quarta-feira, dezembro 21, 2005

O PRESÉPIO


O nascimento de Jesus começou a ser celebrado desde o século III. A partir dessa data, realizaram-se as primeiras peregrinações a Belém, para se visitar o local onde Jesus nasceu.
Desde o século IV, começaram a surgir representações do nascimento de Jesus em pinturas, relevos ou frescos.
A palavra “presépio” significa um lugar onde se recolhe o gado, “curral, estábulo”. Contudo, esta também é a designação dada à representação artística do nascimento do Menino Jesus num estábulo, acompanhado pela Virgem Maria, S. José, uma vaca e um jumento. Por vezes, acrescenta-se outras figuras, como pastores, ovelhas, anjos, os Reis Magos, e outros. Os presépios são expostos não só em Igrejas, mas também em casas particulares e até mesmo em muitos locais públicos.
No século XVI, surgiram em Itália os primeiros presépios. O seu surgimento foi motivado por 2 tipos de representações da Natividade (nascimento de Cristo), a plástica e a teatral: A primeira, a representação plástica, situa-se no final do século IV, esta surgiu com Santa Helena, mãe do Imperador Constantino; da segunda, a teatral, os registos mais antigos que se tem conhecimento são século XIII, com Francisco de Assis, este último, na mesma representação, também contribui para a representação plástica, já que fez uma mistura de personagens reais e de imagens. Embora seja indubitável a importância destas representações da Natividade para o aparecimento dos presépios, elas não constituem verdadeiros presépios.
Passados 9 séculos, no século XIII, mais precisamente no ano de 1223, S. Francisco de Assis decidiu celebrar a missa da véspera de Natal com os cidadãos de Assis de forma diferente. Assim, esta missa, em vez de ser celebrada no interior de uma igreja, foi celebrada numa gruta, que se situava na floresta de Greccio (ou Grécio), que se situava perto da cidade. S. Francisco transportou para essa gruta um boi e um burro reais e feno, para além disto também colocou na gruta as imagens do Menino Jesus, da Virgem Maria e de S. José. Com isto, o Santo pretendeu tornar mais acessível e clara, para s cidadãos de Assis, a celebração do Natal, só assim as pessoas puderam visualizar o que verdadeiramente se passou em Belém durante o nascimento de Jesus.
Este acontecimento faz com que muitas vezes S. Francisco seja visto como o criador dos presépios, contudo, a verdade é que os presépios, tal como os conhecemos hoje, só surgiram mais tarde, três séculos depois. Embora não considerado o criador dos presépios (depende do ponto de vista), é indiscutível que o seu contributo foi importantíssimo para o crescimento do gosto pelas recriações da Natividade e, consequentemente, para o aparecimento dos presépios.
No século XV, surgem algumas representações do nascimento de Cristo, contudo, estas representações não eram modificáveis e estáticas, ao contrário dos presépios, onde as peças são independentes entre si e, desta forma, modificáveis.
É, nos finais do século XV, graças a um desejo crescente de fazer reconstruções plásticas da Natividade, que as figuras de Natal se libertam das paredes das igrejas, surgindo em pequenas figuras. Estas figuras, devido à sua plasticidade, podem ser observadas de todos os ângulos; outra característica destas é a de serem soltas, o que permite criar cenas diferentes com as mesmas figuras.
A característica mais importante de um presépio e a que mais facilmente permite distingui-lo das restantes representações da Natividade, é a sua mobilidade, o presépio é modificável, neste, com as mesmas peças, pode recriar-se diferentes episódios que marcam a época natalícia.
A criação do cenário que hoje é conhecido como presépio, provavelmente, deu-se já no século XVI. Segundo o inventário do Castelo de Piccolomini em Celano, o primeiro presépio criado num lar particular surgiu em 1567, na casa da Duquesa de Amalfi, Constanza Piccolomini.
No século XVIII, a recriação da cena do nascimento de Jesus estava completamente inserida nas tradições de Nápoles e da Península Ibérica (incluindo Portugal).
De entre os presépios mais conhecidos, é de salientar os presépios napolitanos, estes surgiram no século XVIII, nestes podiam observar-se várias cenas do quotidiano, mas o mais importante era a qualidade extraordinária das suas figuras, só a título de exemplo, os Reis Magos eram vestidos com sedas ricamente bordadas e usavam jóias muito trabalhadas.
No que se refere a Portugal, não é nenhum exagero dizer que foi aqui que foram feitos alguns dos mais belos presépios de todo o mundo. É de destacar os realizados pelos escultores e barristas Machada de Castro e António Ferreira, no século XVIII.
Os presépios portugueses constituem importantes obras de arte, grandes barristas portugueses ocuparam-se com esta arte. Nestes presépios existe uma conciliação perfeita do folclore português com as correntes estéticas.
O Livro da Fundação do Mosteiro do Salvador da Cidade de Lisboa, de 1618, de autoria de Maria Baptista, refere-se à existência de um presépio ali, antes dos meados de Quinhentos, presépio esse muito venerado.
Há notícia de pelo menos outro presépio em Lisboa, no século XVI, este foi encomendado a Bastião d’Artiaga em 1558 pela irmandade dos Livreiros de Lisboa, para a Igreja de Santa Catarina do Monte Sinai.
No século XVII, os presépios começam a espalhar-se pelo país.
O presépio barroco, no século XVIII, desenvolveu-se em Portugal no reinado de D. João V, recebendo talvez sugestão dos seus congéneres do Sul de Itália.
É neste século que se notabiliza, em Portugal, a produção de presépios pelas mãos de grandes barristas, em especial, Machado de Castro e António Ferreira.
Ora, tanto Machado Ferreira como António Ferreira, e de modo geral, todos os escultores da época, praticaram uma escultura de pequeno formato, em barro, onde a modelação impera.
Dos mais conhecidos presépios de Machado de Castro, destacam-se o da Igreja da Sé Patriarcal de Lisboa e o da Basílica da Estrela, também em Lisboa.
António Ferreira criou também importantes presépios, entre outros, foi ele o escultor do enorme presépio da Igreja Madre de Deus, em Lisboa.
Nesta época, os presépios têm uma presença constante em igrejas, conventos e lares particulares. Infelizmente, muitos desses presépios foram desmantelados, como é o caso do famoso exemplar da Cartuxa de Laveiras, mesmo assim subsistem montados bons exemplares como é o caso do da Sé (1776), o da Basílica da Estrela (1782), o da Igreja de S. José, o da Capela da Senhora do Monte e o da Igreja dos Mártires; desmontados ou apenas com figuras avulsas estão em vários museus, como o Museu da Arte Antiga e do Azulejo.
Os presépios contam com a participação de grande quantidade de pequenas figuras. Contudo, também existem com pequno número de figuras e com uma narrativa mais sintética, como o do Palácio de Mafra, este é um pequeno presépio em madeira atribuído a José de Almeida.
De entres os presépios de maiores dimensões, temos: o da Estela, com cerca de 500 figuras e o da Madre de Deus com cerca de 200. Um outro presépio de grande dimensão encontra-se no coro alto do Mosteiro de Santo André de Ponta Delgada, nos Açores, e integrado no Museu Carlos Machado.
No século XIX, o presépio começou a ser objecto da arte popular, caindo em desuso a criação de presépios monumentais.
Actualmente, o costume de armar o presépio, tanto em locais públicos como particulares, ainda se mantém em muitos países europeus. Contudo, com o surgimento da árvore da Natal, os presépios, cada vez mais, ocupam um lugar secundário nas tradições natalícias.

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