sábado, fevereiro 07, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Este lugar liga-me muito à minha infância e à minha avó Maria, repetia Magda pondo uma certa ênfase no som das palavras.
Magda ia passando de recordação em recordação e enquanto caminhávamos, falou-me de uma loja onde a avó comprava tecidos e roupas variadas. A Dª. Celeste, uma senhora “loira” (seria?) E não muito nova, de óculos de lentes bem fortes, adorava sentar Magda no balcão, enquanto ainda era muito criança, e entre caixas de soutiens e de culotes, ia admirando a avó Maria a conjugar cores e feitios e a Dª Celeste a opinar que pijama seria mais confortável para a Magda, que se ia distraindo com tudo aquilo.

Magda ainda falou da drogaria onde se abasteciam de múltiplos produtos para limpeza, incluindo um produto que Magda diz parecer-lhe ter desaparecido do mercado e se chamava cloreto. Segundo parecia, era para branquear as roupas.

Depois perguntou-me se já me havia falado da morte da avó e acrescentou que a avó Maria havia falecido com a idade em que ela, Magda, estava.

Tinha tanta tristeza na sua voz e na expressão do rosto, que me apercebi de imediato que também havia um pouco de luto patológico interligado com outros estádios depressivos de Magda.

Continuámos até à margem do Tejo e Magda disse-me que além se apanhava o barco Cacilheiro para a outra banda, onde ia com certa frequência com a avó e a Tia e às vezes com a mãe, almoçar ao Ginjal, onde comiam chocos na tinta ou grelhados.

E continuou,

Ao longo da Doca, havia a lota do peixe, onde se acumulavam caixotes e caixotes de peixes diversos, mas sobretudo sardinhas, por altura do verão.

Magda estava visivelmente emocionada, mas um pouco menos triste e continuou em ar de desabafo, dizendo que a partir de certa altura da sua vida, passou a detestar a “outra banda”. Havia o episódio da jovem que namoriscava o seu amado. Tão infantil e tão ingénua se sentia naqueles tempos, por isso sofria tanto com medo de perder o que julgava ser seu – um amor!

De repente Magda parou e pediu-me que olhasse o seu pulso esquerdo e visse as cicatrizes e explicou que eram marcas de dores, para apagar outras dores, cujas marcas não se viam. Depois continuou no seu passo cadenciado que quase me fazia correr para a acompanhar.

O Tejo! Esse sim. Era aquele lençol de água com terra à vista do outro lado. Naquele tempo não havia ponte no seu horizonte. Um horizonte estreito mas que a transportava a sonhos inatingíveis, que poisavam naqueles barcos todos, com bandeirinhas multicolores à volta, que aguardavam o embarque dos homens, cujas mulheres mais pareciam umas bailarinas, com saias de fazenda em xadrez colorido, com pregas muito miudinhas e muitas saias de baixo com rendinhas e espiguilhas coloridas ( a avó dizia que eram mulheres da Nazaré, terra de pescadores, muito longe...), que depois dos homens se fazerem ao mar, choravam em lamúria pelas esquinas do Cais do Sodré, às vezes por muitas semanas, enquanto esperavam pelo regresso dos seus homens, que haviam partido para a pesca do bacalhau. Se não voltavam vestiam-se de luto carregado, quer dizer, toda a roupa preta e choravam e choravam…

(continua)

sexta-feira, janeiro 30, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Voltou a referir que as férias de Natal desse ano haviam sido a sua primeira experiência de férias e disse não conseguir recordar quais as prendas que havia recebido nesse ano. Apenas que, como sempre acontecera até aí, para além dos preparativos para a festa, e de ajudar a mãe a montar a Árvore de Natal e o Presépio, escrevera uma carta ao Menino Jesus a pedir as prendas, mas desta vez, já escrita com a sua letrinha um pouco torta e na noite de vinte e quatro de Dezembro, com toda a família reunida, pôs o sapatinho na chaminé.

Foi interessante ouvir a descrição que Magda fez da Loja da Dª Maria, que vendia loiças e onde os barros eram às carradas. Falou nisso porque se lembrou de que nesse ano a avó lhe comprara umas ovelhinhas para o presépio e um mealheiro
bojudo, também em barro, para lá deixar as suas economias…

Passaram duas horas! Como o tempo passou tão depressa! referiu ela...


Magda ajeitou a saia ao levantar-se e ao despedir-se pediu-me que a sessão seguinte fosse fora do gabinete. Fiquei surpreendida mas agradou-me a ideia pois queria começar a analisar a minha cliente em outros ambientes.

Logo que Magda saiu, apontei algumas notas, para não me esquecer de como conduzir a sessão seguinte e planeei algumas alternativas, aonde iríamos passar a tarde da próxima quarta feira.

A QUARTA SESSÃO

Magda havia telefonado para o meu gabinete ao final da manhã, para que nos encontrássemos nas imediações do Largo do Camões, pelas quinze horas. Pois significava que Magda me estava a fazer sair do gabinete quinze minutos mais cedo do que a hora a que a havia de a receber…
Perguntei-me milhentas vezes porquê aquele local, porquanto havia imaginado que me levaria para um qualquer jardim da cidade, por me parecer se coadunar mais com as suas características.

Chegámos ambas ao mesmo tempo, embora por trajectos diferentes.

O nosso cumprimento já foi um afectuoso beijinho na face e a seu pedido começámos a descer a caminho do Cais do Sodré.

À medida que caminhávamos, Magda ia descrevendo a rua que tão bem conhecia, pois fora o local onde passara os primeiros anos da sua infância.

Naquele local ali à esquerda, onde não existe nada senão carros mal arrumados, dizia Magda, fora um prédio onde estavam instalados escritórios da Electricidade de Portugal, pois um tio avô que era engenheiro, tinha aí o seu gabinete, que Magda adorava visitar, por ter tantos papéis e máquinas, que lhe despertavam tanta curiosidade.

Continuámos a descer e aproximávamo-nos do rio...

(continua)

sábado, janeiro 24, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

como se não tivesse havido uns dias de intervalo

Mas houve uma variedade de histórias que impressionavam Magda de uma forma acentuada, eram as histórias sobre animais e em que estes falavam, como a Lebre e a Tartaruga, Os Três Porquinhos, A Cabra Cabrês, O Peixe Rei e outras em que o rei da floresta era o Leão, mas Magda segredou-me que não concordava, por preferir o Elefante, que era enorme e que nem comia gente e parecia ser um excelente meio de transporte.

