aquela rosa viçosa,
Que deixei secar na caixinha e saudosa…
Vai lembrar a vida inteira esta alma solitária…


05.10.05

terça-feira, outubro 04, 2005

BEIJO!



Envolta na bruma do sonho ideal,
Cheia de ilusões e o corpo a pulsar,
Deixo envolver-me num todo irreal,
Que é a tua estranha forma de amar…

Deixo que o olhar brinque, teatral,
Para depois, sempre hesitante, te chamar…
Escondendo sempre esta tristeza sem igual,
Sempre, pela tua estranha forma de amar…

E mãos e corpos fortemente abraçados,
Suspiramos como que apaixonados,
Esperando conseguir esquecer o passado…

E pensamentos, em uníssono e ligados,
Não passamos de meros enamorados,
De sonhos e de tudo o que nos foi vedado….

03.10.05

segunda-feira, outubro 03, 2005

LOUVOR AO FADO!


Famintas almas de gentes,
Venho dar-vos de comer:
Uma poesia de amor
Um cravo de liberdade,
Muitos versos de saber,
Um pouco de alegria e cor…
De tudo, menos verdade!
De renúncia, de hipocrisia…
Muito perdão pelo que mentes
Condescendência por me esqueceres,
Um prato de fantasia…

De tristeza, nem falarei
Porque a fome já é triste
E com esta minha poesia,
A fome não matarei,
Porque ela sempre persiste…

Mas dar-vos poemas a ler,
É tudo o que posso dar
Já que seu amor não terei,
Nem nunca irei saber
A quem está a amar…
Dou-vos palavras, somente…
Porque vos quero a lutar,
Por tudo o que há de valor:
Vontade de conhecer,
Um sorriso permanente,
Uma boca para beijar
E sempre, sempre Amor!

02.10.05

domingo, outubro 02, 2005

20H21 – Figueira da Foz 07.09.05



Horas que passam num tempo que parou dentro de mim. Horas que esperam por outras horas, sem que nas horas presentes, ou nas horas que hão-de vir, eu possa saber o que vai dentro de todas essas horas.

De entre o barulho ensurdecedor que me rodeia, sentada à mesa deste café, sinto o peso de um silêncio mortificante. As notícias são devastadoras: incêndio, morte agressiva de uma criança de seis anos…e toda a reportagem relacionada com a horrenda tempestade nos E.U.. E tudo baila na minha mente, como se fora dentro de mim que se desenrola toda a tormenta e o silêncio sepulcral com que me presenteias é mais do que o indício de que tudo em nada resultou. Tudo continuou, sem diferenças. Perdi! A verdade é que nada é consistente quando se parte da consequência para a causa e se a causa não tem razão de existir, então a consequência é vã.

E mais horas serão horas em que, prisioneira do silêncio e da angústia, a dúvida do que não oiço vai persistindo… E que quereria eu ouvir? O que já sei: que todas as horas foram belas, as que passaste. Que de prazer em prazer, me esqueceste. Que fui preterida em prol do que quero desconhecer, mas que sei existir. Num tempo que lentamente passa, sem hesitações e repleto de negações, que me preenchem hora a hora, sem passado, futuro ou vestígios para além das cinzas que de mim sobrarem.

Se pelo menos uma vez, se pelo menos num breve respirar fundo pudesse ter ouvido dizeres que me amas… se pudesse reviver o doce beijar que idealizei…se não tivesse o medo que tenho de ouvir essa verdade… se não existissem esses amores ofuscantes pelos que te absorvem os pensamentos e os desejos…se tudo isso que me amofina a alma deixasse de me acorrentar à saudade esmagadora dos meus dias…nem ouviria o barulho ensurdecedor que paira em meu redor, enquanto escrevo e tomo este café…

sábado, outubro 01, 2005

O DIA SEGUINTE


A porta bateu com estrondo. A janela não voltou a abrir-se e um silêncio sepulcral passou a reinar no patamar primeiro do prédio mais alto daquela rua.

O Sol zangou-se e escondeu-se atrás de um manto espesso de nuvens cinzentas. Não voltou a brilhar e passou a ser sempre Inverno…

Sempre que passo, apresso o passo para não se prolongar o arrepio que me sobe as costas… e a dor aguda que me trespassa o peito mais parece a de uma espada incandescente, pronta a ser batida por um qualquer ferreiro (que se calhar já nem existe algum…), e que queima todo o meu ser, deixando-o em brasa e depois em cinza, para que o vento sopre e a leve para o lugar deixado vazio, quando aquela porta bateu pela última vez.

A dor, aquela dor sem nome, é o meu dia a dia. É uma dor tão profunda, que não sei de onde vem, nem onde nasce. É a dor que consome, um a um, os meus momentos: A dor da solidão, a dor da saudade, a dor da nostalgia da recordação… e aquela porta não voltou a abrir-se… nem a janela deixou que o cortinado esvoaçasse, nem tão pouco deixou que uma daquelas melodias soasse como música de fundo…

A melancolia que invade todo o meu pensar é uma dor constante, que da alma passa ao corpo. É uma dor somática. É uma dor psíquica. É uma dor carregada de negatividade activa geradora de destrutividade… isso! Um caminho tortuoso para a auto-destruição.

A dor da renúncia sem adeus. A dor da troca sem um insignificante nada como adeus… a porta fechou-se deixando a dor avançar, sem beijos, sem ternuras…sem um simples olhar… só isso! E a dor que sinto é incomensurável porque sem porquês, não lhe resisto…

A dor da ausência domina a existência dos dias que passam sem passar… A dor da tristeza, a azul dor da morte que vive dentro de mim e dentro de mim vive, matando-me a cada minuto… desde que aquela porta bateu com estrondo e nunca mais se abriu…


30.09.05