quinta-feira, dezembro 29, 2005

FRAGMENTOS DE PENSAMENTOS… …

Inconsequente é o sorriso que baila nos meus lábios. Ilógico é este sentir despedaçar de sentimentos. Irracional é este amor por um punhado de nada. Absurdo é todo este sentir a desmoronar-se o que se tenta construir. Paradoxal é o querer perceber porquê se significa tão pouco para quem se ama tanto…

O voo rápido de um pássaro nocturno chama a minha atenção… pareceu o meu suspiro…enquanto aquele pensamento se esbate em quem quer manter o silêncio e quer manter o afastamento… poderá ser o início do que tanto almejei, mas pode ser o fim do que não teve princípio…

sexta-feira, dezembro 23, 2005

MISSIVA

Em meia dúzia de linhas deixei-te a minha missiva. Foram palavras soltas, palavras apenas, para saber se já tinhas pensado, como é belo o que te rodeia: o verde das plantas, o castanho da terra, o colorido das flores…um verdadeiro arco-íris. Como uma coroa por cima das nossas cabeças… Que bom podermos ver cores tão belas…
E também como é bom sentir o quente macio dos lábios do amor da gente… é quase como sermos uma das cores do arco-íris… é como se fossemos um deus do Olimpo. Como se nos sentíssemos uma libélula sobre um nenúfar, num lago encantado…e nunca mais se esquece… Foi ontem? Foi há tanto tempo… que nem as árvores da Avenida das Descobertas se recordam… mas eu recordo e sinto o mesmo estremecer quando lá passo… e continuo a escrever como se fora ontem que ao fechar da porta me abraçaste…e não voltaste… é longe esse além? E tem arco-íris? Voltas para me beijares?

