Tenho de escrever! Tenho de dizer em palavras escritas o que me vai pela “imaterialidade de mim”… tenho de deixar que fios de tinta desenhem o que em pensamento são catadupas de ideias, sonhos, desilusões, ódios, esperanças e medos… tantos medos!
Tenho de arrumar as ideias. Tenho de não sentir esta dor que me deixa dormente. Tenho de dizer não ao que queria gritar que sim… tenho de pôr de parte o que tanto desejo…
Tenho de limpar os recantos obscuros do pensamento. Tenho de esquecer o que está presente em cada momento, em cada esquina, em cada janela, em cada chama que se enlaça nos madeiros de uma lareira… nas águas que correm Tejo abaixo, sempre sussurrando o teu nome…
Tenho de esquecer a ternura das tuas mãos, enlaçadas nas minhas, rua abaixo… ao sol de Maio… Tenho de esquecer as caminhadas ao longo da areia macia, mãos nas mãos… tenho! Tenho!
Tenho de não lembrar de novo os olhos teus. Tenho de esquecer o sortilégio que me causam. Tenho de dormir profundamente, para que os sonhos não me abanem o corpo e deixem que o meu suspiro se espalhe como o piar de uma coruja, noite adentro…
Tenho! Tenho! Tenho. Sempre tenho de ter algo que tendo, não tenho na realidade… Tenho sobretudo de dizer não a mim própria e deixar que se esvaiam todos os tenho de, que me oprimem e deixam que o desespero me domine, num deserto sem oásis…
Tenho de aceitar! Acreditar. Tenho de abdicar! Tenho de, de olhos abertos, apenas ver a escuridão que me abraça, que me aperta, que me sufoca…
Mas… não tenho de viver ante o todo que me mata no cada dia que se espraia neste oceano da inexistência…
08.05.05
domingo, maio 08, 2005
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