Recordou as idas ao Jardim Zoológico e da moeda que dava ao elefante para tocar um sino. Recordou o que a divertia ver os macacos a olharem para um espelho e as girafas, com uns pescoços tão longos, como eram tão elegantes...Magda disse-me que antes de ir para a Escola, chamava ao Jardim Zoológico o “Jardim do Relógio”, porque a verdadeira palavra era muito difícil de pronunciar, tal como papagaio, a quem ela chamava “pacagaio” e tinha uma simpatia especial por estes animais.

Mas a história de Mobby Dick, a grande Baleia, contada pela Avó Maria, era a história que a deixava mais apreensiva, pois era inimaginável existir um animal tão grande, como era esta Baleia. Por essa razão achava as histórias da Avó sobre a Madeira e os Açores e a pesca da Baleia cruéis, mas ao mesmo tempo aceitava. Achava que as baleias eram ilhas flutuantes e vivas e que até podiam ser perigosas...

Magda acentuou que estava sendo educada dentro de uma ingenuidade e carinho que talvez não correspondessem muito profundamente às realidades desse período. Talvez a Avó quisesse preservá-la de tais realidades, bem mais adversas... Poucos anos antes terminara a Segunda Guerra Mundial e todo o Mundo vivia mais ou menos sob as consequências de tão nefasto período.

Magda levantou-se. Bebeu um pouco de água e voltou a sentar-se e olhando-me disse não ser tão fácil viver, como na realidade deveria ser e continuou.

Na Escola, além das letras e números, Magda foi alertada para outras realidades. Eram realidades que desconhecera até essa altura, como castigo, réguadas, orelhas de burro, enfim... Eram impostas por seres humanos como ela, muito mais velhos, mas rasgavam-lhe o horizonte mostrando que havia diferença entre a sua casa e o fora de casa. Além disso, mas sem grandes explicações, na escola falavam de Deus, Pátria e Família! Mas tão diferente do que havia no seio da família...

Deus! Magda ouvira a Mãe e a Avó falarem do Menino Jesus; Magda costumava ir à Igreja e até acompanhar a Avó Maria em Procissões e aprendera a falar com Jesus para não a deixar fazer asneiras. Mais tarde, como havia o “culto” do pecado, Magda repetia vezes sem conta as suas asneiras, junto a uma janela, para que não as voltasse a repetir, pois tinha um medo incomensurável de ser pecadora. Contudo, ter conhecimentos com a profundidade do Catecismo, só na Escola, embora percebendo sem perceber, no decorrer das aulas de Religião e Moral acabou por saber recitar a Avé Maria. Mas para a simplicidade de Magda, que quereria dizer tudo aquilo, quando ainda mal sabia soletrar a palavra ta-bu-a-da?

A Avé Maria era a oração dita em conjunto por toda a classe, antes de se iniciar a aula e ao finalizar esta, em cada dia da semana.

Magda confundia Pátria e família, pois a sua dimensão de Pátria, tendo em conta que era o país onde nascera, pouco mais além ia do que o que via da janela da sala, do quarto andar onde havia nascido e vivia. Família, para além dos pais e avós, eram os tios, padrinhos e primos que tinha por perto, os demais, eram apenas pessoas...

(continua)

segunda-feira, janeiro 19, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

A Terceira Sessão

Magda chegou cinco minutos antes da hora marcada, mas como a aguardava, entrou de imediato no meu gabinete e depois de se instalar no sofá à minha frente, recomeçou a sua descrição de vida, como senão houvera parado por uns dias…

O Natal surgiu mais ou menos três meses depois de Magda ter iniciado a sua vida escolar.

Nos anos cinquenta, o ano escolar tinha o seu dia inaugural a sete de Outubro.

Magda parou um instante de falar, e sorrindo disse-me “sinceramente, estou a ser muito pormenorizada, não é verdade?” Respondi-lhe que o que interessava era dizer tudo o quanto necessitasse, pois seria essa a forma de podermos encontrar o ponto onde haviam iniciados as suas angústias, tristeza e medos, por forma a colaborarmos no seu desvanecimento.

À medida que Magda ia relatando a sua história, eu observava as múltiplas contracções de sobrancelhas, o encolher do lábio superior, por sinal muito bem desenhado, e ia concluindo que naquela parte da vida de Magda, nem tudo era tão risonho como ela o tentava fazer crer.

Passaram alguns minutos além das duas horas e Magda voltou a parar, levantando-se, pediu para pararmos.

Despedimo-nos e marcámos nova sessão para daí a dois dias no mesmo horário e ainda no meu gabinete de atendimento.

Dois dias depois…

Estava impaciente com o aproximar da hora de chegada de Magda.

Havia algo naquela mulher que me suscitava uma curiosidade imensa e me fazia imaginá-la como alguém misterioso e com angustias muito bem disfarçadas. O “toque-toque” dos nós dos dedos na porta do meu gabinete de atendimento e o seu característico “dá-me licença” fizeram-me acordar de uma sonolência que me deixara melancólica e ansiosa.

Depois de se sentar na poltrona à minha frente, Magda continuou, como se apenas tivesse interrompido para beber um gole de água...

Aos sete anos e seis meses de idade, Magda soube o que era o seu primeiro período de férias. Não teve necessidade de se levantar às oito da manhã para entrar na Escola às nove e podia brincar até à hora do almoço e à tarde, enquanto a mãe descansava das tarefas domésticas, recordava um pouco do que aprendera na escola e voltava a brincar com a irmã, logo que esta acordava da sesta.

Magda, até ter entrado na escola, ouvira da mãe e das tias avós todas as histórias que se contavam às crianças: O Príncipe com Orelhas de Burro; A Bela Adormecida; A Gata Borralheira; o Gato das Botas e tantas outras, onde reis e príncipes, ao lado de belas rainhas e princesas, comandavam reinos, onde a felicidade e a bondade eram uma realidade, embora ensombradas, por vezes, por bruxas más e magias inacreditáveis. Magda punha-se então a pensar que nunca deixaria os maus livres, para que não fizessem maldades aos bons.

Magda fez uma pausa e reparei que os seus olhos estavam vidrados, mas não interrompi o seu silêncio. Uns segundos depois, Magda, ao jeito de suspiro, disse-me que me havia de falar das pessoas boas que conhecera ao longo da vida, que lhe avivasse a memória, caso esta a traísse.

