segunda-feira, dezembro 19, 2005

HISTÓRIA DA RÃ QUE FOI RAINHA


Era uma vez, já lá vão muitos anos, num reino distante, perdido entre montanhas e vales, um príncipe já quarentão, casou-se com uma princesa de um reino vizinho.

A princesa era uma jovem muito bonita, de longos cabelos negros, escorridos pelas costas e tinha os olhos verdes como duas esmeraldas.

Passados uns tempos, morrendo o velho rei, o jovem casal passou a reinar e foi desejado um herdeiro. Tinha de ser um rapaz, pois naquele reino, por tradição, não poderia reinar uma mulher.


(O jovem casal)

Quis o destino que a jovem e formosíssima rainha tivesse uma filha e não um filho.

Também e por tradição, as madrinhas eram as fadas da floresta, que muito prontamente foram chamadas, para que fizessem desaparecer a princesinha do reino, uma vez que não poderia ser rainha.

(Estas eram as fadas madrinhas)


Depois de muito conferenciarem, as fadas decidiram levar a bebé e no lago que separava as montanhas dos dois reinos, deitaram-na dizendo que ficasse rã, até que alguém decidisse que deveria ser outra vez pessoa.

Tempos mais tarde, a jovem rainha, que passara a ter sempre uma aparência muito triste, teve um outro filho. Este veio rapaz e passaria a ser rei por morte do pai.

O rei, que envelhecera e já estava idoso, nunca permitiu que fosse revelado ao príncipe que tivera uma irmã mais velha e o jovem foi crescendo pensando que era filho único.

Estranhava a mãe ser uma rainha tão triste, mas nem ousava perguntar qual a razão de tanta tristeza.

Quando o jovem príncipe já era homenzinho e educado para ser rei, o pai morreu e ele teve de assumir as funções, mas não completamente, uma vez que era muito jovem.

O tempo foi decorrendo indiferente até que um dia, ao passear com a mãe, nos jardins do castelo, o jovem perguntou a que se devia tanta tristeza numa pessoa tão bela. A mãe encheu-se de coragem e entre suspiros e lágrimas, contou ao jovem príncipe as suas desditas.


Prontamente o jovem disse que isso não era justo e era necessário procurar a irmã, porque quem seria a rainha era ela, mesmo tendo de mudar as leis do reino.
Foram chamadas as fadas da floresta que explicaram o que haviam feito à princesa. O Príncipe mandou-as buscar a irmã, mas ficou muito surpreendido quando viu que a sua ordem não estava ser cumprida.



A causa da princesa não poder regressar, era a falta de uma das madrinhas, porque só ela sabia o resto das condições que fariam a princesa deixar de ser rã. Foi então essa fada procurada por todas as serras e florestas e quando chegou à presença do príncipe explicou que teria de ser ele a ir buscar a irmã, uma vez que a decisão de ela ser pessoa de novo era dele.

Fizeram-se os preparativos para ele ir procurar a irmã, enquanto pelas ruelas do castelo onde se cochichava a volta da princesa que ninguém conhecera.

Na carruagem puxada por muitos cavalos ia também a mãe, chorosa, mas na esperança de ser perdoada.



Chegados ao lago, o príncipe apeou-se e chamou a irmã, que saltando rã, lhe caiu nos braços mulher.


A alegria de todos foi indizível, pois jamais se vira algo assim e a princesa, tão bela quanto a mãe e tão bondosa, perdoou, pois percebeu que a força de uma tradição nem sempre é quebrada por falta de coragem e por não se saber enfrentar as mudanças.

Meses mais tarde a rainha, bela, elegante e muito distinta, tomava o seu lugar na sua majestosa cadeira, enfrentando o seu povo e fazendo-o entender como o amava.

Foram felizes, todos, dessa data em diante e jamais se tomaram medidas para que as mulheres não tivessem um mesmo lugar que os homens.

(história contada à Ritinha na madrugada de 11.12.05)

3 comentários:

Diolindinha disse...

Ah, temos aqui uma história... Mas agora vou para vale de lençóis e volto amanhã...

jorgeferrorosa disse...

Que bela história. Gostei.

Leonor C.. disse...

Gostei da história e do final.Que assim seja!

Beijinhos