quarta-feira, dezembro 21, 2005

O PRESÉPIO


O nascimento de Jesus começou a ser celebrado desde o século III. A partir dessa data, realizaram-se as primeiras peregrinações a Belém, para se visitar o local onde Jesus nasceu.
Desde o século IV, começaram a surgir representações do nascimento de Jesus em pinturas, relevos ou frescos.
A palavra “presépio” significa um lugar onde se recolhe o gado, “curral, estábulo”. Contudo, esta também é a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo, acompanhado pela Virgem Maria, S. José, uma vaca e um jumento. Por vezes, acrescenta-se outras figuras, como pastores, ovelhas, anjos, os Reis Magos, e outros. Os presépios são expostos não só em Igrejas, mas também em casas particulares e até mesmo em muitos locais públicos.
No século XVI, surgiram em Itália os primeiros presépios. O seu surgimento foi motivado por 2 tipos de representações da Natividade (nascimento de Cristo), a plástica e a teatral: A primeira, a representação plástica, situa-se no final do século IV, esta surgiu com Santa Helena, mãe do Imperador Constantino; da segunda, a teatral, os registos mais antigos que se tem conhecimento são século XIII, com Francisco de Assis, este último, na mesma representação, também contribui para a representação plástica, já que fez uma mistura de personagens reais e de imagens. Embora seja indubitável a importância destas representações da Natividade para o aparecimento dos presépios, elas não constituem verdadeiros presépios.
Passados 9 séculos, no século XIII, mais precisamente no ano de 1223, S. Francisco de Assis decidiu celebrar a missa da véspera de Natal com os cidadãos de Assis de forma diferente. Assim, esta missa, em vez de ser celebrada no interior de uma igreja, foi celebrada numa gruta, que se situava na floresta de Greccio (ou Grécio), que se situava perto da cidade. S. Francisco transportou para essa gruta um boi e um burro reais e feno, para além disto também colocou na gruta as imagens do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José. Com isto, o Santo pretendeu tornar mais acessível e clara, para s cidadãos de Assis, a celebração do Natal, só assim as pessoas puderam visualizar o que verdadeiramente se passou em Belém durante o nascimento de Jesus.
Este acontecimento faz com que muitas vezes S. Francisco seja visto como o criador dos presépios, contudo, a verdade é que os presépios, tal como os conhecemos hoje, só surgiram mais tarde, três séculos depois. Embora não considerado o criador dos presépios (depende do ponto de vista), é indiscutível que o seu contributo foi importantíssimo para o crescimento do gosto pelas recriações da Natividade e, consequentemente, para o aparecimento dos presépios.
No século XV, surgem algumas representações do nascimento de Cristo, contudo, estas representações não eram modificáveis e estáticas, ao contrário dos presépios, onde as peças são independentes entre si e, desta forma, modificáveis.
É, nos finais do século XV, graças a um desejo crescente de fazer reconstruções plásticas da Natividade, que as figuras de Natal se libertam das paredes das igrejas, surgindo em pequenas figuras. Estas figuras, devido à sua plasticidade, podem ser observadas de todos os ângulos; outra característica destas é a de serem soltas, o que permite criar cenas diferentes com as mesmas figuras.
A característica mais importante de um presépio e a que mais facilmente permite distingui-lo das restantes representações da Natividade, é a sua mobilidade, o presépio é modificável, neste, com as mesmas peças, pode recriar-se diferentes episódios que marcam a época natalícia.
A criação do cenário que hoje é conhecido como presépio, provavelmente, deu-se já no século XVI. Segundo o inventário do Castelo de Piccolomini em Celano, o primeiro presépio criado num lar particular surgiu em 1567, na casa da Duquesa de Amalfi, Constanza Piccolomini.
No século XVIII, a recriação da cena do nascimento de Jesus estava completamente inserida nas tradições de Nápoles e da Península Ibérica (incluindo Portugal).
De entre os presépios mais conhecidos, é de salientar os presépios napolitanos, estes surgiram no século XVIII, nestes podiam observar-se várias cenas do quotidiano, mas o mais importante era a qualidade extraordinária das suas figuras, só a título de exemplo, os Reis Magos eram vestidos com sedas ricamente bordadas e usavam jóias muito trabalhadas.
No que se refere a Portugal, não é nenhum exagero dizer que foi aqui que foram feitos alguns dos mais belos presépios de todo o mundo. É de destacar os realizados pelos escultores e barristas Machada de Castro e António Ferreira, no século XVIII.
Os presépios portugueses constituem importantes obras de arte, grandes barristas portugueses ocuparam-se com esta arte. Nestes presépios existe uma conciliação perfeita do folclore português com as correntes estéticas.
O Livro da Fundação do Mosteiro do Salvador da Cidade de Lisboa, de 1618, de autoria de Maria Baptista, refere-se à existência de um presépio ali, antes dos meados de Quinhentos, presépio esse muito venerado.
Há notícia de pelo menos outro presépio em Lisboa, no século XVI, este foi encomendado a Bastião d’Artiaga em 1558 pela irmandade dos Livreiros de Lisboa, para a Igreja de Santa Catarina do Monte Sinai.
No século XVII, os presépios começam a espalhar-se pelo país.
O presépio barroco, no século XVIII, desenvolveu-se em Portugal no reinado de D. João V, recebendo talvez sugestão dos seus congéneres do Sul de Itália.
É neste século que se notabiliza, em Portugal, a produção de presépios pelas mãos de grandes barristas, em especial, Machado de Castro e António Ferreira.
Ora, tanto Machado Ferreira como António Ferreira, e de modo geral, todos os escultores da época, praticaram uma escultura de pequeno formato, em barro, onde a modelação impera.
Dos mais conhecidos presépios de Machado de Castro, destacam-se o da Igreja da Sé Patriarcal de Lisboa e o da Basílica da Estrela, também em Lisboa.
António Ferreira criou também importantes presépios, entre outros, foi ele o escultor do enorme presépio da Igreja Madre de Deus, em Lisboa.
Nesta época, os presépios têm uma presença constante em igrejas, conventos e lares particulares. Infelizmente, muitos desses presépios foram desmantelados, como é o caso do famoso exemplar da Cartuxa de Laveiras, mesmo assim subsistem montados bons exemplares como é o caso do da Sé (1776), o da Basílica da Estrela (1782), o da Igreja de S. José, o da Capela da Senhora do Monte e o da Igreja dos Mártires; desmontados ou apenas com figuras avulsas estão em vários museus, como o Museu da Arte Antiga e do Azulejo.
Os presépios contam com a participação de grande quantidade de pequenas figuras. Contudo, também existem com pequno número de figuras e com uma narrativa mais sintética, como o do Palácio de Mafra, este é um pequeno presépio em madeira atribuído a José de Almeida.
De entres os presépios de maiores dimensões, temos: o da Estela, com cerca de 500 figuras e o da Madre de Deus com cerca de 200. Um outro presépio de grande dimensão encontra-se no coro alto do Mosteiro de Santo André de Ponta Delgada, nos Açores, e integrado no Museu Carlos Machado.
No século XIX, o presépio começou a ser objecto da arte popular, caindo em desuso a criação de presépios monumentais.
Actualmente, o costume de armar o presépio, tanto em locais públicos como particulares, ainda se mantém em muitos países europeus. Contudo, com o surgimento da árvore da Natal, os presépios, cada vez mais, ocupam um lugar secundário nas tradições natalícias.