Na realidade, hoje encontrei Magda mais abatida e cansada e observei-lho, ao que me disse que todo o seu estado estava relacionado com a data, pois fazia quarenta e cinco anos que conhecera a pessoa mais maravilhosa que se podia imaginar. Não acrescentou mais nada e pausadamente continuou a sua narrativa.

(continua)

sábado, janeiro 17, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Magda sentia-se apoiada na Menina Belmira porque era uma senhora muito mais nova do que a Directora e a irmã desta e não a assustava, porque era meiga e simpática. Era ela que lhe secava as lágrimas, quando Magda, cheia de saudades da mãe e da avó, desatava num pranto sentido. Como podem os adultos ser tão insensíveis para com a sensibilidade das crianças, pensava Magda, relativamente à Directora da escola.

Magda passou assim os primeiros meses na escola, na então denominada Primeira Classe.

A sala de aula era ampla e arejada por três grandes janelas com varandas, mas das quais, as alunas não podiam aproximar-se. A porta da sala de aulas era meia envidraçada, com vidros baços, onde havia, lapidados, uns ramos de flores. As paredes pintadas de cal branca, apenas tinham na parede lateral, oposta às janelas, duas grandes fotografias em molduras de madeira encerada em castanho-escuro: a do Presidente da República e a do Presidente do Conselho. Por cima do quadro preto, havia uma cruz, com um Cristo crucificado. Do lado esquerdo do quadro e direito das alunas, estavam pendurados uns quantos mapas, uns sobre os outros, sendo o primeiro o mapa de Portugal Continental, onde se observava as serras em diversas tonalidades de castanhos ou verdes, conforme a vegetação ou a falta desta e os cursos de água, onde saltava à vista os rios Douro, Tejo e Guadiana.

Não era permitido sujar as paredes, pois era falta de educação, perante as imagens expostas e a Directora da escola.

Mais tarde, Magda aprendeu que para respeitar os outros, teria de se respeitar a si própria, por isso, o não sujar as paredes era, sobretudo, por respeito a si própria.

E veio o Natal.


(continua)

sexta-feira, janeiro 16, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Com um até quarta, despediu-se e eu ainda fiquei a analisar algumas das notas que fui escrevendo à margem, na folha da anamnese (este palavrão quer dizer que, para estabelecer uma avaliação e o diagnóstico do paciente, preenche-se um documento, ou seja, uma ficha onde se aponta a entrevista médica com os dados que serão uma orientação de base). Esquematizei como gostaria de fazer prosseguir a sessão seguinte, fechei gavetas e armário, computador, luzes e saí (a pensar em Magda).

A Segunda Sessão

À hora marcada Magda entrou na minha sala para mais uma conversa…

E prosseguiu como não tivesse havido qualquer interregno…

Posteriormente, aprendeu o abecedário, seguindo-se os números depois de dez e algum tempo depois, aprendeu a juntar as letras, vogais e consoantes, formando as primeiras sílabas, os primeiros ditongos. Seguiram-se as primeiras cópias de palavras como Pai e Mãe, Tia, Avó, mão, pão e palavras mais longas como jar-ro, bur-ro, ca-der-no... estas cópias eram feitas em cadernos especiais, os cadernos de duas linhas; primeiro escreveu com lápis e só muito mais tarde aprendeu a escrever com tinta.

A caneta era um tronco de pau, e os aparos de metal, soltos, que se substituíam logo que começavam a escrever mais grosso, ou a arranhar o papel. Magda molhava o aparo da sua caneta de pau pintado de vermelho, no tinteiro de loiça branca, que encaixava num buraco da carteira. Cada aluna tinha o seu, no topo superior direito da carteira.

Sempre que usava a pena, pois era assim que se chamava aquela caneta, Magda sujava as mãos, o que valia uns reparos da professora e às vezes uns toques com a régua nos nós dos dedos e umas boas reprimendas da mãe, que lamentava a filha não aprender rapidamente a lidar com a pena e a tinta...

Magda também apanhava com a régua por se distrair a olhar para nada... como dizia a professora, e a mãe costumava desabafar, que tinha uma filha sonhadora. Às vezes não estava em parte nenhuma.

Com a Tabuada, depois de aprende a contar, veio a soma de dois algarismos, três; duas parcelas, três e as respectivas provas dos nove e real. A subtracção: e aí iniciava a confusão...

Magda voltou a acender um cigarro, olhou para o relógio e perguntou se não estava a abusar da minha paciência.

Sorri-lhe e disse que estivesse à vontade e pedi que continuasse.

Então Magda confidenciou que receava ser muito morosa no seu relato e no seu estilo muito próprio, continuou, dizendo que tinha um cestinho em verga castanha, oval e alto, onde levava o termus com chá e o almoço, dentro de uma marmita de alumínio com andares, com os tachinhos encaixados uns nos outros.


A menina Belmira, a empregada do refeitório da escola, punha no prato os alimentos logo que soava o sino para o intervalo do almoço. De vez em quando passava e perguntava se faltava muito para acabar. Perguntava porquê não comiam tudo e assim que finalizavam a refeição, recolhia todos, os pertences de cada aluna, para arrumar os pratos sujos e as marmitas, dentro das cestinhas, que ao sair da sala de aula ao fim do dia, eram recolhidas nos bancos corridos do pátio interior, para que em casa as mães lavassem e preparassem as cestinhas para o dia seguinte.


(continua)

quinta-feira, janeiro 15, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Magda foi para uma escola particular, na zona histórica de Lisboa. Disse que o nome da escola era “Externato Esperança” e era só para meninas.

A Directora, a Senhora Dona Aurora, era uma senhora de idade avançada, de porte imponente e autoritário, com um carrapito de farta cabeleira grisalha, no alto da cabeça, fazendo-a parecer ainda mais alta aos olhos de Magda e possivelmente, aos das outras crianças.

A irmã da senhora dona Aurora, a senhora dona Beatriz, ao contrário, era baixa, nem magra nem gorda e usava o cabelo, que também era grisalho, cortado e com permanente. Ensinava numa das salas e fazia os trabalhos de secretaria.

Tanto a Senhora Dona Aurora como a irmã, vestiam invariavelmente de preto ou preto e branco, o que lhes emprestava uma aparência ainda mais austera.

