sexta-feira, janeiro 16, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

Com um até quarta, despediu-se e eu ainda fiquei a analisar algumas das notas que fui escrevendo à margem, na folha da anamnese (este palavrão quer dizer que, para estabelecer uma avaliação e o diagnóstico do paciente, preenche-se um documento, ou seja, uma ficha onde se aponta a entrevista médica com os dados que serão uma orientação de base). Esquematizei como gostaria de fazer prosseguir a sessão seguinte, fechei gavetas e armário, computador, luzes e saí (a pensar em Magda).

A Segunda Sessão

À hora marcada Magda entrou na minha sala para mais uma conversa…

E prosseguiu como não tivesse havido qualquer interregno…

Posteriormente, aprendeu o abecedário, seguindo-se os números depois de dez e algum tempo depois, aprendeu a juntar as letras, vogais e consoantes, formando as primeiras sílabas, os primeiros ditongos. Seguiram-se as primeiras cópias de palavras como Pai e Mãe, Tia, Avó, mão, pão e palavras mais longas como jar-ro, bur-ro, ca-der-no... estas cópias eram feitas em cadernos especiais, os cadernos de duas linhas; primeiro escreveu com lápis e só muito mais tarde aprendeu a escrever com tinta.

A caneta era um tronco de pau, e os aparos de metal, soltos, que se substituíam logo que começavam a escrever mais grosso, ou a arranhar o papel. Magda molhava o aparo da sua caneta de pau pintado de vermelho, no tinteiro de loiça branca, que encaixava num buraco da carteira. Cada aluna tinha o seu, no topo superior direito da carteira.

Sempre que usava a pena, pois era assim que se chamava aquela caneta, Magda sujava as mãos, o que valia uns reparos da professora e às vezes uns toques com a régua nos nós dos dedos e umas boas reprimendas da mãe, que lamentava a filha não aprender rapidamente a lidar com a pena e a tinta...

Magda também apanhava com a régua por se distrair a olhar para nada... como dizia a professora, e a mãe costumava desabafar, que tinha uma filha sonhadora. Às vezes não estava em parte nenhuma.

Com a Tabuada, depois de aprende a contar, veio a soma de dois algarismos, três; duas parcelas, três e as respectivas provas dos nove e real. A subtracção: e aí iniciava a confusão...

Magda voltou a acender um cigarro, olhou para o relógio e perguntou se não estava a abusar da minha paciência.

Sorri-lhe e disse que estivesse à vontade e pedi que continuasse.

Então Magda confidenciou que receava ser muito morosa no seu relato e no seu estilo muito próprio, continuou, dizendo que tinha um cestinho em verga castanha, oval e alto, onde levava o termus com chá e o almoço, dentro de uma marmita de alumínio com andares, com os tachinhos encaixados uns nos outros.


A menina Belmira, a empregada do refeitório da escola, punha no prato os alimentos logo que soava o sino para o intervalo do almoço. De vez em quando passava e perguntava se faltava muito para acabar. Perguntava porquê não comiam tudo e assim que finalizavam a refeição, recolhia todos, os pertences de cada aluna, para arrumar os pratos sujos e as marmitas, dentro das cestinhas, que ao sair da sala de aula ao fim do dia, eram recolhidas nos bancos corridos do pátio interior, para que em casa as mães lavassem e preparassem as cestinhas para o dia seguinte.


(continua)

1 comentário:

Maria Clarinda disse...

E cada dia mais interessante a história da Magda que continuo ávidamente a ler.
Jinhos mtos