segunda-feira, dezembro 19, 2005

HISTÓRIA DA RÃ QUE FOI RAINHA


Era uma vez, já lá vão muitos anos, num reino distante, perdido entre montanhas e vales, um príncipe já quarentão, casou-se com uma princesa de um reino vizinho.

A princesa era uma jovem muito bonita, de longos cabelos negros, escorridos pelas costas e tinha os olhos verdes como duas esmeraldas.

Passados uns tempos, morrendo o velho rei, o jovem casal passou a reinar e foi desejado um herdeiro. Tinha de ser um rapaz, pois naquele reino, por tradição, não poderia reinar uma mulher.


(O jovem casal)

Quis o destino que a jovem e formosíssima rainha tivesse uma filha e não um filho.

Também e por tradição, as madrinhas eram as fadas da floresta, que muito prontamente foram chamadas, para que fizessem desaparecer a princesinha do reino, uma vez que não poderia ser rainha.

(Estas eram as fadas madrinhas)


Depois de muito conferenciarem, as fadas decidiram levar a bebé e no lago que separava as montanhas dos dois reinos, deitaram-na dizendo que ficasse rã, até que alguém decidisse que deveria ser outra vez pessoa.

Tempos mais tarde, a jovem rainha, que passara a ter sempre uma aparência muito triste, teve um outro filho. Este veio rapaz e passaria a ser rei por morte do pai.

O rei, que envelhecera e já estava idoso, nunca permitiu que fosse revelado ao príncipe que tivera uma irmã mais velha e o jovem foi crescendo pensando que era filho único.

Estranhava a mãe ser uma rainha tão triste, mas nem ousava perguntar qual a razão de tanta tristeza.

Quando o jovem príncipe já era homenzinho e educado para ser rei, o pai morreu e ele teve de assumir as funções, mas não completamente, uma vez que era muito jovem.

O tempo foi decorrendo indiferente até que um dia, ao passear com a mãe, nos jardins do castelo, o jovem perguntou a que se devia tanta tristeza numa pessoa tão bela. A mãe encheu-se de coragem e entre suspiros e lágrimas, contou ao jovem príncipe as suas desditas.


Prontamente o jovem disse que isso não era justo e era necessário procurar a irmã, porque quem seria a rainha era ela, mesmo tendo de mudar as leis do reino.
Foram chamadas as fadas da floresta que explicaram o que haviam feito à princesa. O Príncipe mandou-as buscar a irmã, mas ficou muito surpreendido quando viu que a sua ordem não estava ser cumprida.



A causa da princesa não poder regressar, era a falta de uma das madrinhas, porque só ela sabia o resto das condições que fariam a princesa deixar de ser rã. Foi então essa fada procurada por todas as serras e florestas e quando chegou à presença do príncipe explicou que teria de ser ele a ir buscar a irmã, uma vez que a decisão de ela ser pessoa de novo era dele.

Fizeram-se os preparativos para ele ir procurar a irmã, enquanto pelas ruelas do castelo onde se cochichava a volta da princesa que ninguém conhecera.

Na carruagem puxada por muitos cavalos ia também a mãe, chorosa, mas na esperança de ser perdoada.



Chegados ao lago, o príncipe apeou-se e chamou a irmã, que saltando rã, lhe caiu nos braços mulher.


A alegria de todos foi indizível, pois jamais se vira algo assim e a princesa, tão bela quanto a mãe e tão bondosa, perdoou, pois percebeu que a força de uma tradição nem sempre é quebrada por falta de coragem e por não se saber enfrentar as mudanças.

Meses mais tarde a rainha, bela, elegante e muito distinta, tomava o seu lugar na sua majestosa cadeira, enfrentando o seu povo e fazendo-o entender como o amava.

Foram felizes, todos, dessa data em diante e jamais se tomaram medidas para que as mulheres não tivessem um mesmo lugar que os homens.

