quarta-feira, agosto 02, 2006

(DES)ARRUMAÇÕES…

É tempo de fazer arrumações!

Aquando do funeral do sexagésimo aniversário, deixei claro que nada iria ser como antes. Parece que esqueci. Mas não. As recordações de longa data vão mesmo passar ao arquivo morto. Até mesmo as mais recentes, como a dos beijos eloquentes que mereceram um pedido de desculpas. Ou os abraços, numa tentativa de darem uma força que nunca conseguiu ser para a sentir profundamente. Tudo suou a falso logo de seguida. Nada merece ficar na estante das recordações. Acabamos por morrer com elas…

Já pereceram os amigos.

Que recordações do Zé e do Porche com uma saca de serapilheira a tapar o vidro de lado do pendura… e as histórias que contava, com tanta graça…

Da Isabel ficaram as nossas avarias nos bancos do Liceu: a mesma letra, a mesma tinta…os testes trocados …e depois a Antropologia. Fiquei contaminada … e passei a investigar … mas a Lena ainda ficou mais contagiada, porque até ficou a dar a Cadeira que a Isabel deixou ao morrer…. Quem irá dar as aulas da Lena? Pintava tão bem… amigona! Não irei mais pintar Peniche.

O Artur José! Há tantos anos! Mas a saudade que deixou é ímpar… Grande Amigo! Nunca me fez nenhuma desfeita. Nunca, nada de nada. Amei-o muito!... As nossas músicas…”Petite Fleur”, “O Amor é uma coisa Maravilhosa”, “La vie en Rose”… e daí a minha paixão por rosas… tenho uma saudade incomensurável de descer a Avenida das Descobertas… e das lições de História! Lembro-me da canção “une mèche de cheveux” e da “Zag Warum” e ficou com um pedaço dos meus caracóis loiros… Como tudo se esfumou entre a poeira de todos estes livros…

Mas a Manela! Ai Manela! Amigona! Soubera eu onde estás, nesse infinito imenso, que te iria segredar, que a loucura chegou ao fim… não vai haver mais do que recordações… e merecerá a pena recordar quem tem a ousadia de, sabendo quanto lhe quero, estar a dar atenção a outra pessoa debaixo do meu nariz, sob a capa de subtis mensagens? Sinto-me palha seca… capim queimado, durante aquelas grandes queimadas ao redor da Cabeça do Velho, a uns quilómetros do Sussundenga…

As recordações do actualmente são desastrosas, mesmo não tendo sido a morte a dar-lhes origem. Desta vez cabe à Vida, estar a destruir a minha vida… satânicos mecanismos de destruição… e com atrevidos cognomes de mentes poluídas…

Encontrei! Encontrei o que estava a tentar encontrar havia tanto tempo… e mesmo aqui debaixo desta papelada onde todos os dias pego… era aquela foto que tirámos à beira Tejo, só com as nossas sombras. É isso mesmo que se coaduna connosco…só somos sombras. Por razões diversas, é certo, mas não passamos de sombras… e como às sombras não damos valor…



02.08.06

Sem comentários: