O Senhor X entrou no meu gabinete de trabalho, quando o convidei a entrar. Hesitante e excessivamente “educado”, conforme foi a minha observação primeira.
Apresentei-me, ofereci-lhe lugar no cadeirão ao lado do meu e perguntei se realmente estava seguro que me queria como terapeuta. Esta minha observação foi feita na sequência do olhar “estranho” de “medição”, que o senhor X fez, quando lhe estendia a mão para me apresentar.
Sentado, perna traçada e com gestos que me pareceram estudados, começou a falar baixo e pausadamente, como que cada palavra fosse de peso exagerado.
Falou-me da namorada, de quem estava separado desde havia dois anos; dos amores que se seguiram, curtos, fugazes e inconsequentes.
Até aqui nada me parecia estranho, contudo, aquele olhar proveniente de uns olhos cor de avelã, era muito ambíguo. Fez-me tremer e recordar aquele amor passado…
De repente, como que uma labareda de malabarista lhe saísse da boca, perguntou se estava muito doente, porque ultimamente, exibia o seu sexo em frente de mulheres baixas e gordas, masturbando-se simultaneamente, como se fosse o acto de maior satisfação que poderia ter. No momento só tinha a ideia fixa de agir dessa forma. Contudo, quando era insultado ou agredido é que caía em si, tapava-se e seguia o seu caminho.
Expliquei ao senhor X que o seu caso não era único e que embora tenham sido objecto de muito pouco estudo sistemático, por serem casos de maior interesse no campo forense e de saúde pública, por interferirem mais nessas áreas. Contudo, existem referências de tratamentos cognitivo-comportamentais, hormonais, psicodinâmicos e farmacológicos.
O senhor X olhou-me incrédulo uma vez mais e com uma espontaneidade que me surpreendeu, disse que já sabia que não mais ia ficar bom e que a qualquer momento não ia resistir às clientes da tabacaria do seu bairro…
Marquei nova sessão para daí a três dias. O senhor X pareceu-me estar consciente do problema que o afectava.
Somente com algumas sessões poderia definir a gravidade do estado deste cliente, pois que as formas mais graves de Parafilia podem ser persistentes e resistentes ao tratamento.
Continuei a assistir este paciente por seis meses.
14.05.05
domingo, maio 15, 2005
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