segunda-feira, abril 17, 2006

SEGUNDA-FEIRA


(Cenário para o programa Herman Sic)

É mesmo segunda-feira!

Há já alguns dias que não tenho escrito qualquer folha no meu diário. Falta de disposição, ausência de inspiração ou possivelmente apenas o desgaste psicológico que me deixa insegura e impaciente e assim a escrita não flúi e a ideias emaranham-se num torvelinho, como se estivesse no centro de um tornado…

Mas tenho de desabafar. A única forma é esta. Escrever até que tenha a estabilidade que tanto necessito.

Aquele olhar estende-se por aquele além e por aquele além, tenta encontrar o que não tenho, ou melhor, o que não consegue encontrar em mim… estranho. Minimamente estranho esta sensação de perda, que me invade, tal como os líquenes abraçam uma qualquer árvore muito antiga.

Há momentos em que apenas uma palavra, uma palavra de poucas letras, chegaria para nos fazer erguer e não nos deixarmos escorregar pelo precipício do nada…

Hoje é apenas segunda-feira, o dia seguinte ao Domingo de Páscoa. A tristeza invade-me, porque num domingo que deveria ser de mais satisfação, sei da morte inesperada do jovem actor da série Morangos com Açúcar. Tão jovem! num estúpido acidente de viação e fez-me voltar à memória a minha amiga Manela, que fará daqui a dias dois anos que procurou o fim da sua dor… corajosa? Desiludida? Tudo!

Mas o Domingo de Páscoa também deixou que a tristeza escorregasse até hoje, porque para além de ser um domingo em que tive a alegria de ter um grande amigo perto, a almoçar o que preparei com muito carinho, fomos depois, com mais alguns conhecidos ao Herman Sic. Mas aí, algo me doeu, doeu fundo, porque me senti só perto de tanta gente…

Observei pessoas a entrar numa fase de decrepitude, o que me entristeceu. Tocaram uns acordes de uma música que me encheu a alma de melancolia… e era tão bem cantada! Que saudade! Jamais iria tratar na minha presença, fosse quem fosse, de modo a que me sentisse a mais… mas há pessoas e pessoas… e mais ninguém sabe definir o belo sentimento que nos invade a alma, quando amamos… e será que há por aí quem saiba o que é realmente amar?...

Fruíram as horas da minha pessoa num não faz nada, mas em que o pensamento borbulhou com a água, num caldeirão, quando ferve…

O barulho, num estúdio de televisão, é por vezes, ensurdecedor… o jogo dos feixes luminosos, com mais ou menos intensidade, deixa que nos apareçam imagens fantasmagóricas, a troçar do papel de figurantes que estamos a fazer… os sons de risos e palmas são como tropel de cavalos fugindo de uma tempestade…

E aqui me vou desfazendo em enormes filas de palavras, que poderão nada significar para quem as ler, mas que são o ribombar de um trovão imenso que me sacode e me mantém insegura, como uma folha ressequida empurrada pela rua, num Inverno qualquer…

E no silêncio que agora me envolve, apenas oiço a minha própria pulsação, sem ritmo nem significado…


17.04.06

1 comentário:

jorgeferrorosa disse...

Tudo isso sentido, também o senti e a minha tristeza ainda continua. Lindo escrito. Beijinhos