domingo, abril 24, 2005

FRAGMENTOS


De repente as ideias deixam de fluir. As vontades dissipam-se num misterioso não querer e toda a imaginação é varrida como que por um tufão, deixando de criar belas imagens multicolores… e o verde torna-se cinzento e o azul preto… deixa de haver branco e a cinza espalhada pelo vento, deixa a Terra seca e entristecida…

Silenciam-se os sons melodiosos dos sussurros matinais. As aves calam os seus chilreios e dos beirais pardacentos, por entre o nevoeiro, apenas o piado tristonho do melro, a dizer um bom dia lamurioso…

E a hera é cinzenta e os choupos são cinzentos e o cedro que fora de um verde vibrante, passou a cinzento-escuro, muito erecto como uma das cruzes do Monte das Oliveiras…

Lá em baixo, como uma fita de prata envelhecida, o Tejo observa, na sua passagem lenta, o choro da ninfa moribunda…

Que lágrimas! Lágrimas de um ser que, agonizante, deixa em seu suspirar de despedida, um ror de saudades… das conchinhas nacaradas das praias do sul, das joaninhas vermelhinhas com pintas pretas, aquando os campos eram verdes… das rosas do jardim à beira Tejo… da simples xícara de café, na Esplanada que domina a paisagem… e até das falácias tão estruturadas por um qualquer filósofo sedento de quaisquer sentimentos… Como teria sido Kant?... para deixar obras como a Crítica da Razão Pura, … ou Descartes?... Sócrates?...a quem acusavam de impiedoso… Como pensariam na realidade estes pensadores, que ao longo de séculos ensinam a pensar tantos outros… poderiam ter sido déspotas? … ambíguos? … indefinidos?... Sim! Indefinidos, talvez as suas concepções também contribuíssem para esta unicolor acinzentada…


23.04.05

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