sábado, janeiro 24, 2009

A HISTÓRIA DE MAGDA (continuação)

como se não tivesse havido uns dias de intervalo

Mas houve uma variedade de histórias que impressionavam Magda de uma forma acentuada, eram as histórias sobre animais e em que estes falavam, como a Lebre e a Tartaruga, Os Três Porquinhos, A Cabra Cabrês, O Peixe Rei e outras em que o rei da floresta era o Leão, mas Magda segredou-me que não concordava, por preferir o Elefante, que era enorme e que nem comia gente e parecia ser um excelente meio de transporte.

Recordou as idas ao Jardim Zoológico e da moeda que dava ao elefante para tocar um sino. Recordou o que a divertia ver os macacos a olharem para um espelho e as girafas, com uns pescoços tão longos, como eram tão elegantes...Magda disse-me que antes de ir para a Escola, chamava ao Jardim Zoológico o “Jardim do Relógio”, porque a verdadeira palavra era muito difícil de pronunciar, tal como papagaio, a quem ela chamava “pacagaio” e tinha uma simpatia especial por estes animais.

Mas a história de Mobby Dick, a grande Baleia, contada pela Avó Maria, era a história que a deixava mais apreensiva, pois era inimaginável existir um animal tão grande, como era esta Baleia. Por essa razão achava as histórias da Avó sobre a Madeira e os Açores e a pesca da Baleia cruéis, mas ao mesmo tempo aceitava. Achava que as baleias eram ilhas flutuantes e vivas e que até podiam ser perigosas...

Magda acentuou que estava sendo educada dentro de uma ingenuidade e carinho que talvez não correspondessem muito profundamente às realidades desse período. Talvez a Avó quisesse preservá-la de tais realidades, bem mais adversas... Poucos anos antes terminara a Segunda Guerra Mundial e todo o Mundo vivia mais ou menos sob as consequências de tão nefasto período.

Magda levantou-se. Bebeu um pouco de água e voltou a sentar-se e olhando-me disse não ser tão fácil viver, como na realidade deveria ser e continuou.

Na Escola, além das letras e números, Magda foi alertada para outras realidades. Eram realidades que desconhecera até essa altura, como castigo, réguadas, orelhas de burro, enfim... Eram impostas por seres humanos como ela, muito mais velhos, mas rasgavam-lhe o horizonte mostrando que havia diferença entre a sua casa e o fora de casa. Além disso, mas sem grandes explicações, na escola falavam de Deus, Pátria e Família! Mas tão diferente do que havia no seio da família...

Deus! Magda ouvira a Mãe e a Avó falarem do Menino Jesus; Magda costumava ir à Igreja e até acompanhar a Avó Maria em Procissões e aprendera a falar com Jesus para não a deixar fazer asneiras. Mais tarde, como havia o “culto” do pecado, Magda repetia vezes sem conta as suas asneiras, junto a uma janela, para que não as voltasse a repetir, pois tinha um medo incomensurável de ser pecadora. Contudo, ter conhecimentos com a profundidade do Catecismo, só na Escola, embora percebendo sem perceber, no decorrer das aulas de Religião e Moral acabou por saber recitar a Avé Maria. Mas para a simplicidade de Magda, que quereria dizer tudo aquilo, quando ainda mal sabia soletrar a palavra ta-bu-a-da?

A Avé Maria era a oração dita em conjunto por toda a classe, antes de se iniciar a aula e ao finalizar esta, em cada dia da semana.

Magda confundia Pátria e família, pois a sua dimensão de Pátria, tendo em conta que era o país onde nascera, pouco mais além ia do que o que via da janela da sala, do quarto andar onde havia nascido e vivia. Família, para além dos pais e avós, eram os tios, padrinhos e primos que tinha por perto, os demais, eram apenas pessoas...

(continua)

1 comentário:

Maria Clarinda disse...

E aqui continuo cada vez mais àvida pelo desenrolar da H.de Magda.
Jhs