sexta-feira, março 31, 2006

A NOITE

A noite vai fria dentro das horas que vão escorrendo através dos ponteiros do relógio, sem que olhem para quem os vai vendo, passo a passo, a marcarem um tempo diferente, tão diferente daquele que queria que fosse passando.

O tempo teve o seu tempo e todo o tempo teve a sua oportunidade de ser o tempo ideal. Não esqueço o que o tempo me deu e o que me tem tirado, sem que tenha possibilidade de recuperar o que quer que seja.

As dúvidas que com o tempo foram crescendo, deixaram aumentar a angústia que me domina no tempo de agora. A incerteza que me assalta a cada instante, destroça-me a vontade, aniquila-me a auto-estima e extingue a última etapa deste tempo vazio e sem perspectivas.

Um cansaço incomensurável instalou-se no meu ser, como se tivera acabo de subir uma alta montanha… e subi realmente. Subi a montanha da desilusão… Do cume da escarpa olho para os desaforos que me atormentam, como se fossem penhascos pontiagudos, de rochas afiadas como gumes de facas… que me foram parcelando os desejos, me foram retalhando em finas tiras de desespero e de nojo pelo procedimento desajustado daqueles com quem me fui cruzando, aquando da minha passagem até aqui…

E a noite estrelada e fria vai subindo no horizonte da existência que vou vivendo sem viver, porque só se pode viver se a plenitude do todo for real e tão cansada jamais conseguirei abandonar este ninho de abutres onde me refugiei e donde queria partir…

30.03.06

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