Magda entrou na escola pela primeira vez, com a sua bata branca muito engomada e com duas tranças caídas de cada lado da cara. Apertava a mão da mãe com força, para receber a confiança que só as mães sabem transmitir. Mas chorou sentida, quando perdeu de vista a mãe, que passara o grande portal tão rapidamente.

Mais uma vez Magda levantou os olhos e com um “não estou a ser incómoda?”, respirou fundo e prosseguiu.

Magda começou por ter cadernos de papel de vinte e cinco linhas, cortados ao meio, com uma capa de papel ao maço liso, onde o pai fazia um desenho, de acordo com o que Magda pedia. E começou por ter um Livro de Leitura para a primeira classe e uma Tabuada.

A mãe também lhe comprou a Cartilha João de Deus, para a ajudar em casa, porque embora já antiquado, este livro, dizia a avó e a mãe, ensinava muito bem.

No livro de leitura, com muitos bonecos coloridos, aprendeu o A,E,I,O,U. Na Tabuada, os números até dez.


(continua)

segunda-feira, janeiro 12, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Magda contou-me,

Nasceu numa madrugada tépida de Junho no século passado. Nasceu com quase cinco quilos e era quase carequinha. Nasceu em casa, com a ajuda de uma parteira, como era comum, nas primeiras décadas do século XX. Gorducha, custou a nascer como todos os bebés de mães de estatura abaixo da média.

Ajeitou-se no sofá e sorriu com um ar melancólico.

Magda! Porquê Magda e não Margarida ou Filomena? Porque a irmã da Avó paterna foi a madrinha e também se chamava assim.


Magda nasceu feliz entre os pais e os restantes familiares mais chegados, numa meninice em que os sonhos dominam as realidades.

Aos nove meses Magda deu os primeiros passos e surpreendeu os pais com as primeiras frases atabalhoadas.

Magda estava rodeada de atenções, uma vez que tinha por perto a avó paterna e uma tia-avó além dos pais, pelo que o seu desenvolvimento era apreciável.

Pelos primeiros anos, os caracóis de um loiro dourado rodeavam-lhe a carita redonda, de onde sobressaiam uns olhos melancólicos, grandes e profundamente castanhos, que rasgavam caminhos de sonho, à sua frente.

Magda abriu a mala de mão e fez questão de me mostrar uma foto sua, de quando era bebé. Devo salientar que era mesmo gorducha.

Magda segredou-me que pouco se lembrava do seus dois, três ou quatro anos, mas, que à medida que se recordasse, falar-me-ia de algum pormenor que ajudasse a interligar o passado ao presente. Assim, Magda começou por me falar na fase da sua vida que melhor recordava.

Magda foi para a escola aos sete anos. Aos sete anos era a idade obrigatória para as crianças dessa época entrarem na escola.

... ... ... (continua)

segunda-feira, janeiro 05, 2009

CAPÍTULO I - A HISTÓRIA DE MAGDA

A PRIMEIRA SESSÃO

Como iniciámos o relacionamento

Com um dá-me licença doutora, entrou pela porta do meu gabinete de consultas, uma mulher de uns sessenta anos, loira, nem gorda nem magra, e com um sorriso que tudo fazia crer, de boa disposição e que começou por me pedir que a deixasse acender um cigarro, acrescentando, que uma pessoa normal não fumava.

Disse que era a Magda e foi assim que encetámos a nossa conversa.

Peguei na sua frase de ser ou não ser normal, para lhe explicar sumariamente, como consideramos a fronteira entre o comportamento normal e o perturbado ou seja o “normal” ou “não normal” ou ainda se preferirmos, a delimitação entre a saúde e a doença mental, porque na realidade, para a psicologia clínica, é das questões mais delicadas. Expliquei que são possíveis três critérios para a avaliação – o estatístico, em que seria “normal” o indivíduo cujo comportamento fosse como o de uma maioria de pessoas; o normativo, em que seria “normal” o indivíduo que se conforma com as normas estabelecidas e o ideal, mas quem define o funcionamento psicológico ideal? Ora, a perturbação psicológica, é-o quando sentida como indesejável porque limita a autonomia e a capacidade de auto-realização, quando é vivida com sofrimento na relação do indivíduo consigo próprio e com os outros.

Magda acenou ligeiramente a cabeça e balbuciou que essa era sua grande apreensão. O seu relacionamento consigo própria e com terceiros. Estava sempre rodeada de sofrimento.

Pediu-me desculpa de me ter interrompido e ficou de novo em silêncio, e com a mesma expressão indecifrável.

Hoje, e passados alguns anos depois de ter recebido esta senhora no meu gabinete, penso que fui muito técnica e formal para dar início a um programa de sessões de acompanhamento a uma pessoa que, se me estava a procurar, razão tinha e por isso deveria ter sido mais acolhedora, o que veio a acontecer durante a entrevista, por ter existido uma empatia quase que imediata.


Magda olhava-me fixamente. Enquanto isso, eu também olhava aquela mulher, milímetro a milímetro, para a perceber, antes de dar início à consulta e fiquei surpreendida por não encontrar qualquer vestígio evidente que a fizesse ter-me procurado. Porém, quando a olhei nos olhos, e os nossos olhos se fixaram atraídos como hímen, consegui vislumbrar qualquer coisa: a tal “luz ao fundo do túnel”, pois estes, atrás dos óculos, mostravam uma tristeza sem fim, embora sorridentes e inquietos como os de uma adolescente.

Pedi-lhe então que me falasse de si, não omitindo nem transformando detalhes que poderiam ser de importância para a poder apoiar e dar início ao processo de acompanhamento psicológico que me viera solicitar.

Assim,

sexta-feira, janeiro 02, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA

A História de Magda é a sequência de muitos encontros, muitas conversas com duas chávenas de chá à frente, muitos desabafos, muitos suspiros e inquietações, dúvidas e desesperos...

Não é uma bisbilhotice nem tão pouco um lavar de roupa suja... Nada de fazer conjecturações ou juízos fruto de imaginação... Pode ser a história de qualquer Maria, Paula ou Francisca... é apenas a história de uma mulher a quem chamei Magda, para não lhe chamar Carla, Olga ou Leonor... uma história; uma vida.

