quinta-feira, março 10, 2005

UM LUTO PERENE


O Sol pôs-se muito pálido por entre nuvens meio esfarrapadas e não tardou que um crepúsculo acinzentado abrisse as portas ao anoitecer, envolvendo-nos.

Depressa, o escuro manto da noite foi o lençol que cobriu todos os actos que não quis testemunhar e deixou que uma vez mais ficassem escondidas as lágrimas que iam escorregando desabridamente por este rosto, que de tanto pranto, já tem mais sulcos que a terra acabada de lavrar...

Os soluços incontroláveis e o choro convulsivo foram dando lugar a uma apatia indecifrável. Os olhos parados no nada deixavam transparecer uma profunda tristeza. Um não esperar por nada nem por ninguém... acabava de perecer o último alguém.

Que esperar do que vem do nada? Que tipo de ilusão tentar manter quando o negro manto do luto nos cobre por décadas e quando o tentamos despir e logo o estamos a colocar de novo?

Vamos lá de éticas, de moral, de bons costumes! Como se pode pensar em tudo isso quando tudo isso é um perfeito disparate? Como se pode pôr em evidência a ética, quando por ética deixamos baixar à sepultura quem mais amamos, para que nos braços de outra “terra” desfrute da ternura que por ética não lhe demos? Como se pode considerar moral a atitude amoral de dizer não, quando todo o nosso pensamento e todos os quarks dizem sim? O que são os bons costumes perante a renúncia a quem nos pode manter vivos?

Claro que à luz da Psicologia vamos em busca dos quês e porquês para tais momentos actuais; vamos em busca de novos objectivos para superar as desditas que juntas a outras e outras origens chegam à desdita do momento e, como se fosse possível, passados tempos, tudo estará bem...

Mas, claro que, se observarmos este eterno luto por perdas sucessivas ou por abdicação, à luz da Filosofia... desarticular-se-ia a dor, não faria sentido mais este luto, porque a razão da sua razão não poderia ter existido porque no calculismo da clarividência não teria havido amor e por isso não teria havido perda e sem amor nem perda não haveria luto nem sofrimento...e eu não seria eu!!!
09.03.005
isabel

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