(história contada à Ritinha na madrugada de 11.12.05)

sexta-feira, dezembro 16, 2005

FALTA DE VISÃO…


Na terra de cegos, quem tem um olho é rei… só é pena não ser para ver o povo…

Também, com um só, pouco se faz… talvez nem se consiga ler bem os horóscopos semanais… nem se consiga encontrar um novo apaixonado. Às vezes nem com os dois… quanto mais com um só…
Quem tem razão é a “astróloga” Madame Fausta… Estou a seguir os seus ensinamentos à risca…

segunda-feira, dezembro 12, 2005

UM VULTO


Oportunidade é algo que surge como uma estrela cadente e cada um tem a sua, num momento que desconhece, mas que se volatiliza, se não a soubermos aproveitar… Tiveste a tua. Perdeste-a, porque a embriaguês por álcoois diferentes não deixaram nítida a imagem que tinhas em frente… eram figuras. Apenas figuras esbatidas que te faziam imaginar só…mas a verdade é que não estavas tão só como pensavas, ou como talvez quisesses estar… e as figuras esvaíram-se e passaram a ser sombras e depois do sol-posto já nem eram sombras… não eram nada!

… e ficaste com nada, porque não soubeste aproveitar o pouco que havias tido como dádiva de quem tanto te amava…
12.12.05

sábado, dezembro 10, 2005

MIL PALAVRAS…


A luminosidade desta tarde de sábado ofusca minha solidão. Muito embora esteja uma tarde cálida, estou gélida porque o frio interior não deixa que o calor do Sol me deixe mais confortável. A aragem que sopra mais parece uma canção de embalar, que me torna letárgica, até ausente… eu sou e não sou eu… sou o que o tempo permite que seja…

Ser eu e não ser eu, é algo que me faz sentir dois “eus” em mim e querer ser um e não ser nenhum… o Ser, esse que está sempre comigo, que é o “eu”, eu, esse entre um múltiplo de turbilhões, de ideias, de emoções, umas mais descoordenadas do que outras e que realmente está sempre comigo, é aquele que excluo, mesmo que temporariamente, para ser o eu que realmente não existe em mim… é a versão imposta, aquela que me faz ser a forte, a risonha, a admoestada, a que enfrenta a sociedade onde se insere e se mistura com ela, numa revolta sem dimensão. Porque a frágil, a carente, a vulnerável, essa “eu”, tem de se esconder, tem de se submeter ao seu restrito refúgio das mil palavras, onde as lágrimas são permitidas e a torrente das letras é um rio tumultuoso entre penhascos incomensuráveis…

Se penso e porque penso, escolho. Mas escolho o quê? Que decisão coerente posso tomar, a não ser a de esconder o que transborda por todos os meus poros? Que escolha fazer entre o ir e o ficar? Que posso esperar de qualquer das situações?

Ontem! O meu ontem é longínquo como distante está o cosmos… e no entanto ainda me afecta como se fora uma hora antes… e jantaste com ela… e nunca me disseram nada… e porquê? Então havia consciência de que isso me iria ferir… Passados todos estes sóis, quando já nem posso reclamar, contas-me tudo isso?... “Entrecosto grelhado!...” Creio que nunca mais voltarei a comer disso… ver-vos-ei sempre no prato… Só queria recordar o belo, o inexistente e afinal aquele “eu” só me traz o que me obriga a ser de novo forte e admitir que não sei de nada…

Se me libertasse desse tempo, do tempo passado, de todos os tempos passados, poderia talvez aclarar algumas ideias para o futuro… se chegar a haver futuro… porque se o futuro não for agora, não irá ter lugar mais adiante… não lhe vou dar essa oportunidade… voltar tudo ao mesmo… nunca! São muitos passados num passado sem tempo e isso não suportaria… afinal nunca passei da minha insignificância...

O Sol descai agora do outro lado e as sombras espreguiçam-se pelo monte acima, deixando que sinta o acentuar do frio da meia tarde… Como passou depressa esta tarde… nem deu para contar os pares de lágrimas que vão rolando pela face, num corrupio sem justificação…

Julguei que abrandaria toda esta amálgama de dores se pronunciasse o teu nome baixinho. Admiti que serias o elixir para abrandar o que me dói, mas não me ouviste, nem tão pouco admitiste que te estava a chamar… estou mesmo só…

E a tarde continua a descair. Não vejo aonde o Sol se vai deitar, mas conheço a paisagem de cor, por isso, vejo-o escorregando lentamente na linha do horizonte, depois das dunas do Guincho… aqui apenas vejo a sombra, com passadas de gigante, a beber as verduras do monte e a deixar uma crista luminosa como que uma auréola…