A HISTÓRIA DE MAGDA


A História de Magda é a história de muitas Mulheres que, no decorrer das suas vidas, procuraram alcançar uma meta que haviam idealizado enquanto adolescentes, mas que os muitos obstáculos que tiveram de transpor, foi impedindo que chegassem a essa meta com os seus objectivos conseguidos e frustradas, stressadas, depressionadas, com uma baixa auto-estima, apenas vão deixando que o tempo passe por elas, esperando que se opere um “milagre” que as faça sorrir de novo.

Por vezes, procuram apoio junto de amigas ou até em “amores desconseguidos”, que as deixam ainda mais abandonadas.

Menos frequentemente do que o aconselhado procuram ajuda junto de técnicos especializados, porque desconhecem como é o procedimento destes, mas quando descobrem, sentem-se muito mais reconfortadas ao fim de algum tempo, como aconteceu com Magda.

Sessão a sessão vou contar-vos a História de Magda...

sábado, outubro 20, 2007



Sem tabu e muito bem dispostas, fomos até este estabelecimento muito actual...
Depois vieram as visitas ao interior de museus e palácios antes da viagem continuar por essa Escócia dentro...



domingo, agosto 26, 2007




























24.06.07 - Castelo de Edimburgo

e chovia... no segundo dia da viagem e estava frio...
E continuamos a tirar fotos, sempre com medo de dar banho à máquina...
mas estava a ser bom... só o menu (carneiro) é que já ia no segundo dia...


quarta-feira, julho 11, 2007

ESCÓCIA!


...e chovia... chovia... e frio.............

sexta-feira, julho 06, 2007

JÁ NA ESCÓCIA


dia 23 à noite... Já recolhida no quarto do hotel, e com um pijama quentinho, tirei uns apontamentos e escrevi mais um dos muitos escritos que me preenchem a alma...


10 da manhã de 24 de Junho! Chove! e está frio No passeio pertinho do hotel, alguns taxis, daqueles que são mesmo caracteríticos de lá.

O grupo todo, fez fila para entrar no autocarro e o Pedro (o nosso guia) deu-nos as boas vindas.

Olhos esticados em todas as direcções, escutávamos atentamente o Pedro (de nacionalidade Chilena e naturalidade escocesa) que ia explicando tanto quanto sabia, e fantástico como ele sabe tanto sobre Edimburgo.

Passamos por imensas avenidas e ruas antes de irmos para o Castelo. Havia muito para ver e para descobrir, porque após o almoço, a tarde estava livre para as descobertas pessoais..



Aqui dentro do autocarro, vamos no caminho para o Castelo de Edimburgo... eis a vista panoramica... depois, ver-se-a mais...

domingo, julho 01, 2007

ATÉ EDINBURGH … (23.06.07)















Sempre com muitas nuvens e a parecer que estávamos no Outono, voamos de Londres para Edimburgo… mas esperámos para levantar, que nem sei… foi um dia de dieta…






..... já ao final do dia (com muita chuva) aterrámos...






Sempre a chover,

E foi aqui que ficámos instalados….














Após um jantar de dieta escocesa... fomos dormir... ... ... porque estava a chover...

E FOMOS À ESCÓCIA…

1º dia - 23.06.07













Gente. Bagagem e no meio de um sem número de desconhecidos e de diversas línguas, estávamos nós, o grupo de seniores da Universidade Sénior (U.I.T.I.), onde aprendemos e ensinamos Inglês…






Mesmo antes de descolarmos, uma última foto, para recordar…






… e cruzando os céus, entre nuvens e sonhos, voámos rumo a Londres, para trocar de avião…

sexta-feira, junho 15, 2007

AQUELE SONHAR!


Queria tanto enlaçar a mão na tua,
Bela rosa cor viva, carmim,
Perfumada de sonho à luz da lua
Num baile eterno, sem fim...

Ou ser a gota de orvalho matinal
Que de manhã, ao beijar-te, docemente,
Pensasses não haver manhã igual
Porque seria manhã eternamente...

Como amar assim, tão loucamente,
Apenas existe em sonhos de encantar
Ou em velhos livros já esquecidos....


Então, triste e a chorar como demente,
Procuro em vão teu doce olhar
E nossos olhos fugidios ficam perdidos....



12.01.005

domingo, junho 10, 2007

UNS RISCOS


Olho para as torres esguias
E sonho estar em teus braços
Contigo, envolta nas tuas magias,
Sou a deusa dos abraços…

07.06.07
Porto (Rio Tinto)

sábado, junho 09, 2007

DIFERENTES MAS JUNTOS


Sabes? Vou contar-te mais uma história. Uma história que inventei há já bastante tempo e que ao inventá-la, lembrei-me da minha avó, que contava histórias como ninguém e todas inventadas por ela. A história que a minha avó contava, sobre um rato e um gato, no tempo da guerra, tinha muita profundidade, reconheço-o agora. Por isso, como vivemos sempre entre guerras diferentes e de diferenças, não resisti.

Pois bem, como todas as histórias e para ser história, era uma vez…

Tinha havido no verão um grande incêndio nas matas do monte. As pedras enegrecidas nem pareciam pedras, mas pedaços enormes de carvão. O Verão tinha sido quente e por isso maléfico para as matas e florestas. O Inverno fora frio e chuvoso e com o chegar da Primavera, umas envergonhadas ervinhas espreitavam aqui e além.

Uma joaninha atrevia-se a deambular por um lado e por outro em busca de alimento e nem se apercebia dos perigos que a qualquer momento a poderiam privar de continuar a sua deambulação.

Passada por aqui, passada por ali, um esvoaçar para mais longe e de repente uma pedra grande, muito grande e escura, muito escura. Tão escura que nem se apercebeu de um imenso lacrau, também escuro e até um pouco encarquilhado, escondido numa reentrância da rocha…

A joaninha esvoaçou assustada, mas com curiosidade voltou a aproximar-se e atreveu-se a olhá-lo mais de perto… afinal era mais um companheiro daquela área tão empobrecida pelo fogo e que poderia estar a passar um mau bocado.

À cautela e sempre pronta para accionar o seu sistema de voo, a joaninha, aproximou-se. Muito baixinho exclamou: “ que grande és!” “se calhar tens fome e até me podes comer…”

O escorpião, tão enfraquecido que estava, nem ergueu a sua cauda em posição de ataque/defesa… deixou as turqueses estendidas na pedra e elevando os olhitos mortiços, balbuciou algo imperceptível”… sim, tenho fome e ainda mal posso caminhar. Tenho duas patas doentes, que queimei, quando corri para apanhar um alimento… nem percebi que ainda estava quente a terra que pisava…”

Aqui começou a odisseia da corajosa joaninha. Correu e esvoaçou pelas redondezas e num esforço incomensurável, conseguiu levar ao pobre habitante da área o que admitiu ser um pouco de conforto para o estômago dele.

