domingo, outubro 23, 2005

INCONFIDÊNCIAS…



Muito lentamente, percorri os caminhos estreitos do lugar de repouso de corpos e almas.

Muito lentamente procurei o rectângulo de mármore, gasto pela erosão de muitas chuvadas, sol ardente e ventanias, neste vale de repouso.

Muito lentamente encaminhei-me para a placa com aquele nome, descolorido, mas bem definido, esculpido na pedra fria, agora aquecida pelo sol do princípio da tarde.

Muito lentamente sentei-me na borda de mármore quente, olhando nos olhos da foto já esbatida, num esmalte que fora já castanho…

Muito lentamente juntei meu corpo à laje quente, chamei pelo nome e deixei que esse sopro morno me acariciasse as orelhas, num profundo palavreado, de dizeres indizíveis, que são sempre as mais belas palavras de amor…

Muito lentamente senti que ternas mãos deslizavam pelo meu pescoço, numa terna carícia, deixando-me relaxada e deleitada; deixando que toda a tensão da revolta que me invadia, se fosse esvaindo, como que um desmaio suave me fosse invadindo…

Muito lentamente, acariciei a pedra sepulcral, como se fora o corpo desejado sob o meu, tendo o sol como testemunha de um inolvidável momento de amor…

Muito lentamente, os mais doces lábios roçaram os meus, sugando-os com doces beijos, num encantamento indescritível… beijando-me as mãos, os pés, as coxas… um todo de afagos carinhosos intraduzíveis…

Muito lentamente, toda a convulsão de um prazer indescritível me ia abalando, me ia transportando a um êxtase jamais sentido.

Muito lentamente, muito docemente, muito suavemente, penetrando em meu ser, todo entregue, todo deliciado por minhas ternuras. Todo o mundo parou para ouvir nosso arfar…

Muito lentamente, a libelinha poisou sobre as flores do jarrão de mármore. As flores também descoloridas, apenas eram lugar de poiso para os insectos ou passaritos que por ali andavam e que paravam para espreitar o nosso momento…

Muito lentamente, os sussurros cruzaram-se, como gemidos de aves nocturnas e momento a momento, com mais intensidade, com uma força vulcânica, soltei um grito. Um misto de prazer e angústia. Um grito de dupla satisfação que se cruzou com o que em desabafo do interior repetia “amo-te! … amo-te!”

Muito lentamente, fui perdendo as forças que me uniam àquela laje gasta pelas intempéries, mas que me dera o que ficará para a eternidade, depois dos momentos mais intensos que até então vivera…

Muito lentamente recompus a roupa. Muito lentamente voltei a sentar-me na ponta da pedra tumular. Muito lentamente acariciei todo aquele mármore liso e descorado pela erosão e levantei-me.

Muito lentamente, olhei o azul pálido, pela luz do sol, daquele céu que nos servia de coberta… e agradeci uma vez mais, a meia voz, como havia gostado daquele momento.

Muito lentamente, deixei que entre um suspiro de espanto e um de plenitude, me saísse da boca a verdade que me havia sido vedada toda a vida: realmente fizera amor!

3 comentários:

GNM disse...

Bem... até fico gago!!!

Uma excelente semana para ti...

Continua a sorrir!

Anónimo disse...

Oi minha querida!! Passo pra deixar um grande beijo!!
E ve se aparece!! ;)

Leonor C.. disse...

Embora já lhe tenha dado a minha opinião não quis deixar de passar por aqui para deixar um beijinho.
Melhores pensamentos! Não fiquei gaga, mas arrepiada!!!