Deixei de escutar a tua música!
Deixei de ouvir os teus sussurros.
Deixei de ler os teus escritos.
Deixei de comentar o que vens escrevendo.
Deixei que o pensamento corra como um cavalo à desfilada pela lezíria pardacenta depois de tanto calor…
Deixei de sentir todas as pulsões que sentia, quando pressentia que te aproximavas.
Deixei de atender os teus chamamentos…
Deixei que dominasses os meus sentidos e perdi-me… deixei que tempo demais passasse…
Deixei arrastar-me pelo labirinto do teu pensamento sem que te apercebesses… e correste atabalhoadamente no primeiro jardim que encontraste… sem me encontrares…
Deixei que uma torrente de lágrimas se confundisse entre o desgosto da perda de uma querida amiga e o desgosto de não te ter como a maior preciosidade que se pode ter…
Deixei que tudo parecesse belo, quando um escuro de breu não deixa ver nada…
Deixei que me iludisses, para me agradar e elevar a auto-estima… porquê nos olhos deixaste sempre transparecer isso? Por isso a ilusão não passou de ilusão…
Deixei que minhas mãos te tocassem, mas toquei sempre na estatueta de estimação… como todas as estatuetas, fria, brilhante e distante…
Deixei que sentisses o prazer do perfume que me envolve… só não percebeste que sempre foi cheiro a velas ardendo…
Deixei de ser, deixei de estar, deixei que o tempo passasse…
Deixei-me iludir e nem sei se saberei resistir…
Deixei que todas as palavras fossem a teia que me envolveu… e que irá envolvendo outros e outros… que descartarás, quando outros surgirem, para alimentar o teu ego, sôfrego de dominação…
Deixei que me lesses e perscrutasses todo o meu ser… e com palavras e sem palavras, nada disseste…
Deixei que toda a minha ternura se perdesse no distante eco dos silêncios… sem ter tido oportunidade de dizer quanto te queria… por isso, deixei de ter necessidade de o dizer…
Deixei, enfim, o meu espaço para que o preenchas com novas leituras, novos elogios, novas formas de iludir os quantos leitores sedentos de vida e procurando algo que os preencha…
Deixei sim, de viver, quando nem havia nascido…
07.06.05
quarta-feira, junho 08, 2005
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1 comentário:
Quantas vezes o motivo pelo qual começo a chorar é acrescido de tantos outros e aproveitam-se as lágrimas.E lava-se a alma para depois se ficar com uma sensação enorme de vazio, de desalento. Depois, basta o som duma voz amiga como se dissesse- estou aqui!- para que esse vazio desapareça.Mas... até quando?...
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