Nunca havia admitido que um escorpião pudesse ser reconhecido, que pudesse mesmo ter um rasgo de amabilidade, mas foi isso mesmo que aconteceu. O escorpião agradeceu à joaninha o seu esforço e como prova de reconhecimento, ofereceu um pouco do seu espaço, para que de noite ela se pudesse resguardar de quaisquer predadores, que também vagueassem pela zona.

Nos dias seguintes, joaninha e escorpião, caminhavam juntos por um e outro lado, regressando à caverna na rocha negra do incêndio do Verão anterior. Ao cabo de algumas semanas, poderemos dizer que eram inseparáveis.

Cheia de ternura para quem já considerava um amigo, a joaninha era incansável. Por sua vez o escorpião, com uma forma de estar muito própria, não deixava de ver a joaninha como a sua tábua de salvação, a sua aliada, mesmo quando tinha de atacar para comer.

Juntos, inacreditavelmente aproximados um do outro, joaninha e escorpião, sobreviveram à Primavera e ao verão, sem que qualquer anormalidade os tivesse separado.

Solitário, ainda magoado, mas sem perder as características da sua espécie, o escorpião sentia “ganas” de enxotar a joaninha, que o percebia, mas fingindo nada entender, continuava a sua obra de “boa samaritana”. Os tempos continuaram a passar, como quem folheia um livro e certa manhã, cedo, como regra naquelas áreas, para quem necessita encontrar subsistência, o escorpião ao sair do esconderijo, toca na joaninha, como que afagando as asas quitinosas e sarapintadas, e segredando-lhe que jamais iria deixar de estar perto dela. Algo muito forte fazia com que se sentisse atraído por ela…

Coitada da joaninha! O primeiro pensamento que teve foi o de que lhe restaria pouco tempo… iria ser caçada. Mas o escorpião, terno como uma pétala de rosa, bichanou junto às antenas da assustada joaninha, que mesmo de diferentes espécies, o que lhe tinha era amor. Na Natureza, é assim. Espécies diferentes apoiam-se, espécies diferentes juntam-se em grupos de ajuda, em reconhecimento da defesa da continuidade.

Na minha história é assim. Na minha história ambos viviam juntos sem que cada um deixasse de ser o que era, sem que cada um deixasse de respeitar o que o outro queria. Um entendimento perfeito… Havia mesmo Amor entre aqueles dois “bichinhos”. Na realidade, nem tudo se passa assim, pois os predadores nem sempre são salvos pelas suas possíveis presas…


08.06.07

sexta-feira, abril 20, 2007

CAMINHOS



Eu sou eu! Quem queria ser nunca o serei. Somos quem não queremos e a quem mais queremos, nunca nos quer…

Volatilizam-se os sonhos quando perdemos quem nunca esteve connosco. Desejamos impossíveis que nos impacientam e nos amolgam os sentires. As emoções esbatem-se e tornamo-nos em espuma de ondas batidas nos rochedos da falésia da mossa existência…

A estrada era longa. Estreita e escura. Pela estrada longa, estreita e escura nunca me cruzei com outro qualquer ser… e tu lá à frente viraste a curva, atravessaste a ponte e nem me olhaste, mas amei-te. Julgava não ser possível amar assim… só sentimento!

Os verdes, verde-escuro, que ladeiam a estrada percorrida, são tão escuros como a estrada em si e o fim do dia. A noite vai surgindo, confundindo a estrada, o arvoredo e eu… a minha noite também me vai envolvendo e eu breve serei noite e tão escura como toda a paisagem onde me envolvo…

Foste o ténue raio de sol que brilhou e fez brilhar os meus cabelos assemelhando-os a estrelas cadentes, num céu escurecido pelo anoitecer…

Enquanto caminhavas, antes da passagem da ponte, foste o raio de esperança que não encontrara antes, nem naqueles tempos em que ajoelhava ante um altar e esperava por uma réstia de esperança que teimava em esconder-se atrás dos espessos reposteiros ao fundo da capela, no Altar Mor…

Enquanto caminhavas, com cadência, apenas o rasto do teu cheiro me ia inspirando todo o amor que ia sentindo… (por quem nem pressentia as minhas passadas cá bem atrás…).

E ainda que não seja mais do que um sonho, amargura-me que ele se desfaça…


18.04.07

sábado, abril 07, 2007

MULHERES DA TERRA AMADA






Uma data. Um dia especial
Em que a saudade é uma marca,
Deixada pela verdade,
Nunca antes experimentada:
O dia da Mulher Moçambicana!

Sete de Abril!
Mulher! Ser ideal,
Que mesmo com saúde parca,
Sofredora, heroína, mesmo na crueldade,
Será sempre recordada:
É a Mulher Moçambicana!
Dentro de si tem encantos mil
E de lábios sorridentes,
Seios pendentes com filhos às costas,
É a respeitável mamana,
Doce e encaminhadora dos descendentes…

Sem jamais esquecer,
Apenas quero dizer,
Que sinto o que tu sentes,
E longe, estais sempre presentes,
Como uma sábia lição
Que enterneceu meu coração,
Maravilhosa Mulher Moçambicana.

07.04.07

quinta-feira, março 22, 2007

ÚLTIMA FOLHA




Folheio a minha vida como se de um livro se tratasse. Um livro com muitas folhas. Um livro com a síntese de muitos outros livros que li, e que fui deixando na estante e que volta não volta releio e deixo que algumas passagens se misturem com as do meu próprio livro.

Amareleceu a capa do meu livro por ter sido lido vezes sem conta, ao longo de tantas décadas. Foram sendo lidas e relidas algumas páginas, para que não me repetisse em erros de interpretação ou me tornasse repetitiva, caso viesse também a ser lida.

Mas ninguém leu o meu livro até hoje. Ninguém o vai ler no futuro, porque este livro vai ser transformado em cinza, como eu… porque o meu livro sou eu.

