Amanheceu! Um dia igual a tantos outros, sem que se deixasse perceber que alguma coisa de diferente existia na realidade.
É verdade! Existe sempre uma qualquer coisa para que o dia de ontem não seja igual ao de hoje e mesmo no mesmo dia, as horas que o preenchem se assemelhem…
O meu pai faria oitenta e quatro anos, se não tivesse partido há cinco…
Tentei esquecer o dia todo, os muitos aniversários que partilhei com ele. Tentei não abordar o assunto a absolutamente ninguém, nem mesmo com quem, convivendo longe mas perto, partilho todos os minutos de pensamentos da minha vida. Lembrei amigos já no longe e os que estão na indecisão da partida… e mais sofrida me senti, quanto o meu suspiro pressentiu a distancia que querias fazer prevalecer… Ninguém me entende!
Tantos desconfortáveis diálogos com o meu pai!
Tantos azedumes por contrariar os meus quereres!
Tanto desgosto por não entender os meus amores…
Pois é! É mesmo isso… mas crê, só anos depois os entendemos… embora se nos tivessem entendido antes, talvez não sofrêssemos no depois…
Depois vem o escrito, infinitamente suspenso na indecisão do que não é dito e a ambígua “enxotadela” como se fora uma mosca melosa, a incomodar…
Depois vêm os cínicos vocábulos, enganadores, mas enciumados, trapaceiros, plenos de desfasamentos, ante a tão triste tristeza que me parte a alma…
…E o digo o que não disse e que direi sem dizer…para quê? Quem espera o quê, de quem? Se não tenho direito a nada…apenas a que sequem todas as plantas que ainda estão verdes… que sopre vento no dia que espalharem as minhas cinzas no túmulo da minha saudade… espero ter direito a esse desejo…
É isso pai! Vivemos tão pouco tempo juntos… fui embora… e agora seria bom dizer-te que tenho o coração cheio de um terno sonho como o que não permitiste que tivesse aquando deveria ter tido…
É isso! Nem uma flor te deixei na campa no dia nove deste ano! Mas amo-te muito, pai.
É isso! Agora sabes porquê estive tão triste e estou… Agora percebes porque me magoa tanto o não me falares quando necessitava…pois é! Como todos se parecem…
10.05.05
quarta-feira, maio 11, 2005
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