sexta-feira, abril 29, 2005

COMENTÁRIO !


Horas de inocência! Que horas são essas? Vistas em que relógio? Serão talvez as horas do amar… e porque amar é viver, então vivamos!!!

Os silêncios são o badalar dos sinos de amores vagueantes nas tortuosas veredas do inconsciente… a hora… as horas são as palavras não ditas, mas gritadas por almas sedentas de amor, que muito embora o desejem não sabem onde encontrá-lo… porque onde sonham que ele esteja … apenas sentem as profundezas do desespero … e esses amores são o agonizante tormento do ser o que não é embora quisesse ser… para satisfazer a ansiedade angustiante do quem mais se está amando … Como entendo essas horas, sem o deslizar dos ponteiros que marcam a intemporalidade do tempo esvaído no silêncio do badalar dos sinos da incoerência do viver!...

domingo, abril 24, 2005

FRAGMENTOS


De repente as ideias deixam de fluir. As vontades dissipam-se num misterioso não querer e toda a imaginação é varrida como que por um tufão, deixando de criar belas imagens multicolores… e o verde torna-se cinzento e o azul preto… deixa de haver branco e a cinza espalhada pelo vento, deixa a Terra seca e entristecida…

Silenciam-se os sons melodiosos dos sussurros matinais. As aves calam os seus chilreios e dos beirais pardacentos, por entre o nevoeiro, apenas o piado tristonho do melro, a dizer um bom dia lamurioso…

E a hera é cinzenta e os choupos são cinzentos e o cedro que fora de um verde vibrante, passou a cinzento-escuro, muito erecto como uma das cruzes do Monte das Oliveiras…

Lá em baixo, como uma fita de prata envelhecida, o Tejo observa, na sua passagem lenta, o choro da ninfa moribunda…

Que lágrimas! Lágrimas de um ser que, agonizante, deixa em seu suspirar de despedida, um ror de saudades… das conchinhas nacaradas das praias do sul, das joaninhas vermelhinhas com pintas pretas, aquando os campos eram verdes… das rosas do jardim à beira Tejo… da simples xícara de café, na Esplanada que domina a paisagem… e até das falácias tão estruturadas por um qualquer filósofo sedento de quaisquer sentimentos… Como teria sido Kant?... para deixar obras como a Crítica da Razão Pura, … ou Descartes?... Sócrates?...a quem acusavam de impiedoso… Como pensariam na realidade estes pensadores, que ao longo de séculos ensinam a pensar tantos outros… poderiam ter sido déspotas? … ambíguos? … indefinidos?... Sim! Indefinidos, talvez as suas concepções também contribuíssem para esta unicolor acinzentada…


23.04.05

sexta-feira, abril 22, 2005

UM NOVO DIA!



A nossa rua! Os carros da nossa rua. As árvores da nossa rua. As plantas verdes da nossa rua…

Uma nova música acompanha a escrita que sai sem que queira que diga o que a alma sente. Uma nova e mais dolorosa forma de sentir o peso que a atmosfera exerce sobre o peito, que cansado de arfar, se diz cansado para continuar uma corrida por um caminho que não tem fim…

Desejaria também que houvesse um outro sentimento. Uma outra forma de ver, sentir ou esquecer o que passa lentamente frente aos meus olhos e que se desfia pelo pensamento como desfiei um rosário tantas vezes, entre os dedos…gostaria de apagar da memória o roxo dos jacarandás, o vermelho rubro das acácias, o verde especial das papaieiras ou o colorido dos grandes amores-perfeitos que ladeavam o caminho para a entrada de casa… Como seria bom esquecer o quanto pesavam os livros que apertava debaixo do braço nas idas e vindas do liceu, ou mesmo o toque do telefone às oito e meia da noite, para ouvir doces frases ou umas parcelas de “Petite fleur” ou de “La vie en rose”… como seria bom apagar tudo, mas mesmo tudo, desta memória tão cansada.