Hoje reparei que estava na última folha. Duas páginas para fechar a contracapa. É isso mesmo. Não vou escrever nem mais um parágrafo, após ler a última linha do último parágrafo. Este será o último e apenas a palavra fim (the end), como nos filmes, vai aparecer ao fechá-lo.

Idealizei dá-lo a ler. Idealizei que o lerias com a curiosidade de quem gosta de livros. Idealizei que o comentaríamos conjuntamente. Idealizei que o prologo fosse com palavras tuas e que o epílogo também fosse… mas não será, nem como homenagem póstuma…

Depois do livro ardido, depois de sopradas as suas cinzas, rir-me-ei do teu desespero, por nem teres querido ler as muitas páginas que te eram dedicadas… por nunca saberes o que nelas era dito… ficarão em segredo; o segredo, do que foi a minha vida…

E se por acaso, alguma vez por esquecimento, deixei umas linhas deste longo livro, por aí e as leste, esquece. Ignora o seu conteúdo. Ignora que fui um dos livros que não leste… e que nunca irás ler…

Suportei a afronta de lhe chamares “brochura barata”. De ser fora de tempo (para não lhe chamares declaradamente velha). De desfeitear
a minha escrita, as minhas cãs e outros vestígios de antiguidade…

E por tudo isso e por nunca teres aceite escrever para mim, como tantas vezes pedi, agora vai ser tarde para um retrocesso… não haverá mais livro, nem existirei eu…



22.03.07

terça-feira, março 20, 2007

DIÁLOGO COMIGO



- Como te chamas?
- Não sei… talvez Rosas Murchas…
- Que idade tens?
- Não sei… A idade que já não deixa dúvidas…
- Mas afinal, quantos anos tens?
- Não sei… Anos? Tantos! Tantos que já não existo…
- Só dizes disparates… Enfim, o que fazes?
- Fazer? Fazer o quê?
- Sim! Em que te ocupas?
- Estou sempre ocupada. Trabalho mesmo muito….
- Mas em quê?
- Ensino… Ensino aqueles que sem idade, como eu, já perderam
também a esperança de serem amados e considerados úteis…
- Mas isso é profissão? Pergunto como passas os teus dias…
- Ainda restam dúvidas? Trabalho! E nas horas vagas choro, deixando
as minhas lágrimas no papel, transformadas em letras…
- Mas? Não te entendo… continuas a não dizer coisas acertadas…
- Achas? Mas então o que são coisas acertadas para ti?
- Quero conhecer-te. Quero saber mais de ti. Quero, agora, perceber
porque te expressas dessa maneira…
- Pensas então que estou num estádio de demência?!
- Não foi isso que disse. Apenas te considero um ser muito estranho…
Olhos chorosos, sempre muitos livros, papel, lápis… e quando sorris,
parece-me um sorriso que não é teu… mas também não sei dizer
mais sobre isso…
- Acertas-te! Ao menos uma vez! Realmente o sorriso não é meu… é
da felicidade emprestada… às vezes dão-nos um pouco, que para
nós é um mundo inteiro…
- Será que tudo isso é tristeza? Explica-te!
- Como se pode não ser triste, quando o que não temos, nunca será
nosso? Percebes? Falo de liberdade… nunca somos livres. Apenas a
servidão nos permite viver… somos escravos para sermos vivos. Aos
escravos não é permitido amar!...
- Mas isso foi quase pré-história para nós…
- Não! Essa é a herança que, de geração em geração, nos cabe…
- Dizes coisas tão estranhas… Os que vivem contigo compreendem-te?
- Mas eu vivo só, entre a multidão… Quando nada se tem… nada se
pode dar… e quem não dá não é ninguém… Nem se perde tempo a
compreender..
- Possivelmente terás razão… Começo a admitir que também não me
encontrei ainda… E agora, que pensava que era um feliz mortal, com
um coração a bater, mesmo ali ao lado…
- Não te iludas. Não tarda, que não estejas como eu.


20.03.07

sábado, março 17, 2007

PÁGINA DO MEU IMAGINÁRIO


Apaguei os vestígios de toda a minha tristeza.
Sorri. Ri até, num riso aberto, de uma alegria que estava esquecida há tempo. Esqueci os receios e até acreditei. Estive feliz!

Mas como os ponteiros do relógio não param e na sua cadencia vão perseguindo o tempo que segue a seu ritmo, de repente, dei uma volta de trezentos e sessenta graus e olhando à volta nada vi, a não ser a minha imagem, de sombra, como algo fantasmagórico: eu sem dimensão, nem configuração definida…

Quando olhei a minha sombra, apenas uma mancha escura e disforme, pareceu-me ver a minha parte imaterial, desconexa, desligada dos meus sonhos, dos meus delírios…

Inundou o meu pensamento toda a dúvida anterior. Fiquei suspensa na incerteza e fui assaltada por todos os medos que me dominam e manobram, deixando-me a afundar num mar de tristeza, que é indescritível e incomensurável…

Não sou quem desejaria ser para quem sou o que apenas sou… eu. Consequentemente, apenas não passo da sombra disforme desenhada na geometria do empedrado da rua, onde só, vou caminhando, com passadas desajeitadas e irregulares; subi os não sei quantos degraus e apanhei o comboio.

Subitamente, voltaram a bailar umas atrevidas lágrimas nos meus olhos. Dei com todo o mundo que viajava na mesma carruagem do comboio a olhar-me, questionando silenciosamente sobre o que se estava a passar…

Todo o riso de um momento não passou de um efémero momento, que nada significou para além de ter feito aumentar a minha dor…

Depois, e porque há sempre um depois, vieram alguma certezas… um sim que é talvez, um talvez que se transforma em não. Eu sou o não. O sim, anda por aí reinando…


15.03.07

quarta-feira, março 07, 2007

CORRUPIO DE PALAVRAS


Um fim de tarde desastroso. Uma chuva miúda a irritar e esta passagem por blogues conhecidos… É mesmo para fazer perder a paciência. Com que então agora as miúdas andam a fazer furor… já não faltavam as maduras, e os amadurecidos, como agora as criancinhas, com ar apaixonado, a tentar fazer guerra… mas isso não incomoda. Se pensas que a lápide se torna mais leve, enganas-te, porque estás morto e bem morto. Não respondo a provocações e muito menos a quem morreu de tédio por não saber viver, nem respeitar a vida dos outros.

