segunda-feira, fevereiro 27, 2006

SUSPIRANDO…


A noite está tão calma e aprazível
Com estrelas cintilantes aqui e além.
Em meu redor há uma beleza indizível,
Que embora de todos, é de ninguém…

Ninguém na rua. Nem sombra visível.
Não há luar, nem aragem em vai e vem
Apenas o meu triste chorar: Incrível! …
Choro de quem tudo tendo, nada tem.

E os pássaros da noite choram comigo
Num bailado solitário, sem um amigo,
Sem o ombro acolhedor onde chorar…

E tu, amado querido lá longe, no além,
Partiste sem adeus, para seres ninguém…
Até esqueceste de deixar quem possa amar…

27.02.06

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

MANSAMENTE


Qual Adão, veio assim, tão mansamente,
Cobrindo-me como o sol, com o seu olhar,
Dizendo sem falar, muito silenciosamente,
Que apenas era a Vida: vinha para me amar…


Nada trazia. De mãos livres e carente,
Com o mais terno olhar e um doce beijar,
Apenas vinha com um desejo na mente:
Brincar com a minha ilusão de o amar…


E veio esse Adão de verdes folhas coberto,
Que se mostrou liberto e apenas é um deserto,
Ávido de dominar “Evas” em decadência…


Insaciável, sempre manifestamente carente,
Deliciosamente teatral ou às vezes ausente,
Aguça o nosso amor com toda a sua inocência…


24.02.06

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

QUARTA-FEIRA


Pinceladas de nuvens brancas rabiscaram o azul do céu e pareceu um quadro magnífico.
O Sol brilhou no prateado do rio e pareceu um sonho de fadas dançando à luz de velas.
Os pássaros cantaram e pareceu uma orquestra deixando que uma melodia apaziguadora anunciasse para breve a primavera…
As notícias difundidas não são nada melodiosas e obrigam a que o pensamento se esvaia em mil e uma preocupações.
Com tanta coisa que nos absorve, acabamos por esquecer que o que está mais perto de nós e que também deveria ser um ponto de observação. Afinal, nem é necessário ler os jornais, nem ver televisão ou ouvir rádio, para sentirmos na pele as golpadas de desonestas identidades que cobram indecorosamente o que não se gastou, que “se enganam” nos trocos, que apelam para a nossa sensibilidade para nos espoliarem, para nos vender algo que não necessitamos… enfim, não teria mesmo fim a lista de tudo o que deveria ser um centro das nossas atenções, para não cairmos nas múltiplas armadilhas que nos põem aos pés a cada momento.
Mas viver não é só isso. Há coisas belas e pessoas belas, embora muito poucas, porque parece que até se envergonham de mostrar a sua beleza, ante tanta negatividade…

terça-feira, fevereiro 21, 2006

EM SUSPIRO


Jamais pensei amar assim, tão doidamente
Olvidando até por quem outrora sonhei…
Repudiando sonhos que criara, antigamente,
Ganhando novas forças, esquecendo a saudade
E as amarguras geradoras de tanta infelicidade…

Jurei esquecer a tristeza, lutar e ir em frente
Ou esperar sem tempo pelo que idealizei.
Rasguei todos os escritos do antigamente
Gozando toda a ternura da suposta verdade
E viver enfim, toda uma bela realidade…

Realidade? Apenas um sonho de ilusão…
Ou talvez apenas uma triste fantasia…
Sinfonia inacabada de sonhos de verão
Acompanhando a minha eterna agonia……

21.02.06

PARÁGRAFOS DO DIÁRIO

Num saltitar nervoso, os dedos saltam de tecla em tecla, tentando escrever o que passa na mente numa rapidez incontrolável.
Da lágrima ao sorriso, do sorriso ao choro desenfreado, do suspiro ao grito ensurdecedor com as palavras a empurram-se, sem espaços… sem pontos ou virgulas… sem conseguirem encontrar o seu significado… são as minhas palavras. As palavras simples que fui escrevendo e que em mentes eruditas, iluminadas, enriquecidas pelos luxos e pelo compra que compra, sem olhar o humano de cada um e que não passaram de palavras, de cobrança, palavras de entretém… vil forma de encarar o amor… se é que se sabe o que é o amor ou se esconde o porquê nunca se amará ninguém, a não ser para vingar o que cruelmente se cria na mente e no corpo, sem olhar a gastos…
Mas mesmo numa escrita desconexa vou procurando encontrar o que no dia a dia tentei dizer, mas que não dizendo fui fazendo crer, porque a limpidez do sentimento é algo que não se pode manobrar e o não é sempre bem claro, ou não, se não se quiser entender… porque amar, amar sem, sem nada de volta, é belo e triste, é belo e imenso, é belo e doloroso, mas grandioso… e é assim que eu gosto, gosto de quem não gosta de mim, gosto de quem nem pensa em mim, de quem nem se lembra de um ou outro momento que ao cruzarmo-nos, os nossos olhares se tenham cruzado também, gosto de quem tem outros amores, outras linguagens, outros entenderes, mas gosto, não pela diferença mas pelo imenso amor que necessita para sobreviver…mas não posso gostar de quem pensa que carros, aviões, diamantes ou peles de animais assassinados, me possam satisfazer… um simples dar de mão, um beijo carinhoso, um sorriso compreensivo…valem tudo… sem preço!
E mais uma vez penso na minha amiga que sem nada se finou, porque amando se deu a quem nada lhe proporcionou…
…e quanto ao resto, eras tu que tinhas razão, amiga…