Olho de novo para as fotos, que postas neste rectângulo onde escrevo, me trazem à memória outras memórias… uns olhos cor de avelã, uma boca viçosa e uma amálgama de pensamentos de destruição do que mais belo a Natureza nos deu…o ser natural. É tão velha a Natureza e sempre tão bela e tão repleta de ensinamentos!

Também não resisti à leitura de uns escritos. Quem tem a arte de escrever o que foi escrito, é irresistível para além do tempo que se tiver…

Gostei tanto de ler esses escritos!

Gostei de olhar de novo para a nossa rua, de observar os nossos verdes, de reler palavra por palavra, como se estivesse a ler a mais bela carta de amor que poderia ter recebido…

Vieram palavras belas, sentimentos profundos para quem só existe na imaginação de quem escreve… e para quem as lê, vêm do além, acabadas de chegar, como promessa de um amor belo e incomensurável…

22.04.05

sábado, abril 16, 2005

PÁGINA (?) DO DIÁRIO



Num momento se perde o que jamais se pensara ter … esvai-se o pensamento por entre a fumarada de uma queimada e enquanto os olhos postos nos fulgores das labaredas vai-se sentindo o ardor do fumo e choramos…pelo fumo ardente, pelo tormento da dor profunda de uma saudade sem dimensão… que mais se sente quando nos fazem senti-la.

Como o ódio nos transforma!... Como é detestável os que jogam no “faz de conta”, querendo parecer o que não é, e, pontapeando sentimentos, como se jogassem futebol nos destroem … Agridem com palavras de incomensurável significado fazendo-se despercebidos do mal que estão a causar… Como se pode viver ignorando a vida… É um contra “natura” absoluto; é renegar a existência fingindo existir, só por existir…

O ilícito não é todavia o que nos fazem crer, mas o que sentimos e que cremos com toda a licitude… porque se não sentirmos, como poderemos fazer julgamento do que é lícito ou ilícito? E como se pode condenar por ilegalidade uma consequência de um fervoroso amar espiritual, se a psique vive de pulsões, quer sejam de vida ou de morte, de emoções e muitas contradições e está guardada numa caixa que se chama corpo e a sua satisfação se transfere para esta caixa? …

O pensamento, o sonho são luta constante entre as partes materiais e imateriais de cada um de nós, transportando-nos ao que não se consegue perceber, mesmo investigando ao mais profundo da raiz do facto, que mesmo não consumado fisicamente, é-o numa mescla de pensamento dolorido e num orgasmo imaginário e devastador, num misto de beleza e de prazer … porque para o prazer ser prazer, há que ter beleza, encantamento e que toda a imaterialidade de cada um de nós seja um enleio de ternura e compreensão, numa entrega plena, incondicional e abnegada…





02.04.05

DESPEDIDA!



Entrei na sala. Uma semi-obscuridade envolvente e aprazível era cúmplice do ambiente que se vivia naquele lugar.

Caminhei lentamente à volta da sala, com cadeiras encostadas a todas as paredes e velas ardendo em altos pedestais de ferro forjado.

Ao meio da sala, sobre um pedestal semelhante a um altar, estava muito ornamentado um caixão. Muitas flores! Coitadas!... terem sido cortadas para embelezar o que nada tinha de beleza…

E ali deitada, muito esticada, muito pálida (que não era assim antes), estava eu!

É verdade. Eu!

Eu, deitada, fria, pálida, dentro de uma caixa rectangular de madeira, onde não tardaria a porem uma tampa de madeira, fechando para sempre o meu corpo… sim porque daqui irei entrar naquele pequeno túnel, de tamanho certo para passar o caixão, rumo ao forno crematório.

Descontraidamente sento-me na barra de madeira do meu caixão e olho-me. Olhar-me-ei assim por pouco tempo… depois as minhas cinzas, uma mistura do pinho do caixão, das minhas vestes e da rosa vermelha que me entrelaçaram entre as mãos poisadas languidamente abaixo do peito…serão depositadas num vaso de lata e levadas para onde pedi que as deixassem…

Observei em volta. Contrastando com a minha serenidade, os outros rostos por ali sentados, ou aos “molhinhos” em pé, conversando, pareceram-me estar tensos ou chorosos. Que ironia! Chorarem agora, quando me estou rindo dessa corja de malfeitores para com os sentimentos humanos!

