segunda-feira, janeiro 05, 2009

CAPÍTULO I - A HISTÓRIA DE MAGDA

A PRIMEIRA SESSÃO

Como iniciámos o relacionamento

Com um dá-me licença doutora, entrou pela porta do meu gabinete de consultas, uma mulher de uns sessenta anos, loira, nem gorda nem magra, e com um sorriso que tudo fazia crer, de boa disposição e que começou por me pedir que a deixasse acender um cigarro, acrescentando, que uma pessoa normal não fumava.

Disse que era a Magda e foi assim que encetámos a nossa conversa.

Peguei na sua frase de ser ou não ser normal, para lhe explicar sumariamente, como consideramos a fronteira entre o comportamento normal e o perturbado ou seja o “normal” ou “não normal” ou ainda se preferirmos, a delimitação entre a saúde e a doença mental, porque na realidade, para a psicologia clínica, é das questões mais delicadas. Expliquei que são possíveis três critérios para a avaliação – o estatístico, em que seria “normal” o indivíduo cujo comportamento fosse como o de uma maioria de pessoas; o normativo, em que seria “normal” o indivíduo que se conforma com as normas estabelecidas e o ideal, mas quem define o funcionamento psicológico ideal? Ora, a perturbação psicológica, é-o quando sentida como indesejável porque limita a autonomia e a capacidade de auto-realização, quando é vivida com sofrimento na relação do indivíduo consigo próprio e com os outros.

Magda acenou ligeiramente a cabeça e balbuciou que essa era sua grande apreensão. O seu relacionamento consigo própria e com terceiros. Estava sempre rodeada de sofrimento.

Pediu-me desculpa de me ter interrompido e ficou de novo em silêncio, e com a mesma expressão indecifrável.

Hoje, e passados alguns anos depois de ter recebido esta senhora no meu gabinete, penso que fui muito técnica e formal para dar início a um programa de sessões de acompanhamento a uma pessoa que, se me estava a procurar, razão tinha e por isso deveria ter sido mais acolhedora, o que veio a acontecer durante a entrevista, por ter existido uma empatia quase que imediata.


Magda olhava-me fixamente. Enquanto isso, eu também olhava aquela mulher, milímetro a milímetro, para a perceber, antes de dar início à consulta e fiquei surpreendida por não encontrar qualquer vestígio evidente que a fizesse ter-me procurado. Porém, quando a olhei nos olhos, e os nossos olhos se fixaram atraídos como hímen, consegui vislumbrar qualquer coisa: a tal “luz ao fundo do túnel”, pois estes, atrás dos óculos, mostravam uma tristeza sem fim, embora sorridentes e inquietos como os de uma adolescente.

Pedi-lhe então que me falasse de si, não omitindo nem transformando detalhes que poderiam ser de importância para a poder apoiar e dar início ao processo de acompanhamento psicológico que me viera solicitar.

Assim,

1 comentário:

Maria Clarinda disse...

Com avidez li a tua história de Magda e...agora quero mais, mais...
Jinhos muito grandes!