sábado, abril 01, 2006

CONVERSA DA TARDE


No meio da mesa duas chávenas de café e dois copos de água. Nós, frente a frente, vamos deixando deslizar as palavras que preenchem o nosso diálogo – a nossa conversa da tarde.

A nossa conversa desta tarde versou sobre os temas saudade e amizade e dissecámos os antagonismos que caracterizam a rotura de uma amizade e o jogo de interesses que podem ser utilizados para a manter, manobrar ou romper com a amizade entre duas pessoas, do mesmo sexo ou de sexos opostos. Estes malabarismos designados como “amizade”, apenas o são em palavras, porque de amizade, nada têm.

A saudade veio na sequência de um livro de José Ortega y Gasset – Saudade - notas de Trabalho – em que este autor faz observações filosóficas, em breves apontamentos, sobre a saudade. Apaixona-me o tema, porque sou uma apaixonada da saudade, que, com as características que lhe imprimimos, só nós, os portugueses, mostramos como a sentimos, nesta dimensão.

Mas o tema de fundo, que por mais de uma hora debatemos, foi o da amizade, que na sequência do afastamento de alguns amigos, nos fez conjecturar e configurar situações, que podem ser causa para levar a uma rotura, senão que temporária, definitiva, entre pessoas que admitiam que jamais se iriam apartar.

A amizade, o amor ao amigo, é algo que nos faz pensar e pensar profundamente. Será que para ser amigo se tem de aceitar todos os seus desaforos? Fingir que não se percebem? E se um dia, se nunca se esclarece o que molesta a outra parte, acaba a amizade com um sofrimento desnecessário?… ser amigo é ser transparente e criticar ou apoiar, sinceramente, com o tal amor de amigo? … Será que ficou percebido o conteúdo desta conversa da tarde? Será que depois de tanto termos procurado formas de agir de verdadeiros amigos, as encontrámos? Será que como amigos não há fronteiras ou há muros intransponíveis? Será que dizer a um amigo que o amamos é mal interpretado? Será que um amigo nos ouve e comenta posteriormente com outros amigos? A Amizade tem assim tantas interrogações?

Foi maravilhoso este fim de tarde!

01.04.06

1 comentário:

Rui Diniz Monteiro disse...

Há realmente todas essas interrogações. No entanto, há algo de tão intrinsecamente puro numa amizade que às vezes sinto-as a mais. É como a sombra de uma árvore num dia quente: não é tão fresca quanto desejaríamos, o chão é duro, etc. Mas ela está ali, quando mais nada está.