domingo, fevereiro 19, 2006

LOUVOR AO DIA 19


Deitei-me numa estrela a brilhar
E fechei os olhos para te sentir.
Deixei-me arrastar no terno beijar
Sentindo em mim, uma rosa a florir…


Guardei em meu sonho teu paladar,
Gritei à Lua que não queria partir…
Porque estava feliz, por te amar
Mesmo que o sonho me estivesse a iludir…


Cruzei-me com a estrela do amor,
Pedi-lhe que jamais me desse dor
E que durasse sempre o encantamento…


Deixei-a abraçar-me intensamente
Para que numa loucura permanente
Jamais saísses de meu pensamento…


19.01.06

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

IDEIAS ASSEXUADAS

Inofensivo não!
Oportunidades … futuras
Ingénuo não apetece…
Subtil rejeição,
Faz-se o jeito…”merece?”

Porque se foi a ilusão…
E o diálogo esgotou;
Quando nada mais falta
E saturam as ternuras…
Até a vontade fenece….

Chegando a força da paixão,
de lábios grossos de quem
Timidamente e com mesuras
Ao pôr-do-sol aparece,
E raios de luz da lua tem….

Usa-se a palavra razão
E a coruja pardacenta,
Cruzam dados: convém!
Nasce discurso de embuste,
De esperteza, comovedor…

E os sorrisos mordazes
De jogos pseudo sexuais
Desviam toda a atenção
De quem procura um ajuste
Em sensações reais…


17.02.06

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

IRRACIONALIDADE


E se houvesse um seixo,
de rocha em rocha a rolar,
Seria meu amor a partir…
Seria o tal sentimento
Que sem um olhar deixo,
Deslizar, até se afundar…

E se houvesse um caminho,
Como estrada de alcatrão,
O seixo iria sempre a rolar,
Como o tal sentimento,
Que só deixou ilusão,
E no mar ia acabar…

Caído no fim do rochedo,
Lá estará o meu amor:
Despedaçado, desintegrado…
Sem cobardia nem medo,
sem mais mentira ou dor,
apenas um amor acabado…


14.02.06

terça-feira, fevereiro 07, 2006

THIS IS YOURS


Stay on your own
If it is your desire
Become someone alone.
Be happy in your way
And let me cry…
Look for another guy
Or stay all alone,
But my tears will never dry …

Stay at your home
You don’t need me
Any more…

The mountain
And all the trees
go on waiting for you
as they wait for rain..
Be happy with your mates…
Forget all those dates…
And only say good bye …
Forget my flowers,
My smile,
And go on alone…
For ever… without me…


06.02.06

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Das – der Wahrheit Freier?...


Nicht still. starr.glatt.kalt,
zum Bilde worden,
zur Gottes-Saule,
nicht aufgestellt vor Tempeln,
eines Gottes Thurwart:
nein! Feindselig solchen Tugend-Standbildern,
in jeder Wildniss heimisher als in Tempeln,
voll Katzen-Mutwillens
durch jedes Fenster springend
husch! In jeden Zufall,
dass du in Urwaldern
unter buntzottigen Raubthieren
sundlich gesund und schon und bunt liefest,
mit lusternen Lefzen,
selig-hohnisch, selig-hollisch, selig- blutgierig,
rauben, scleichen, lugend liefest...

... ... ... ...

Isto – o pretendente da verdade?...


Não quieto, rígido, liso, frio,
tornado estátua,
não como coluna de céus
colocada diante dos templos,
guardião de um deus:
não! hostil a essas estátuas de virtude,
mais íntimo dos desertos que dos templos,
cheio de felina malícia
saltando por qualquer janela
upa! Para todo o acaso,
pelo faro procurando qualquer floresta virgem
para que nas florestas virgens,
entre feras de pêlo malhado,
corresses pecaminosamente são e belo e colorido
com beiços lúbricos,
ditosamente escarninho, infernal, sanguinário,
corresses roubando, rastejando, mentindo…

… … … ..

Este pequeno fragmento da poesia NUR NARR! NUR DICHTER! (Só doido! Só Poeta!) de Nietzsche, é muito belo, por isso partilho-o com quem o vier a ler…