sexta-feira, março 31, 2006

A NOITE

A noite vai fria dentro das horas que vão escorrendo através dos ponteiros do relógio, sem que olhem para quem os vai vendo, passo a passo, a marcarem um tempo diferente, tão diferente daquele que queria que fosse passando.

O tempo teve o seu tempo e todo o tempo teve a sua oportunidade de ser o tempo ideal. Não esqueço o que o tempo me deu e o que me tem tirado, sem que tenha possibilidade de recuperar o que quer que seja.

As dúvidas que com o tempo foram crescendo, deixaram aumentar a angústia que me domina no tempo de agora. A incerteza que me assalta a cada instante, destroça-me a vontade, aniquila-me a auto-estima e extingue a última etapa deste tempo vazio e sem perspectivas.

Um cansaço incomensurável instalou-se no meu ser, como se tivera acabo de subir uma alta montanha… e subi realmente. Subi a montanha da desilusão… Do cume da escarpa olho para os desaforos que me atormentam, como se fossem penhascos pontiagudos, de rochas afiadas como gumes de facas… que me foram parcelando os desejos, me foram retalhando em finas tiras de desespero e de nojo pelo procedimento desajustado daqueles com quem me fui cruzando, aquando da minha passagem até aqui…

E a noite estrelada e fria vai subindo no horizonte da existência que vou vivendo sem viver, porque só se pode viver se a plenitude do todo for real e tão cansada jamais conseguirei abandonar este ninho de abutres onde me refugiei e donde queria partir…

30.03.06

sábado, março 25, 2006

FOR ME


I sent for the clowns
to make me laugh.
A smile is not enough
to whom suffers so much.

I sent for funny people
with their crazy jokes
to be happy in a circus
and to forget
and to forget more and more
laughing…

I sent for the clowns
to make me laugh,
to dry my tears
to forget my suffering
with a new paragraph…

To fall in love again
with someone else
in a crazy love
without suffering or pain.
So I sent for the clowns
to make me laugh
and not to be myself in vain…

quarta-feira, março 22, 2006

POESIA


Acontece escrever neste dia,
Acontece ser manhã de Primavera,
Acontece caminhar por Lisboa,
Acontece que há gente que morre,
Acontece que há gente sofrendo:…
Por fome,
Por doença,
Por drogas…
Por egoísmo
Por serem gente!
Acontece pensar em ti, agora.
Acontece que, mesmo assim não me apetecia.
Acontece que tudo apenas é quimera
Acontece que vou à deriva, ando à toa
Acontece que minha alma chora,
Porque há quem sofra,
Porque há quem espere,
Porque ainda há homens ignorantes,
Porque há mulheres violadas,
Porque o orgasmo não é sentido…
Acontece mesmo assim, poesia
Acontece estar perdida pela Blogosfera
Acontece ser como uma joaninha: voa…voa…
Acontece sempre o que querem, não o que queria…
Porque o Amor é magia,
Porque se perde na Montanha,
Porque prefere a juventude,
Porque apenas valho um Nada…
Porque um Nada é a Morte…

… E assim surge a poesia…
Acontece hoje, muito verdadeira,
Acontece, porque tem este dia,
Acontece porque foste um agora,
para a vida inteira…

21.03.06

domingo, março 19, 2006

NOITE


Peguei num cigarro e olhei-o nos olhos e escutei atentamente as suas palavras mágicas: “Amo-te!”

Quem diria que tão hirto, pálido e frio me segredava o que mais queria ouvir?... Sem exigências, esperou que o apertasse entre os lábios e sugasse a sua magia…

Esperou em vão. Esperou em desespero, porque apenas o ouvi repetir vezes sem conta que me amava… enquanto eu apenas o olhava, cheia de dúvidas, numa inconstância de sentimentos…

Prometi não voltar a sentir o seu prazer, deliciando-me com outros prazeres, que no oculto da noite, entre chuva violenta, punham-me na mão o segredo de algo mais belo e profundo, que o amor de um simples cigarro…

E o meu segredo não falou e disse tudo. Não tive de o entrelaçar entre os dedos numa carícia temporária… mas ficou como o mel, colado nas minhas mãos, bebendo os meus sentidos e num rumo incerto pelo mar de estrelas que iam espreitando por entre as nuvens que num emaranhado de novelos escuros, faziam com que chovesse copiosamente…

E foi a noite entrando pela madrugada, suspirando de angústia, apaixonada, falando silêncios, como se fora um lindo diálogo de amantes… ou um simples monólogo dos que estão vagueando pela solidão entre os estreitos e escuros trilhos da noite escurecida pelas bátegas da chuva que vai caindo…

