sexta-feira, junho 03, 2005

FOLHA PERDIDA DO DIÁRIO

O mundo dos silêncios arrebatou-me para os interiores do desconhecido. E perdida numa escuridão de cegueira, apenas sinto o palpitar do sangue nas veias e as lágrimas que quentes, parecem querer adoçar o desespero…

Lendo o que li, aquando julgava passear-me pelo claro mundo dos amores, fiquei desiludida. Como senti revolta de tudo! Como me senti enganada por todos. Como me senti preterida pelo mais belo sonho que jamais havia sonhado… sem direitos! Nem ao de um simples sonho…

E sem querer, eis que volto ao mundo dos antigamente, onde me foi vedado o tudo que mais desejava…

“Não deves dizer que adoras! Só adoramos a Deus… uma boneca não é Deus. Não deves adorar esse vestido… é pecado, Só adoramos Deus! E os primeiros sapatos com tacão alto? Que loucura, adorares sapatos amarelos… Só se adora Deus!...”

Adorar um homem? “Não! Só adoramos a Deus! Não se deve adorar bens terrenos… “

E que Deus foi esse que nuca me deixou adorar nada, nem ninguém? Que Deus foi esse que não permitiu que todas as sensações não passassem de imaginação?... Que Deus é este que nem me deixa ouvir dizer que sou adorada?...mesmo sendo mentira… neste mundo dos silêncios…

Foi-se o Estio, a Primavera e tantos Outonos, foram tantos tempos, sem que desse que esse tempo ia passando… e porquê tudo é igual?... E a voz do além repetir-se-ia… não fora só haver silêncios…

Neste mundo silencioso onde me perco, só os gritos interiores, abafados numa escuridão profunda, são o que calei indefinidamente… ADORO-TE! Adoro-te!...adoro-te…

Adoro os escritos do mistério, lidos e relidos, no escuro dos escombros das décadas que nos separam. Adoro idealizar que uns olhos cor de avelã me olham para além da cegueira desta escuridão imensa… e entre a imaginação e o ruído do sangue que vai correndo nas veias cansadas, oiço o que não oiço, porque ninguém o diz: Adoro-te!

Adoro toda a ansiedade que me causa a incerteza do escuro que me abraça e idealizo que esse abraço é o misterioso abraço, que só a escuridão pode dar… porque abraços, beijos, ternuras, são apenas para quem se adora…

É proibido! É pecado! Não gosto delas! Não podes adorar! NÃO! NÃO!...tudo não! E neste escuro de breu, sem bastão ou facho para iluminar, tropeçando constantemente aqui e além, num desmedido descontentamento que a rebeldia instalou à nascença, sou intolerante, exagerada, desiludida e já sem nada nem ninguém a dar o amor: ODEIO! Odeio, odeio tudo e todos: o que escrevo, o que leio e todos os que se amam, porque amam a mentira, porque se destroem com falsidades, com inexistências… irrealidades…
03.06.05

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