Não voltas a comentar o que digo ou faço, porque apenas sabes ser inconveniente, e lá bem no fundo do túmulo, não serves para absolutamente nada. Aliás, nunca serviste, fosse para o que fosse… cantar bem? Declamar?... Viola, guitarra, piano? … Qualquer malabarista o faz, para chamar a atenção de incautos corações perdidos. Mas não vou mais em palavras e muito menos em olhares lânguidos e muito menos ainda em frases falaciosas, tentando manobrar a opinião que, até ver, não sofrerá alterações… e dizia aquele amigo: até que a “garina” é “girota”….! O que disse mais, não me atrevo, mas dou-lhe razão…

E as discussões sobre a memória em política continuam, mas agora acho que se deviam acrescentar mais uns itens. Tudo isto passa por haver uma infinidade de gente a querer fazer o que apenas sabe dizer e às vezes mal.

Na berra andam os Conservatórios, a saúde e a educação. A verdade é que somos números e apenas isso… e há quem ande a perder tempo a fazer ciúmes (gratuitos), aparecendo publicamente a fazer figuras do que não é. Boa! As entrevistas, os concursos, as palestras, não passam de pretextos para ir deixando mais confusa a confusão em que muito boa gente anda.

Percebes, tenho de me distrair… Toda a gente o deve fazer. Para se estar mentalmente são, a distracção também faz parte. Mas ter como distracção ferir profundamente os sentimentos de outras pessoas, é demais… e lá vem mais um raminho de flores, um chocolatinho… um “choradinho” que tudo é negativo… e cá o “je” amolece a “moka” e com a paixão em efervescência, desculpa, e desculpa e um dia destes dobra a dose do medicamento e a máquina pára. Assim já não há coração de manteiga para mais ninguém…

É verdade! Afinal também há amigos a quem se enviam mensagens que nem se atrevem a agradecer… só faltava juntar mais esta ao rol de tudo o que me “amolou” o juízo nesta terça feira chuvosa…

06.03.07

domingo, março 04, 2007

AMIGOS!


Muitos! Muitos dos que se dizem amigos, são apenas pessoas que passam. Passam e deixam marcas. Tantas marcas para esquecer…

Há amigos em quem depositamos uma confiança ilimitada, a quem dedicamos todos os nossos momentos, os nossos bens e até o nosso amor. Infelizmente!

Há amigos por quem nos enamoramos e a quem dedicamos tudo o que temos de melhor, desde os pensamentos até aos nossos melhores momentos e traem-nos… fazem tudo para nos magoar, como se estivessem a medir a nossa capacidade de os amar, ou então, a pôr à prova as suas capacidades de nos ferir… são os amigos da oportunidade, porque sabem que ao sermos-lhes completamente devotos, ao dizerem uma palavra estudada, nós nos rendemos… Como fugir e esquecer este tipo de amizade? Difícil! Quando se tenta recuar é tarde. Tão tarde que apenas há uma solução…………

Há soluções que não dão para finalizar o que se começou a escrever….



04.03.07

terça-feira, janeiro 30, 2007

PERPLEXIDADES DO AMOR


Sou uma tosca imitação,
Sou a falsa cópia de um corcel;
Vivo presa a um cabo de latão
Em qualquer um carrossel…

Tens sido a minha força de tracção,
Sem passar de boneco de papel,
Mas onde bate um coração,
Que por ti, bate em tropel…

Amarrada a este sonho querido,
Prisioneira de um amor preterido,
Não passo de um cavalo de feira…

Sempre a rodar na mesma direcção,
Esquecendo que vives para outra paixão;
Que não passo de papel e madeira…


28.01.07

terça-feira, janeiro 02, 2007

À DESGARRADA

Dedicado ao Blog Canteiro da Alma


Do Algarve até ao Minho,
Ao som do acordeão,
Vai o vira e o corridinho
Dentro do teu coração…

Lá em baixo ficou Tavira
Cá por cima fica o Porto
Fica amarafado o vira
E tu de saudade morto…

Na alma tens o corridinho
E na boca o seu sabor
Trauteia-lo de mansinho,
Para embalar o teu amor…

E nas quadras à desgarrada,
Mesmo à beirinha do Douro,
Com a alma apaixonada,
Vês Tavira com seu ar mouro…

Recordas as amizades,
Com o corridinho no coração,
E já são tantas as saudades,
Tocadas no acordeão…

Leva daqui meu carinho
E de mim o meu amor,
De Tavira o corridinho,
Mais o Sol e o calor…

02.01.07

sexta-feira, dezembro 29, 2006

E ASSIM PASSA O TEMPO...

No próximo dia 10 de Janeiro o Bis Morgen fará um ano. Era apenas para fazer experiencias contudo, foi tomando corpo e assim ficou, conservado, como começou... Tem sido pouco comentado, mas isso não é assim tão importante... nem vou fazer questão que seja lido, porque são coisas minhas e por essa razão, até pode ser mal interpretado... claro que não vou fazer como algumas pessoas, vedar o comentário (a alguns), só para fazer ferro e não mostrar quem comenta... Segregacionismo, não é comigo. Pessoas são pessoas e todas só são pessoas... e como não tenho nada a esconder, podem ler e pensar livremente, do que lerem nos comentários... e se roer alguma coisa, das duas uma, ou têm dor de .... ou têm ciumeiras e estas podem ser positivas ou negativas... quem dera que sejam das positivas... até podia calhar bem a quem nunca soube o que isso era... será que algum dia, alguém terá ciumes da minha pessoa? Não acredito! Para isso seria necessário amarem-me e aí também não vou!!! Jamais saberei o que isso é......

28.12.06

domingo, dezembro 17, 2006


BOAS FESTAS A TODOS OS QUE POR AQUI PASSAREM
MERRY CHRISTMAS and HAPPY NEW YEAR
JOYEUX NOEL et HEUREUX ANNEE 2007

FELIZ NAVIDAD y BUENO AÑO 2007
GLÜCKLICHES WEIHNACHTEN UND GUTES NEUES JAHR

sábado, dezembro 16, 2006

FÉRIAS!!!!



Fim do primeiro período!

Alguns alunos, deixam ver os trabalhos magníficos que fizeram. Este magnífico barco em madeira, todo trabalhado à mão, é exemplo disso.
Também tive prova da dedicação dos meus alunos, com trabalhos escritos, em Inglês, que me deixam muito orgulhosa.
Boas Férias com Boas Festas!

16.12.06