18.03.06

sexta-feira, março 17, 2006

LIBERDADE, LIBERDADES E OUTRAS AMBIGUIDADES

Liberdade! Ora se a minha acaba onde começa a da pessoa mais próxima, a minha é mesmo muito diminuta. Não a minha! Mas a de todos nós. Se por exemplo nos estivermos a beijar… para não falar de mais nada, nem se vê bem onde começa uma e acaba a do outro. Lá se vai a teoria de que cada um tem o seu espaço e não deve invadir o espaço do próximo… isto se não quisermos entrar no espaço do pensamento…

Liberdades! Tretas! Onde estão elas? Mesmo com todas as liberdades vamos ficando privados disto ou daquilo…Não se deve isto, não se deve aquilo… fumar, conduzir com mais de x% de álcool no sangue, falar ao telemóvel na estrada quando se conduz, falar do que se deve silenciar, fazer compras sem fundos, fazer grandes elogios, quando estes não passam de palavras… dizer que se gosta disto ou deste, desta ou daquilo, só para fazer jeito… enfim, se especular bem sobre as nossas liberdades, vou seguramente entrar em outros campos, que muito possivelmente, não serão do agrado, como o do acto de pensar… Pensar!

Ambiguidades! Pois é! Pensar é quase uma ambiguidade. Nem convém que se pense, porque se passa a inconveniente e deixa-se de ter lugar entre os reais pensadores… esses pensaram para que se lhes siga o pensamento…

Pensar? Pois! Que conveniente é não pensar! Porquê pensar? Pensar em quê? Como direccionar a linha do pensamento? Pensar, pensando profundamente nos fundamentos que nos levam a pensar isto e aquilo, é realmente pensar e nem sempre convém à massa humana que nos rodeia, que pensemos… Assim, os pensadores dominam, mandam, constroem e destroem conceitos, preconceitos e múltiplos mecanismos de controlo, domínio, aconselhamento e direccionamento dos pensamentos dos “apenas” simples pensantes…

Inventam-se palavras, cujos significados também são inventados e os pensadores abrem assim um manancial de alternativas de domínio dos pensantes básicos, que dominados, aconselhados e direccionados, regem-se pelas teorias dominadoras do pensamento dos tais pensadores… As OPAS hostis aos pensantes básicos quando estes se querem evidenciar e admitiram ter conseguido começar a pensar…

E se pensássemos mesmo, sem a perspectiva de criticar negativamente e começássemos a construir mais, não seríamos mais positivos?

17.03.06

terça-feira, março 14, 2006

MAIS UMA FOLHA SOLTA…

Depois de me deitar muito tarde, levantei-me muito cedo, porque o peso dos pensamentos faziam com que a cabeça se afundasse pela almofada, que húmida de umas boas horas de choro, começou a ser incómoda.

Uma vez fora da cama, para ocupar o tempo que iria passar lentamente, comecei a pegar em algumas folhas soltas que se espreguiçam pela mesa de trabalho e encontrei recortes de revistas, fotocópias de trabalhos antigos misturados com outros mais recentes, da psicogerontologia, apontamento de sites a consultar e um sem número de outros escritos e notas que vou fazendo, de coisas que oiço e que dizes e que vão deixando cicatrizes de difícil cura……

Deixo-me perder entre o que não existe e que embora vá existindo, não faz sentido e às vezes leva a que um sorriso cómico-idiota me aflore aos lábios, para depois me desfazer num pranto imenso…

Deixo que a imaginação me faça sentir a tua mão tépida passando pela face, contornando a boca, afagando o pescoço e feita adolescente sensual, deixo-me arrepiar ao som da tua voz “Et je chante pour toi” … … …

Pelo que vou estudando e consolando a minha sede de saber, que parece insaciável, vou constatando que o que sinto, não está, de forma nenhuma, fora do contexto da realidade do ser humano. O tabu e o preconceito continuam a ser formas limitativas de realidades, que a natureza pôs em cada um de nós. Aliás, rodeados de limitações, resta-nos apenas ser o que querem que sejamos e não o que somos. Que frustração!

Don’t worry! Be happy!!! Dizes do além, como se realmente quisesses que assim fosse…… I’ll try. I promise……

E as horas escoam-se no dia que vai descaindo no horizonte, sem que, para além do monte, eu não veja senão o brilho dos teus olhos semi-esverdeados, quando estás feliz…

13.03.06

quarta-feira, março 01, 2006

PASSOS E PASSOS


De vagar, deixo-me vaguear neste jardim.
Meus olhos vão passeando pelas flores;
Percorro os troncos de árvores sem fim
E deixo uns suspiros aos meus amores…

Cada som ecoa uma agressão feita a mim
E o empedrado irregular causa-me dores
Interrompendo meu pensar, como chinfrim
E eu só quero silêncio para adorar as flores…

Queria verter lágrimas. Chorar de verdade.
Mas meu choro secou ante tanta crueldade…
Apenas alguém… Alguém? Eu sou ninguém…

Apenas sou a estátua de granito escuro e frio
Que olha indiferente as calmas águas do rio
Enquanto aquele amado vai rindo com desdém…

01.03.06