Voltei a passear a minha observação por todo aquele quadro. Primeiro pareceu-me macabro. Depois triste. Mas numa observação mais detalhada: que cenário ridículo! Tragicómico! … Como todos aqueles, presentes, haviam estudado bem os seus papeis… Como representavam bem!

Não lhes iria dar mais trabalhos! Não os escutaria nem me iriam ouvir alguma outra vez… Nunca mais iriam inventar “desgraças” para que me comovesse com elas… Nunca mais iriam sacrificar os seus preciosos tempos para me “aturar”…

Contudo é interessante ver-me ali, branca e leve, branca e fria como um farrapo de neve, depois de ter sido o pedaço que sobressaiu daquela colherada gelatinosa que fecundou a minha mãe… Agora, apenas um suspiro, observo os que restam a dar continuidade a uma agonia que perdurará enquanto não forem, como sou neste momento, apenas um suspiro… e um punhado de cinzas daqui a pouco, que os deixará pensativos, acabrunhados e mesmo pesarosos por não me terem dado uma gota do que tanto tinham… Sobreviverá os seus remorsos mesmo aquando forem suspiro como sou agora e um punhado de cinzas, como passarei a ser daqui a uma horas…

Sem adeus, sem misericórdia pelos seus não feitos, rir-me-ei, pois vinguei com a minha morte o terem de ficar vivos…



04.04.05

Passeio no meu Diário…


A passo cadenciado, fui caminhando pela vereda acima, ziguezagueando pelos pedregulhos que impediam um caminhar certinho. Lá em cima, as ruínas do castelo pareciam imagens fantasmagóricas recortadas no azul pálido do céu primaveril. Mais uns passos e chegaria, mesmo com um ventinho soprando contrário ao meu andar.

Por entre espaços que poderiam ter sido aposentos faustosos, fui pisando aqui e além, e, com a imaginação a criar quadros que poderiam ter sido reais, sentia-me quase a ser uma personagem daquele castelo que já não era mais do que um montão de ruínas…

Não resisti e sentei-me para observar aquela paisagem tão majestosa. Passei o olhar pelos montes e vales verdejantes, salpicados de telhados por entre o arvoredo. A paisagem vista do cimo do monte era realmente deslumbrante. As pedras cobertas de líquenes mais pareciam seres imaginários do tempo dos dinossauros.

Fechei os olhos por momentos para me sentir bem integrada naquele todo e meditando no que tudo me fazia recordar, na saudade que todas aquelas pedras murmuravam, no chilreio dos pássaros que esvoaçavam entre as árvores, nas palavras que jamais ouvira mas que sabia existirem. Nos gestos que possivelmente alguém poderia fazer, mas que eu jamais vira. Nas canções que me cantara, mas que possivelmente cantara a milhentas outras pessoas. Nas perguntas que me fazem mas que não sei dar resposta… porque não sei nada, nem nunca conseguirei saber um pouco do muito que desejava saber.

Não irei saber nunca como irá ser o depois. O meu depois esvoaçou como aquela andorinha que curvara além, na ameia mais alta, que por sinal se manteve séculos fora…

A única resposta que consegui obter, por experiência, foi a que consegui dar como sugestão… a do finalizar, quando já nada há para dar ou para receber…




04.04.05

MENSAGEM!

Transferi para aqui o Pólo Norte.
Pintei toda a paisagem a eito
E sem amores, só e sem sorte
Olho em redor, sem nada ter feito…


Viver sem viver e altiva no porte
Navegando no frio deste branco gelo
Procuro em vão um amor suporte
Que sem me destruir seja meu desvelo…


E deslizando do sonho à desilusão
Viajo incessantemente a procurar
Um porto de abrigo para atracar…


E sem ritmo nas batidas do coração,
Com o sangue congelado nas veias,
Sinto-me perecer nas tuas teias…




05.04.05