Com o acender dos candeeiros vou guardar o meu “eu” e deixar que o meu “eu” retorne às rotinas do habitual, entre suspiros de revolta e de aceitação, porque mais um dia vai morrer e com ele mais um pouco de mim se esvai…

10.12.05

quinta-feira, dezembro 08, 2005

RABISCOS NUMA FOLHA SOLTA


Bela acabou de se matar. É assim que começa o último livro que me ofereceste. É todo o historial de vida, morte e pós esta, de Florbela Espanca. É muito bonito, está muito bem escrito e se escrevesses uma dedicatória, possivelmente, dirias que são talhadas de vida de alguém preterido pelo amor e com uma mente tão perturbada como a dela…eu!

Semelhanças, poucas. Apenas o sentir em palavras, o que a alma deixa transvazar, depois da solidão e do inconformismo de não se sentir amada. Apenas a não coragem de sentir o prazer que pode dar um desvio na linha traçada, em uma qualquer cama, rugindo de satisfação, para abafar os urros que o amor poderia dar, se o tivesse encontrado…

Semelhanças…nenhumas, diria mesmo…só a de vontade de morrer, de me auto liquidar, para não sentir o que sinto, quando sinto que há um desmedido ódio contra o que a Natureza deixou para me aniquilar… pretextos, análises exacerbadas de moralismos inexistentes, sobretudo ao saber-te na boca de uns lábios carnudos e desmedidamente acutilantes, até ao desvario do prazer… são os gomos de uma laranja… que dizes doce, mas que me azedou o espírito e que ao degluti-la me deixou enfastiada, sem que te desses ao trabalho de me observar… e quantas laranjas não vais tragando, sem que me peças para provar… mas do suco que sobrar, com o veneno abençoado, vais um dia recordar, que mesmo com esse gosto, jamais deixei de te amar.

A grande morte, como escreveu o autor do livro sobre a Bela, será também a minha. Vão ser necessários, não três anos, mas uma vida inteira para dissecar os meus escritos, escritos de uma morte lenta, de uma morte que se foi processando ao longo de uma inexistência…

Para a minha amiga, que não soube esperar por mim, para lhe contar o como se iria desenrolar o resto dos meus dias e para ele, o ele que sem ser, sempre foi, não poderei deixar mais nada senão o sopro do último segredo que vou levar comigo – o de amar sem um amor…

Ontem passou mais um ano sobre o suicídio de Florbela, aos trinta e seis anos. Ontem, sete de Dezembro, fez um ano e sete meses que tu tomaste a tua punção aniquiladora… e tu, a vinte e sete completarias mais um aniversário, não fora a doença… poderias viver… Eu! Fui ficando, escrevendo, procurando até que a morte nos separe…

08.12.05

sábado, dezembro 03, 2005

SÓ NO DESERTO



Perdida neste deserto, solitária
Cheia de espinhos e dores
Sou planta, não alimária,
Mesmo assim, sofro de amores…

Sou um cacto neste deserto
À procura dos teus sabores
Mas sem água por perto…
Apenas vivo de amores…

E no deserto arenoso, solitário,
Agarro-me a um amor imaginário
Porque de verdade só há deserto…

Sem ramos, mas de bicos afiados,
Ainda espero abraços apertados,
Que sejam do areal que tenho perto…


03.12.05

quinta-feira, dezembro 01, 2005

IDIOTA!


Fica-me bem a designação. É exactamente como me sinto – uma perfeita idiota.

Gostar muito! Amar! Que idiotice!

Não tenho sido senão um palhaço, um robot animado para motivo de chacota.

Sonhar com sentimentos que há muito deixaram de fazer parte do teu mundo, não passou de uma idiotice. Apenas existem os que te fazem vibrar e nesses nunca fui incluída. Idiota! Pensaste que ias mudar o que já deu todas as voltas e volta ao ponto de partida.

Idiota! Como foi possível imaginares que algo ia mudar e que finalmente saberias o que tanto desejavas saber?

Idiota! Ouviste o que possivelmente não desejarias ouvir, sobretudo de quem o ouviste. E que vais fazer, idiota? Vais ter coragem? É desta vez que não vais sobrar, nem para recordação?

Idiota! Mil vezes idiota! Admitiste que poderia ser verdade! Mas enganaste-te. Idiota!
Apenas fui idiota!