sábado, maio 28, 2005

FEIXES SILENCIOSOS

Que palavras existem mais fortes que o silêncio? Um silêncio tumular apenas cortado por um olhar profundo, são o suficiente para exporem o que no interior de ti grita… como entendo!

Jamais tentei aceitar, porque um querer forte começou a debater-se dentro de mim, desesperando os rios de sangue que percorrem os interiores desta caverna onde habito… e como custa aceitar que eles têm o que mais me julgava merecedora…

E eu vou gravitando neste universo sem estrelas rodopiando sob uma força incomensurável de atracção oposta… num pleno abandono, onde a palavra deixou de ser o elo de ligação para passar a ser o pólo negativo…

Que sentido faz sentido, quando o silêncio é a face oculta de um luar pardacento, onde outros astros que não estrelas, lutam pelo prazer de carnes amolecidas por deleites, distribuídos sem preceito… Que muito embora seja madrugada para serem divulgados, são sentidos em meu peito como um apedrejamento de malfeitores…

Se pelo menos houvera palavras, brotando com toda a sua força, desse interior rico de fantasias e múltiplas metamorfoses, na plenitude de todas as suas vertentes, então não esquecerias as minhas mensagens, não ocultarias os meus chamamentos, nem tão pouco dispersarias a tua atenção por mil outros recados aquando julgo que me vais abraçar… apenas sobes e sobes para que de um mais vasto horizonte me vejas com a insignificância que me atribuis…

Ao som desta melodia de uma história de amor, escrevo o que não digo a viva voz, o que o silêncio cala, porque todas as verdades são para ser caladas, porque as palavras sonorizadas ferem como zagaias envenenadas, quando são reveladoras de desprezo, de abandono, de incapacidade de traduzirem o que nos grita o silêncio dos neurónios em conflito…

Momentos há, em que estes corações se encontram. São momentos de plena existência, fazendo tudo todo o sentido, fazendo de nós os outros que não somos, mas que poderíamos ser, não fora o abandonarmo-nos num horizonte nublado, de palavras mudas…

E com a música continuando com um sentido, sem o sentido que já teve, deixo que os cristalinos sons se confundam com o som destes riachos de lágrimas límpidas, que choro enquanto escrevo palavras mudas, sem o significado que as palavras têm, se ditas e com um sorriso…

O desdizer do que dizes, sem perdão, é a minha mágoa constante. É o reavivar do que foi um sonho nunca realizado, é a minha derrota nesta guerra de sucessivas batalhas sangrentas e perdidas, em que resto como troféu do vencedor…

E não só as palavras me morreram na garganta como me gelaram as mãos e nem mais uma palavra consigo escrever… outra parcela de mim que se esvai como se fora a última gota de sangue que restava neste abandonado corpo, parco de vida e de sonhos…

28.05.05

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