sábado, outubro 01, 2005

O DIA SEGUINTE


A porta bateu com estrondo. A janela não voltou a abrir-se e um silêncio sepulcral passou a reinar no patamar primeiro do prédio mais alto daquela rua.

O Sol zangou-se e escondeu-se atrás de um manto espesso de nuvens cinzentas. Não voltou a brilhar e passou a ser sempre Inverno…

Sempre que passo, apresso o passo para não se prolongar o arrepio que me sobe as costas… e a dor aguda que me trespassa o peito mais parece a de uma espada incandescente, pronta a ser batida por um qualquer ferreiro (que se calhar já nem existe algum…), e que queima todo o meu ser, deixando-o em brasa e depois em cinza, para que o vento sopre e a leve para o lugar deixado vazio, quando aquela porta bateu pela última vez.

A dor, aquela dor sem nome, é o meu dia a dia. É uma dor tão profunda, que não sei de onde vem, nem onde nasce. É a dor que consome, um a um, os meus momentos: A dor da solidão, a dor da saudade, a dor da nostalgia da recordação… e aquela porta não voltou a abrir-se… nem a janela deixou que o cortinado esvoaçasse, nem tão pouco deixou que uma daquelas melodias soasse como música de fundo…

A melancolia que invade todo o meu pensar é uma dor constante, que da alma passa ao corpo. É uma dor somática. É uma dor psíquica. É uma dor carregada de negatividade activa geradora de destrutividade… isso! Um caminho tortuoso para a auto-destruição.

A dor da renúncia sem adeus. A dor da troca sem um insignificante nada como adeus… a porta fechou-se deixando a dor avançar, sem beijos, sem ternuras…sem um simples olhar… só isso! E a dor que sinto é incomensurável porque sem porquês, não lhe resisto…

A dor da ausência domina a existência dos dias que passam sem passar… A dor da tristeza, a azul dor da morte que vive dentro de mim e dentro de mim vive, matando-me a cada minuto… desde que aquela porta bateu com estrondo e nunca mais se abriu…


30.09.05

2 comentários:

Leonor C.. disse...

Amiga, neste momento estou tão triste... Porquê? A dor da solidão e a incógita do amanhã; o esperar em vão, o não ter lugar, o medo da mentira, que me fere. Tanta coisa que cabe no meu sentir e não posso expressar em palavras!...

Rui Diniz Monteiro disse...

Não sei o que dizer que possa afastar a dor (todas as palavras parecem um excesso), por isso, em silêncio, aqui fico.